Posso ficar devendo 10 centavos?
por Daniel Portillo Serrano
22/02/2003
A cena é mais comum do que possa
parecer. A loja oferece uma
promoção de um produto qualquer
a R$ 9,90. O consumidor
aproveita a oportunidade e
adquire o produto. Ao chegar ao
caixa, paga a mercadoria com uma
nota de 10 Reais. O caixa não
tem troco. A operadora de caixa,
com uma calma e tranqüilidade de
quem já decorou a frase, dispara
a pergunta já formulada milhares
de vezes: "Posso ficar devendo
10 centavos?". O consumidor com
a mesma calma e tranqüilidade de
quem já recebeu essa proposta,
também, inúmeras vezes se
conforma e, invariavelmente,
aceita que a poderosa loja de
departamentos fique lhe devendo
dez centavos.
Imaginemos, no entanto, uma
outra cena: O produto custa R$
10,10 e na hora de pagar o
consumidor entrega uma nota de
dez ao caixa e pergunta a mesma
coisa: "Posso ficar devendo 10
centavos?". Com certeza, a
resposta vai ser não. Isso se o
consumidor fizer a pergunta,
porque na maioria dos casos, se
uma pessoa não tem dinheiro
suficiente para efetuar uma
compra, nem pensa em adquirir o
produto e propor ao varejista a
dívida do dinheiro que falta.
Por que então o varejista se
propõe a isso? Por que não
arredondar o preço do produto?
Existem diversas razões:
a) Poucas pessoas pagam com
dinheiro e a maioria das vendas
é feita com cheques, cartões da
própria loja ou cartões de
débito e crédito.
b) Dez Reais podem ser
matematicamente 10 centavos a
mais do que 9,90, mas na cabeça
do consumidor, "9 Reais e alguma
coisa" é quase um real a menos
de economia (que na verdade se
perde quando o caixa não devolve
o troco: neste caso, 9,90 é
igual a 10...)
c) "Ficar devendo 10 centavos" é
uma atitude do caixa.
Normalmente um profissional que
opera com milhares de Reais por
dia. Neste caso o que são 10
centavos?...
d) O Varejista, em si muitas
vezes não fica sabendo dos
incidentes no caixa. Quando não
há troco, o operador de caixa,
para evitar problemas, abre a
sua própria carteira e entrega o
troco ao consumidor do seu
próprio bolso, não sem antes
fazer uma cara de "tome seus dez
centavos, seu mesquinho".
e) Desde a época em que a
hiper-inflação foi banida do
Brasil, fomos acostumados a
pensar que as moedinhas têm
muito valor. Talvez por isso,
guardemos as ditas em casa, e
sempre falte troco nos Caixas.
Hoje eu fui tomar um café.
Custava R$ 1,20. Paguei com uma
moeda de R$1,00 e outra de R$
0,25. A caixa não tinha os cinco
centavos para me devolver.
Quando eu já estava esperando a
fatídica pergunta: posso ficar
devendo... A caixa me tirou dos
meus devaneios, devolvendo-me a
moeda de 0,25 e dizendo: "Não
tenho troco. Depois o senhor me
dá os vinte centavos". Sem saber
como agir e perplexo pela
atitude da atendente eu disse:
"Não. Fique com a moeda e você
fica me devendo cinco centavos".
Saí do café com a auto-estima em
alta, mas com uma leve sensação
de já ter visto essa cena antes.
Daniel Portillo Serrano é Palestrante, Consultor e Professor. Bacharel em Comunicação Social com ênfase em Marketing Pela Universidade Anhembi Morumbi, e pós graduado em Administração de Empresas pelo Centro Universitário Ibero-Americano - Unibero, Mestre em Administração de Empresas pela Universidade Paulista - UNIP. É consultor de Marketing e Comportamento do Consumidor e editor dos sites Portal do Marketing e Portal da Psique . Tem atuado como principal executivo de Vendas e Marketing em diversas empresas do ramo Eletroeletrônico, Telecomunicações e Informática. É professor de Marketing, Administração, Estratégia, Comportamento do Consumidor e Planejamento em cursos universitários de graduação e pós-graduação. Contato: daniel@portaldomarketing.com.br .