Riscos ou Incertezas
Por Wagner Herrera
19/07/2007
Etimologia
Procuro sempre quando leio, estudo ou
escrevo, ter o dicionário apoiando o
processo de aprendizagem, posto que
inúmeras são as transgressões aos
conceitos léxicos do que o pretendido
por alguns autores. Outrossim, ocorre o
entendimento por falsa sinonímia, enfim,
equívocos que levam-nos a interpretações
errôneas prejudicando o entendimento ou
a comunicação.
Abaixo, na acepção do dicionário Houaiss
vêem-se os conceitos dos termos que nos
interessam caracterizar neste artigo:
• Risco: fr. risque (séc. XVI) 'perigo,
inconveniente mais ou menos previsível',
‘probabilidade de insucesso, de malogro
de determinada coisa, em função de
acontecimento eventual, incerto, cuja
ocorrência não depende exclusivamente da
vontade dos interessados’
• Incerteza: ‘falta de certeza; dúvida,
hesitação, indecisão, imprecisão,
ambigüidade’, ‘difícil de entender, de
precisar; que tem (ou pode ter)
diferentes interpretações; ambíguo,
vago, dúbio, obscuro’.
Enquanto termos técnicos, são
conceituados como:
• Risco: “estado do conhecimento no qual
cada alternativa leva a um conjunto de
resultados, sendo a probabilidade de
ocorrência de cada resultado conhecida
do tomador de decisão”. (Boucinhas)
• Incerteza: “estado do conhecimento no
qual cada alternativa leva a um conjunto
de resultados, sendo a probabilidade de
ocorrência de cada resultado não é
conhecida do tomador de decisão”.
(Boucinhas)
Natureza das variáveis
Riscos e incertezas traduzem-se, no
passado, em alegrias ou decepções por
acertos ou erros nas decisões tomadas;
no presente, são fatos que refletem
lucros ou perdas e, no futuro, são
preocupações do planejador, do tomador
de decisões na análise da presença
dessas variáveis.
Tememos dois exemplos para caracterizar
os conceitos:
1. Pular de um barrando ou saltar um
obstáculo: nessa situação, nosso cérebro
avalia várias condições –força muscular,
resistência da estrutura óssea, peso,
preparo físico, altura ou distância do
obstáculo e daí, nos lançamos ou não.
Sabemos do risco de saltarmos dois
metros ou de saltamos de um prédio de
dez andares. Calculamos o risco e
assumimos as conseqüências resultantes
da ação, sabemos da probabilidade de
sucesso do evento e criamos um plano
alternativo ou assimilamos o prejuízo,
que também é calculado.
2. Encontramo-nos no meio de um
tiroteio, um assalto ao banco onde
estamos, por exemplo: não temos controle
algum sobre a situação extremamente
caótica. Qual a probabilidade de sermos
atingido? Se atingido, qual a chance de
sobrevivência? Então, ficamos deitados
ou escondidos, nos abrigamos e
descartamos medidas ousadas como correr
ou enfrentar! A imprevisibilidade da
situação não permite a criação de
“planos B” nem calcularmos ou prevermos
as chances de ocorrências. Aceitamos a
incerteza como um evento não
controlável, um “acidente de percurso” e
nos sujeitamos ou não. Deixaremos de
entrar num banco ou andar na rua?
A terminologia técnica impede o uso
inapropriado de termos com significados
ambíguos, que dão margem à
interpretações ou atitudes errôneas e
desastrosas. Num diálogo descomprometido
aceita-se abusos no vernáculo, mas em
assuntos técnicos é imprescindível
esmero na utilização correta de
vocábulos, posto que encerram conceitos
específicos.
Gerenciamento de Risco
O PMI (Project Management Institute) –
associação mundial de gestores de
projetos - coloca entre as nove áreas do
corpo do conhecimento de projetos, o
gerenciamento de Riscos como de vital
importância no sucesso destes.
O planejador – o tomador de decisões –
deve avaliar os riscos nas atividades
componentes, saber das probabilidades de
ocorrência de riscos, criar planos
alternativos, medidas neutralizantes,
principalmente quanto aos fatores
críticos de sucesso (FCS) – pressupostos
de situações tidas como certas de
existirem / ocorrerem para que as
medidas ensejadas se viabilizem ou nas
atividades que estão no caminho crítico
(sem folgas) e portanto impedidas de
sofrerem atrasos. Essa antevisão
esperada do planejador não se dá por
adivinhações (predição1) e sim por
previsões2 fundamentadas em séries
históricas, por lições aprendidas ou
projeções3.
Gerenciamento de Incertezas?
É factível? Na análise das variáveis de
mercado (SWOT) os analistas financeiros
e econômicos encontram fórmulas de
cálculo para criação de indicadores do
“risco país” (ou “incerteza país”!),
movimentos de bolsas de valores e outros
situações que classificamos de
“especulativas”. É exeqüível calcular a
tendência em épocas de mudança política
no governo? Alguém poderia prever que o
presidente Collor provocaria um “choque”
na economia? E quanto à cenários de
regiões com “risco” (incerteza!)
eminente de guerra? Ou sujeita às
incertezas climáticas? Porém, as ameaças
(incertezas) no mercado e no ambiente
não cessarão, ainda mais em tempos de
mudanças aceleradas como nesta era do
conhecimento, visto que as mesmas não
estão sob controle de ninguém nem
tampouco conhecem-se os fatores de
probabilidade, portanto há que se
precaver da melhor forma possível.
Conclusão
Tanto os riscos quantos as incertezas
merecem tratamento preventivo dos
empreendedores, porém de formas
diferenciadas, pois uma linha muito
tênue os separa. Se não houver
planejamento o caos estará instalado e o
resultado do impacto está na capacidade
de absorção da organização, e se criadas
as devidas defesas, as turbulências
serão amenizadas.
Glossário
1 Predição: situação em que o futuro
tende a ser diferente do passado, mas a
empresa não tem nenhum controle sobre o
seu processo e desenvolvimento.
2 Previsão: esforço para verificar quais
serão os eventos que poderão ocorrer ou
registrar uma série de probabilidades.
3 Projeção: situação em que o futuro
tende a ser igual ao passado.
Wagner Herrera é Graduado em Ciência da
Computação e Engenharia de Producao na
Universidade Mackenzie (SP) e
pós-graduação em Administração
Estratégica no IESC- Instituto de Ensino
Superior Camões (Ctba-PR)