A Simplicidade das Coisas
Por Jerônimo Mendes
11/05/2009

Apesar do discurso negativo que ronda o ambiente corporativo em todos os níveis hierárquicos, sou um motivador por natureza e sempre considero que as coisas são melhores do que aquilo que os nossos olhos enxergam. Quase sempre, as aparências enganam, para o bem e para o mal, mas um pouco de boa vontade nos faz enxergar as coisas sob ângulos diferentes, de maneira positiva, quando assim desejamos.

Obviamente, isso não invalida a percepção de que a natureza humana, sob pressão ou influência da opinião alheia, é incapaz de distinguir o ambiente em que se encontra e, por conta disso, faz coisas que até Deus duvida, como diz o dito popular. O mundo poderia ser muito mais simples e aprazível na prática, porém as pessoas apresentam enorme facilidade para complicar as coisas.

Na medida em que o ser humano se desenvolve e os modelos mentais são estabelecidos surgem as dificuldades, as desavenças, a ganância, a competição, o ódio, a intolerância, a inveja e o desejo de ser ou de ter aquilo que os outros têm, a qualquer custo. Somos descontentes por natureza. Temos tudo e não temos nada ao mesmo tempo. Nossas necessidades estão sempre onde nossa mente tem mais dificuldade de alcançar. Queremos provar a todo instante que nossas opiniões valem mais, nossas idéias são melhores, nossos cargos são mais importantes, nossos filhos são mais inteligentes, porém não temos a mínima disposição para elogiar as idéias nem escutar as opiniões alheias.

Por conta de maus exemplos recebidos, da falta de diálogo no convívio familiar e, quase sempre, da ausência de princípios, alguns se acham melhores ou mais importantes do que outros, outros se consideram menos favorecidos, alguns são literalmente discriminados, outros são complicados por natureza. E assim, lamentavelmente, as pessoas vão construindo uma trajetória de erros ou insucessos sem fundamento nem justificativa que mereça o menor desperdício de energia.

Infelizmente, nem todos conseguem perceber como esses equívocos são nocivos para o seu desenvolvimento e, dessa forma, conseguem arranjar inimigos por onde quer que passem. Quando se tem princípios fica mais fácil. Princípios universais valem para todas as cores, credos, povos e nações. Paz, amor, ética e respeito deveriam ser incorporados logo nos primeiros anos de vida das pessoas e seguir com elas até o último suspiro. Isso facilitaria um bocado as coisas.

Por que razão algumas pessoas são felizes mesmo vivendo de maneira simples enquanto outras não conseguem expressar um sorriso apesar de todas as benesses que a vida lhes oferece? De onde vem essa predisposição humana para a o sofrimento gratuito, a maldade, a inveja, a intolerância, o racismo e a violência, em todos os sentidos? Por que tamanha cegueira diante do óbvio?

A natureza competitiva do ser humano impulsiona, limita e condiciona ao mesmo tempo. Nosso desejo de melhorar de vida é legítimo em todos os sentidos, afinal, estamos aqui para isso, entretanto, isso não nos dá o direito de tripudiar a condição alheia ou de sobrepujá-la em favor dos nossos interesses. A vontade é universal, o bom-senso também.

Por força da profissão, tenho a oportunidade de conversar diariamente com um número razoável de pessoas de diferentes organizações, escolas, cidades e universidades do meu círculo de relacionamento. E também por diferentes razões, noto que as pessoas estão sempre reclamando das outras, do sistema, da vida, do chefe, dos colegas, do salário, dos pais, dos filhos, dos parentes, daquilo que ainda não tem ou mesmo do que elas têm de sobra, mas não lhes agrada.

Uma flor não precisa mais do que umas gotas de chuva e um dia de sol para demonstrar sua beleza e gratidão ao universo. Um cachorrinho não precisa mais do que um simples estalar de dedos para abanar o rabo e se sentir feliz. Um rio não precisa mais do uma chuva periódica para cumprir sua missão de contornar os obstáculos e atingir o oceano. Um pássaro não precisa nada mais do que algumas bicadas na água e um pouco de sementes para passar o dia cantando.

Assim como a natureza, o mundo é relativamente simples. Amar para ser amado, comer para sobreviver, poupar para conquistar, estudar para progredir, pensar para decidir, cuidar para preservar, exercitar para manter a saúde, semear para colher, respeitar para ser respeitado, compartilhar, ser feliz com o que Deus lhe dá todos os dias e, principalmente, oferecer aos outros o tratamento que gostaríamos de receber.

O ser humano em geral recebe muito mais do universo do que uma flor; é tratado com mais respeito do que os animais; é dotado de inteligência para contornar mais obstáculos do que os rios; entretanto, está longe de conhecer a sua própria natureza a fim de viver uma vida mais alegre, simples e condizente com a sua realidade.

A vida pode ser mais simples do que imaginamos. Coisas básicas como “parabéns”, “bem-vindo”, “bom-dia”, “por favor”, “muito obrigado”, “como vai” e “feliz aniversário”, ao vivo e a cores, fazem uma enorme diferença no mundo de hoje, onde os valores essenciais estão sendo esquecidos ou trocados pela frieza das mensagens eletrônicas, dos relacionamentos virtuais e da competição desenfreada por um lugar ao sol como se o sol não tivesse nascido para todos. Pense nisso e seja feliz!


Jerônimo Mendes é Administrador, Consultor e Palestrante
Autor de Oh, Mundo Cãoporativo! (Qualitymark) e Benditas Muletas (Vozes)
Mestre em Organizações e Desenvolvimento Local pela UNIFAE