Do Marketing ao Marketing
Eleitoral e as Estratégias Políticas
Por Admir Borges
14/09/2007
Introdução
No cenário político atual é praticamente impossível
pensar em eleições sem a participação efetiva da
estrutura e das ferramentas do marketing. O denominado
marketing político, ou eleitoral, passou a ser mais
conhecido no Brasil a partir da década de 1990, com o
trabalho desenvolvido para a eleição de Fernando Collor
de Mello e o início de estudos acadêmicos sobre as
técnicas utilizadas no pleito de 1988. Com isso, as
campanhas deixaram de ser intuitivas para utilizar
recursos cada vez mais sofisticados de planejamento e
estratégias. As campanhas contam hoje com profissionais
capacitados para interpretar pesquisas, prever cenários
e trabalhar as mensagens e a imagem do candidato, de tal
forma que se consiga suprir as expectativas do eleitor.
O processo de marketing eleitoral
A complexidade do processo de comunicação no segmento
eleitoral tem como finalidade criar um cenário das
múltiplas possibilidades de um mundo desejável, em que o
cidadão poderá acreditar na realização dos seus sonhos.
Assim sendo, no período eleitoral a efetividade das
estratégias parece ter mais fluidez e a competição pelo
voto se configura nas retóricas e na persuasão. O
político que tiver a capacidade de convencer um
contingente maior de eleitores sobre sua competência em
concretizar os sonhos da população será bem sucedido.
Antes de se chegar à sofisticação do convencimento e
entrega do voto, o eleitor é levado a enxergar o
político como um objeto de consumo, tal como acontece
nas estratégias dos produtos que prometem preencher os
vazios existentes na vida das pessoas. Com isso, os
candidatos buscam a ajuda do chamado marketing político
e da propaganda el eitoral, para conseguir uma melhor
construção de sua imagem, que vai dos itens da aparência
física até o discurso mais palatável, passando pela
programação visual de sua campanha. Os estrategistas
trabalham com o raciocínio de que o comportamento
eleitoral estabelece um processo de comunicação de mão
dupla, onde os candidatos e eleitores utilizam um
sistema dialógico para estabelecerem um pacto
fundamentado na troca de intenções. O político sabe que
uma comunicação bem elaborada será capaz de atrair a
atenção das pessoas, conquistando votos suficientes para
conseguir sua vaga.
Dessa forma, o termo marketing passou a ser utilizado
como jargão e denominação para as atividades
relacionadas a uma eleição, através de técnicas antes
adotadas pelo mercado consumidor. Criou-se a disciplina
marketing político, questionada por autores e
pesquisadores, bem como por profissionais
mercadológicos. Segundo Botelho (2002), é preciso
responder se o marketing na política está sendo usado de
forma correta, ou configura-se numa simples ferramenta
de maquiar e de iludir, uma vez que o conceito de
marketing atual explica a necessidade de relações de
longo prazo entre fornecedor do produto e o usuário, em
que a satisfação através qualidade e a confiança deve
ser permanente. “Um dos principais objetivos do
marketing é cada vez mais, desenvolver relacionamentos
profundos e duradouros (...) tem como meta construir
relacionamentos de longo praz o, mutuamente
satisfatórios.” (KOTLER, 2006, p.16).
O “produto” político é algo intangível e duvidoso no que
diz respeito aos resultados, pois a proposta de trabalho
e atuação que é “vendida” só poderá ser efetivada e
consumida ao longo de quatro anos. O eleitor compra algo
sobre o qual não terá controle e influência, nem a
chance de exigir a troca. Este fator acompanhado da
desconfiança do cidadão estabelece uma relação troca um
tanto complicada, exigindo do estrategista um correto
posicionamento e uma possibilidade de diferenciação para
que o político deixe de ser apenas mais um no jogo
eleitoral. .Fazer marketing político deveria significar
a obtenção da satisfação das necessidades e desejos da
comunidade. O reforço do conceito de que a representação
política é o alvo principal de uma campanha e ocupação
de um cargo público, torna-se objeto de análise por
parte dos pesquisadores. No marketing clá ssico isso
pode ser associado ao trabalho que as empresas devem
fazer para garantir um produto de qualidade e a
segurança do consumidor.
O candidato é o elo de ligação entre as causas públicas
e o eleitor. É a primeira vitrine dos partidos, das
ideologias, das estratégias de marketing e de seus
ideais. O candidato é o conteúdo, é um contexto amplo
entre partido, ideologia, vida e sua participação na
vida social. (www.assessoriapolítica.com).
O que se vê, no entanto, é uma transformação nos laços
de representação política onde o candidato objetiva o
estabelecimento de uma relação que confira poder sob a
égide da espetacularização e do modelo de mensagem
(SANTOS, 2006). Isso mostra que não há evidencia que
garanta a existência do conceito de marketing na
política, pois prevalece o imediatismo da vitória nas
urnas e não um planejamento consistente de longo prazo.
Pela ótica das técnicas do marketing que se pratica no
mercado, faz-se necessário buscar uma discussão sobre as
diametralidades controvertidas do marketing eleitoral,
avaliando seus reflexos a partir da agenda e plataforma
política, passando pelas estratégias de persuasão e
propaganda nas diversas mídias, bem como a predição e
influencia da pesquisa.
Todas as estratégias de marketing se baseiam em crenças
implícitas ou explícitas sobre o comportamento do
consumidor. As decisões que se baseiam em premissas
explícitas e em teorias e pesquisas bem fundamentadas
têm maior probabilidade de ser bem-sucedidas do que as
decisões que se baseiam apenas em palpites e intuição
(...) Não é possível antecipar e reagir às necessidades
e aos desejos dos clientes sem um conhecimento completo
do compartimento do consumidor. Descobrir as necessidade
dos clientes é um processo complexo, mas às vezes pode
ser conseguido por meio de uma pesquisa de mercado.
(HAWKINS; MOTHERSBAUGH; BEST, 2007, p. 6 e 10) Conforme
os estudos existentes, os componentes do marketing
eleitoral são a pesquisa de mercado, o conceito, a
estratégia utilizada pelo candidato e o plano de
comunicação. O estudo do mercado é a base do processo,
pois para poder influenciar os eleitores e saber para
quem o candidato deve dirigir sua mensagem é necessário
conhecê-los muito bem, saber como eles pensam e como
tomam as suas decisões de voto. A mensagem pode ser
transmitida na forma da comunicação pessoal e da
comunicação não pessoal. Mesmo que a comunicação pessoal
desenvolvida por um candidato e seu partido demonstre
ser mais eficaz do que a comunicação massiva, a grande
mídia pode configurar-se no mais importante estímulo da
comunicação pessoal. A comunicação de massa afeta
atitudes e comportamentos individuais através de um
processo de fluxo em duas etapas: as idéias fluem do
rádio, da televisão e da imprensa escrita para os
formadores de opinião e destes para os grupos de pessoas
menos envolvidos com a mídia. A internet é a mais nova
ferramenta de com unicação e interatividade com o
eleitorado, principalmente com os formadores de opinião.
Os políticos que trabalham com a internet estão
utilizando a propaganda viral como forma de boca-a-boca,
para atrair a atenção e interagir com as pessoas.
Segundo Kotler (2006), especialistas advertem que,
embora os influentes ou “alfas” originem tendências, são
muitas vezes introspectivos e socialmente alienados para
disseminar corretamente as informações. Por outro lado,
os profissionais de marketing e propaganda
política/eleitoral precisam tomar certos cuidados na
hora de atingir o eleitor, pois ele pode não estar de
acordo com uma comunicação não solicitada, ou invasiva.
O mix de comunicação apresenta, ainda, outros canais não
pessoais, como promoções, patrocínios, eventos e
relações públicas. O candidato pode construir sua imagem
com o auxílio da criação ou patrocínio de eventos, tais
como: esportivos, cultu rais e ambientais, além das
formas de entretenimento.A seleção de canais eficientes
para a transmissão da mensagem se torna cada vez mais
difícil à medida que o Código Eleitoral fica mais
rigoroso e os canais se mostram mais fragmentados e
congestionados. As proibições da Lei Eleitoral forçam o
profissional e o político a buscarem alternativas
eficientes para fazer chegar suas mensagens até o
público-alvo da candidatura.
Pode-se afirmar que a propaganda, como ferramenta do
marketing eleitoral, é capaz de exercer algum efeito
sobre a intenção do voto, mas é preciso identificar
quando, como e com que dimensão a publicidade contribui
para a construção da vontade eleitoral (FIGUEIREDO,
2000). Certo é que os meios de comunicação e a
propaganda são indispensáveis para a eficiência desse
marketing, pois além de facilitar a propagação das
mensagens, também inserem na mente de cada indivíduo a
aceitação das propostas do candidato.
Conclusão
O chamado marketing político/eleitoral é constructo e
disciplina introdutória muito recente na política
brasileira, por isso mesmo transformado em objeto de
especulação e “achismos”, gerando desinformação e
controvérsia quanto a sua natureza, seu mecanismo, sua
abrangência e seus resultados. O marketing eleitoral,
através do aperfeiçoamento das ferramentas e adequação
das técnicas, acompanha as alterações do ambiente
político, a percepção e as demandas do eleitorado.
Diferentemente do que se pensa sobre esta disciplina, o
marketing atual provoca um raciocínio mais profissional
por parte dos políticos, que devem começar a levar em
conta o longo prazo, o planejamento sustentável de sua
carreira e imagem, o comprometimento, a ética e a
verdade. Esses podem ser considerados os ingredientes
necessários e integrantes da trajetória exitosa da
democracia moderna, que objetivam eleger seus
representantes de forma responsável e que cumpram os
compromissos apresentados durante a campanha. Neste
panorama, os políticos candidatos precisam utilizar as
estratégias corretas para construir uma imagem
verdadeira com vistas ao relacionamento de longo prazo
com a comunidade.
Referências
BOTELHO, Joacy M. et al. O marketing político e a
apropriação da retórica. Brasília: Intercom,
2006.FIGUEIREDO, Marcus., “Mídia, Mercado de Informação
e Opinião Pública”, in C. Guimarães e Chico Júnior
(orgs.), Informação e Democracia. Rio de Janeiro,
Editora da UERJ, 2000HAWKINS, Del L.; MoTHERSBAUGH,
David L.; BEST, Roger J. Comportamento do consumidor:
construindo a estratégia de marketing. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2007.KOTLER, Philip. Administração de
marketing. São Paulo: Prentice Hall, 2006.Marketing
Político. Disponível em : www.assesoriapolítica.com.
Acesso em 05 de set. 2007)SANTOS, Célia M. R. G. et al.
Determinantes comunicacionais do marketing
político/eleitoral. São Paulo: Unesp, 2005.SORJ,
Bernardo. Internet, espaço público e marketing político.
Disponível em: www.bernardosorj.com . Acesso em 01 set.
2007.