As 5 grandes fases de uma empresa
Por Raúl Candeloro
15/12/2008
Uma coisa pouco compreendida pela maioria dos empresários e
executivos é que suas empresas e também suas equipes de vendas são
organismos “vivos”. Nascem e crescem, evoluem ou morrem.
De acordo com Larry Greiner, que escreveu em 1972, na Suíça, um
artigo até hoje considerado um dos grandes clássicos da gestão –
Evolução e Revolução no Crescimento das Empresas – existem
fundamentalmente cinco grandes fases numa empresa:
1) Criatividade: ao abrir uma empresa, ou formar uma equipe de
vendas:
- todas as forças são canalizadas para abrir o mercado;
- iniciativa, proatividade e criatividade para lidar com poucos
recursos e carga intensa de trabalho;
- atividades administrativas são negligenciadas – o que interessa é
faturar;
- a equipe atua próxima dos clientes e reagem rapidamente à
concorrência.
Todas essas características são fundamentais no começo, mas também
são as causadoras dos problemas que impedem a empresa de crescer. Um
número maior de vendedores começa a entrar e nem sempre o gerente
consegue dar a atenção que dava antes. A comunicação, antes
puramente informal, já não pode continuar assim: a rotatividade da
própria equipe faz com que os novos vendedores, que não conhecem
todo o passado da empresa, passam a querer fazer também as coisas do
seu jeito.
Surge então a primeira crise, que é a da liderança. Quem vai
organizar e maximizar os resultados da equipe? Essa crise de
liderança é que leva à segunda fase, que é a da direção.
2) Direção: as empresas que sobrevivem à primeira crise e conseguem
se organizar geralmente passam por um período muito fértil de
crescimento:
- atividades passam a ser mais especializadas;
- departamentos são criados para cuidar de coisas específicas e
liberar os vendedores para fazer o que sabem fazer, que é vender;
- estruturas de remuneração e incentivo são criadas formalmente;
- comunicação passa a ser mais formal, pois crescem os níveis
hierárquicos, as responsabilidades e o número de pessoas na equipe;
- o gerente reina supremo na equipe, recebendo uma responsabilidade,
mas geralmente também bastante liberdade na forma de cumpri-la.
Embora canalize melhor os esforços da equipe e seja um grande avanço
em relação à fase anterior, trazendo benefícios financeiros
evidentes, logo fica claro que o distanciamento que é criado entre a
liderança da empresa e os clientes pode trazer problemas sérios. A
equipe passa a exigir mais liberdade para agir e decidir (negociando
descontos, por exemplo). O problema é que a equipe não foi treinada
para decidir estrategicamente e não entende como suas decisões de
curto prazo afetam resultados e lucratividade da empresa.
Muitas empresas vão à falência nessa fase, por reagirem de forma
negativa: tentando centralizar tudo em vez de delegar, treinando a
equipe adequadamente para lidar com as novas responsabilidades. Por
não querer perder o poder, muitos líderes limitam severamente a
forma como oportunidades são reconhecidas/aproveitadas, alimentando
de forma direta o surgimento de concorrentes.
3) Descentralização: o próximo passo do ciclo de crescimento é o da
delegação/descentralização:
- começam a se criar responsabilidades e divisões mais claras dentro
da equipe: separação por territórios, tipo de cliente etc.
- a remuneração é atrelada não apenas a volumes de venda
(faturamento) mas à qualidade (lucro);
- a gestão de pessoas é feita pela exceção: os que vão
excepcionalmente bem são bem recompensados, os que vão mal são
advertidos ou punidos, e o pessoal do meio vai levando;
- a comunicação/controle da gerência passa a ser feita de maneira
mais distante (por telefone/e-mail e breves visitas) para ver como
andam as coisas.
A delegação é muito positiva, porque estimula as pessoas de níveis
mais baixos a darem idéias e “vestirem a camisa”. É como se eles
fossem os donos de sua própria miniempresa. Isso seria ótimo se não
começasse a causar um grave problema: a descoordenação entre áreas
importantes da empresa.
Justamente por terem liberdade, muitos departamentos e profissionais
começam a achar que seus objetivos pessoais são mais importantes do
que os corporativos. Feudos internos são criados e a falta de
coordenação cria a terceira crise, que é a do controle. A forma
errada de lidar com isso é tentar novamente centralizar tudo. A
forma correta de evoluir é procurar a coordenação.
4) Coordenação:
- criam-se estruturas formais (comitês) para coordenar atividades
dentro e fora da empresa;
- surgem as grandes linhas de produtos/serviços;
- contratam-se pessoas para uma estrutura gerencial cuja única
função é cuidar e supervisionar a coordenação dos departamentos;
- investimentos passam a ser avaliados pelos comitês e decididos de
acordo com discussões estratégicas sobre posicionamento, retorno e
risco.
Todos esses sistemas de coordenação ajudam a empresa a continuar
crescendo através da alocação mais eficiente dos seus recursos. Os
comitês ajudam a desenvolver a visão estratégica dos participantes,
encorajando-os a olhar além do seu próprio departamento. O problema
que começa a surgir aqui é o excesso de burocracia, com muitos
relatórios e demasiadas reuniões. Procedimentos e padrões começam a
engessar a criatividade e a iniciativa, destruindo a inovação dentro
da empresa. O excesso de burocracia e a lentidão causam um conflito
e nós leva à quinta fase, a da colaboração.
5) Colaboração: para vencer a forte burocracia:
- começam a surgir dentro da empresa grupos paralelos informais que
colaboram para resolver em conjunto os problemas causados pelo
engessamento e excesso de regras;
- ao invés de comitês formais, migra-se para o formato de “times”,
criados rapidamente para resolver uma situação ou cuidar de projetos
específicos. Uma vez resolvido o problema ou terminado o projeto,
desmonta-se o time e criam-se outros para resolver coisas distintas.
A quinta fase é a mais flexível e evoluída das fases. Treinamentos e
programas educacionais técnicos fazem parte da rotina da empresa.
Informações financeiras, vendas, lucratividade, etc. são públicas e
discutidas com freqüência. A remuneração é mais voltada para os
resultados do grupo do que resultados individuais. Experimentar
novas práticas e idéias de gestão é fortemente estimulado.
Uma empresa para crescer tem de passar por todas essas fases, nessa
ordem. Cada uma tem o seu porquê de ser,e ao mesmo tempo que resolve
defeitos da fase anterior, também cria seus próprios problemas,
obrigando a empresa a evoluir – ou morrer. E evoluir é
desconfortável, pois nos obriga a questionar práticas que deram
certo no passado, mas que podem afundar a empresa no futuro.
Com base nessa evolução que acabamos de apresentar, um bom líder
saberá reconhecer o momento pelo qual está passando, prever as
dificuldades à frente e estrategicamente tomar as medidas
preventivas (e proativas) necessárias. Saberá também reconhecer que
o perfil de gerenciamento muda com a evolução da própria empresa. E
o mais importante: entenderá que existe um ciclo natural e que, ao
não evoluir, a empresa cava sua própria cova. Obter maus resultados
e até falir geralmente é efeito da incompetência em avaliar e reagir
corretamente ao ciclo evolutivo.
Em que ciclo sua equipe/empresa está?
Raúl Candeloro (raul@vendamais.com.br) é palestrante e editor das
revistas VendaMais®, Motivação® e Liderança®, além de autor dos
livros Venda Mais, Correndo Pro Abraço e Criatividade em Vendas.
Formado em Administração de Empresas e mestre em empreendedorismo
pelo Babson College, é responsável pelo portal www.vendamais.com.br.