Classes Populares sem Blá Blá Blá
Por Sandra Turchi
07/06/2010
Muito temos ouvido sobre como alcançar o público de baixa renda nas
nossas ações de marketing, mas ainda há um longo percurso a ser
traçado para se entender sua dinâmica.
Há inúmeras empresas se preocupando em criar itens diferenciados,
com quantidades menores, novas embalagens, para assim reduzir o
valor dos produtos. Há muitos acadêmicos pesquisando e teorizando
sobre o assunto, definindo perfis, criando modelos, etc…Mas isso é
pouco, muito pouco, pois continua existindo uma distância enorme
entre essas ações e a realidade que cerca essas pessoas, na verdade
existe um grande abismo entre aquelas que desenham essas estratégias
e as que as consomem.
Apesar da realização de inúmeras pesquisas, voltadas para penetrar
nesse mundo, por meio de quaisquer métodos, sejam entrevistas ou por
uma “falsa” convivência com as famílias de baixa renda, a distância
quilométrica ainda permanece. Esse abismo se reflete em diversos
pontos de ‘não-contato’, como a cultura, o vestuário, o gosto
musical, a estética, os lugares freqüentados, enfim, quase tudo é
diferente. E obviamente isso interfere na forma como consomem
produtos, crédito, serviços e cultura.
Basta observar as construções de casas na periferia da cidade, para
se perceber uma estética completamente diferente, com pouca
preocupação com o visual, até mesmo porque, não há verba disponível
para se elaborar uma decoração, por exemplo.
Ou então, observe a multidão de trabalhadores apinhados dentro dos
trens da cidade, indo para os seus respectivos trabalhos. Veja o que
eles vestem, veja o que eles levam nas bolsas, ou sacolas. Veja como
eles se alimentam, o que levam nas marmitas, veja como falam e como
se comportam. Enfim, é preciso colocar o olhar muito mais próximo da
realidade da vida dessas pessoas, do que apenas ler um relatório ou
ver uma apresentação fria de alguma pesquisa, usando seu relógio
Longiness, com seu terno Armani, indo trabalhar no seu Audi,
almoçando em algum restaurante fino do Itaim.
Para conhecer esse público, de verdade, as empresas poderiam
contratar pessoas provenientes desses grupos para integrar suas
equipes, e trazer essa realidade para dentro da empresa, decifrando
um pouco mais desse grande labirinto. Mas é claro que isso é bem
difícil, não é?! Até mesmo porque, essas pessoas têm um nível de
escolaridade mais baixo, o que dificulta a convivência, em alguns
casos, gerando até certa intolerância por parte dos atuais membros
do time! Além disso, como foi dito acima, esse grupo tem gostos é
hábitos bastante diferentes, o que mais uma vez, impacta na
convivência, tornando-a mais complexa. Outras vezes exige que a
empresa complemente sua formação, para preencher certas lacunas.
Não quero que minhas palavras pareçam preconceituosas, mas essa é a
realidade: enquanto continuarmos a tratar esses grupos como: “eles
lá, nós cá”, tudo continuará parecendo muito falso.
A receita não é fácil, mas é necessária.
Sandra Turchi é graduada pela FEA-USP, pós-graduada pela FGV-EAESP e
MBA pela Business School São Paulo com especialização pela Toronto
University e em empreendedorismo pelo Babson College em Boston. É
superintendente de Marketing da Associação Comercial de São Paulo
(ACSP) instituição que administra o SCPC (Serviço Central de
Proteção ao Crédito). Site: www.sandraturchi.com.br - Twitter:
http://twitter.com/SandraTurchi