Clientes Difíceis
Por Carlos Alberto de Faria
02/01/2009
"Não é fácil ter paciência
diante dos que têm excesso de paciência."
Carlos Drummond de Andrade
Todos nós já ouvimos falar de clientes difíceis.
Eles existem. No entanto...
Toda organização é montada visando entregar algo a alguém.
A decisão de receber, comprar, ao até procurar em alguns casos,o que
a organização produz e entrega é do cliente.
Nós vivemos nesta época em que quase tudo pode ser encontradoem
livros, auto-ajuda para isto e aquilo, seja isto ou aquilo o quevocê
procura ou necessita.
No Boletim da semana passada, falamos sobre a prevalência
doconhecimento, nos dias de hoje, mas que, em nossa opinião,
essaprevalência, é falsa.
As neurociências dizem-nos, hoje, - leia o livro “O Erro de
Descartes”, de Antônio Damásio - que a emoção e os sentimentos têm
um papel preponderante nas decisões, mesmo naquelas ditas “mais
objetivas”, tomadas por juízes, engenheiros, médicos e outros tipos
de profissionais que, a princípio, espera-se deles, trabalhem com a
razão.
O problema é que as regras da auto-ajuda servem no varejo, pela
média, mas quando se tem que “enfrentar o touro a unha”, no calor da
batalha pelos clientes, neste mercado competitivo, a média só faz
com que se esqueça de todo o pessoal que não comunga essa média. E
eles são muitos... e preciosos.
O que funciona com um cliente, ou a regra que funcionou aqui,não
necessariamente funciona com o outro cliente, e pode também não
funcionar lá.
Isso se deve ao cliente “camanguru”, numa imagem criada pelo homem
de marketimg Francisco Alberto Mádia de Souza, dizendo que o cliente
é uma mistura de camaleão (muda de cor de acordo com o ambiente) e
vive pulando de um lado para o outro.
A realidade é que as pessoas são, intrinsicamente, diferentes. E
elas próprias diferem ao longo do dia, enquanto representam os seus
diversos papéis (pai ou mãe, profissional, leitor, amante de comida
chinesa, esposo, crente de tal religião, jogador de futsal,
apreciador de vinhos, etc., etc., etc.).
O Brasil é um país onde a diversidade é uma característica forte,
construída pelo clima, relevo, colonização, política, educação, e
outras tantas causas.
A mobilidade do mundo moderno trouxe a mistura dessa diversidade.
Vamos imaginar que estivéssemos em um mundo fictício, onde todos os
clientes sejam do perfil médio, quase iguais.
Seria uma maravilha? Não seria?
Nem tanto, nem tanto...
Se todos os clientes fossem iguais ou, ao menos, previsíveis, a
posição de atendimento dos clientes, vendedores, consultores,
telefonistas e outras tantas profissões, não precisaria de pessoas
tão capacitadas quanto você é, e esses outros são.
Um simples anotador de pedidos seria suficiente, ou até mesmo a
substituição desse atendente humano por uma máquina.
O que você aprenderia, na sua atividade de contato com o público, se
todos fossem previsíveis? Se você fosse um simples anotador de
pedidos, qual seria o seu salário?
Se encararmos o cliente difícil como uma oportunidade de entender e
adaptar melhor nossos serviços ao nosso público, deixamos de encarar
esse cliente como uma crise, e passamos a tratá-lo como uma
oportunidade.
Nós, enquanto trabalhamos com o público, não temos o direito de ter
expectativas sobre o perfil do cliente que virá ser atendido por
nós.
A moral, os bons costumes e o respeito são necessários, e jamais se
deve abrir mão deles. Mas em termos de expectativas, temos o direito
a tão somente isso: moral, bons costumes e respeito.
O que torna o mundo desafiante é a diversidade. E uma grande tarefa
que temos é entender, aceitar e trabalhar com as diferenças, com os
diferentes.
Essa forma de ver não é somente um desafio, mas nos coloca como
aprendizes no mundo em que vivemos. E, principalmente, reforça a
nossa própria e única individualidade: o outro tem o direito de ser
quem ele é, assim como eu tenho o direito de ser quem eu sou!
Há um artigo imperdível intitulado:
"Ensinando Pessoas Inteligentes a Aprender", de Chrys Argyris,
publicado na Harvard Business Review, de maio-junho de1991. Há
diversos livros traduzidos pela Campus, da HarvardBusines Review
Books, que possuem esse artigo, entre eles, este:
"Aprendizado Organizacional", vários autores, Campus, 2000.
Aprender é um dos mais importantes sintomas de se estar vivo.
Há pessoas que não aprendem e estão vivas, mas em estado quase
vegetativo, apesar de andarem com suas próprias pernas. Com certeza
você conhece pelo menos uma pessoa com este perfil, não conhece?
Os clientes difíceis são aqueles que fazem você crescer, aprender e
a ser mais forte a cada dia.
Clientes difíceis?
Clientes difíceis são desafiadoramente ótimos!
Carlos Alberto de Faria é sócio diretor da Merkatus - Fonte:
Merkatus