Desempenho Financeiro
Por Nori Lucio Jr.
17/04/2009
Orçamento é Matemática não Entusiasmo
O orçamento mapeia as fontes de investimentos,
receita e despesa necessários para serem
implementadas as estratégias definidas no “plano de
negócios”. Portanto, os objetivos, estratégias e
táticas devem estar sincronizados com o planejamento
financeiro, formando juntos um “plano de negócios”
crível e que tenha o apoio de todos os níveis da
empresa.
O efeito contrário é também o mais comum, ou seja,
construir um orçamento baseado meramente na planilha
do diretor financeiro. Neste caso torna-se um
exercício unilateral e inflexível e, como
conseqüência, perde-se credibilidade e tende-se a
desaparecer ao longo do tempo, pois tem pouco ou
nenhum valor agregado.
Mas cuidado para que o “poder do entusiasmo” de
gestores mal preparados “mate sua empresa de fome”.
Não cometa o erro de embasar o orçamento em
premissas intangíveis como:
· Dobrar as vendas , sem saber como financiá-las.
· Investir muito agressivamente em marketing, sem
alocar os fundos compatíveis com o plano.
· Dobrar a margem , se sua empresa está num mercado
altamente competitivo e “comoditizado” e não têm bem
definidas outras fontes de faturamento com maior
margem.
O ideal é seguir obcecadamente os objetivos
definidos no “plano de negócios”. Sendo assim, os
investimentos serão priorizados nas áreas que
realmente farão a diferença, diferença competitiva!
Na construção do plano financeiro é necessário mais
disciplina do que propriamente conhecimento
financeiro. São quatro as ferramentas básicas:
* Premissas e comentários;
* Balanço;
* DRE (Demonstrativo de Resultados);
*
Fluxo de caixa.
Negligenciar estas ferramentas pode causar à sua
empresa sérios problemas, cuja resolução quase nunca
virá a tempo de salvá-la da extinção.
Quanto maior a empresa, maior a necessidade de
planejamento a longo prazo. No entanto,
independentemente do tamanho, projete no mínimo 12
meses.
Depois do orçamento pronto, não dá para relaxar.
O acompanhamento e a disciplina orçamentária são
essenciais na busca pela liquidez, mais importantes
que o lucro. O que “quebra” uma empresa é a falta de
liquidez. Empr esas são inviabilizadas
financeiramente mesmo apresentando lucros contábeis.
O contrário também é verdadeiro, ou seja, empresas
muitas vezes recorrem ou “jogam” com vários bancos
para conseguir o capital que precisam a fim de
operar o caixa.
COMO BUSCAR CAPITAL?
Os capitais de terceiros provêm basicamente de duas
fontes: os não-espontâneos ou aportes. Os não
espontâneos são tomados normalmente no banco sob
condições bem definidas de juros, prazos para
amortização, etc... Os bancos exigem que os
empréstimos sejam pagos de qualquer maneira e podem
levar a empresa à falência.
Já o capital de terceiros que entra na empresa como
aportes por parte dos acionistas ou mediante a venda
de um imóvel, por exemplo, mesmo que possam exigir
retorno atrelado ao lucro, não levam a empresa à
falência.
POR ONDE COMEÇAR?
Um bom começo é listar as premissas básicas que
regem o negócio e servem também de referência
rápida. Alguns chamam de “pulso” da empresa. Estas
premissas são os pré-requisitos mínimos necessários
para que o negócio seja lucrativo.
1. Comissões sobre vendas: máximo de 10% sobre a
margem gerada
2. Custo de armazenagem: entre 1% e 2% sobre o valor
do estoque
3. Custo do frete: entre 1% e 3%, dependendo da
localização e urgência
4. Dias de giro-de-estoque: média de 20 dias
5. Custo da mercadoria vendida: inferior a 35% do
preço final de venda
6. Venda a crédito: inferior a 30% do total das
vendas. Prazo máximo de 60 dias
7. Inadimplência: inferior a 1%
1. (*) Elabore uma política cautelosa de concessão
de crédito
8. Capacidade de tomada de empréstimo em bancos: R$
2.000.000,00
9. Taxa de juros bancários: inferior a 1,5%
10. Custo fixo: inferior a 20% sobre a margem gerada
11. Dólar máximo esperado: US$ 1 = R$1,80
12. Inflação máxima esperada: 4,5% ao ano
O passo seguinte é elaborar as projeções de venda e
principalmente a rentabilidade.
Para esta complexa tarefa, é fundamental projetar
cenários, visto que a empresa pode vender à vista,
vender a prazo e ao mesmo tempo, ter que gerenciar a
compra de matéria-prima, custear a produção, manter
estoque, pagar o salário dos funcionários e ainda
gerar, mesmo que pareça uma tarefa quase impossível,
lucro.
Criar cenários, não significa que a empresa deva ter
dez orçamentos. O ideal mesmo é investir tempo em
fazer um único orçamento com premissas sólidas,
cuidadosas e matematicamente analisadas sem, o
“poder de entusiasmo”.
O DRE, demonstrativo de resultados, funciona mais ou
menos como plano de vôo para os acionistas.
Esta ferramenta ajuda a manter o controle sobre
receitas, custos e despesas. Quanto menor a margem
da empresa, menor o espaço para erros e
negligências.
Por outro lado quando a margem da empresa é grande,
o perigo também “assombra o lucro”. Aumentam-se as
probabilidades de descontroles. Aumentam-se as
desculpas para justificar erros grosseiros de gestão
ou os erros ficam normalmente “maquiados” pela sobra
de dinheiro.
A regra a ser cumprida é a mesma, independentemente
da margem alta ou baixa. EVITE SURPRESAS!
Nos Estados Unidos e Europa, onde o mercado de
capitais é mais maduro, as empresas são glorificadas
ou penalizadas impiedosamente pelo mercado. O vilão
é chamado de Wall Street. Quando as empresas de
capital aberto erram ou não alcançam suas projeções
de vendas e lucro, o chamado forecast, suas ações
despencam. Os analistas de mercado de Wall Street
mudam o status da recomendação de “compra” para
“venda” e vice versa e têm ainda o poder de derrubar
CEOs que acabam caindo em descrédito.
No Brasil, o tema relacionado à “governança
corporativa” está se tornando cada vez mais
importante. Nunca se viram tantas empresas abrindo
seu capital, os chamados IPOs. O vilão por aqui,
inspirado pela atitude de Wall Street, é a Bovespa.
Para as empresas que queiram participar deste jogo,
o nome do jogo é previsibilidade.
Previsibilidade = Disciplina, Disciplina e mais
Disciplina!!!
PREENCHENDO O D.R.E.
RECEITA BRUTA
Receita bruta são as vendas totais da empresa. Na
prática é o dinheiro total que a empresa recebe como
resultados dos produtos vendidos sem nenhuma dedução
de nenhuma natureza. É a multiplicação entre
unidades de produto vendidas pelo preço de venda.
Este valor pode e deve contemplar provisões, ou
“colchões” dos mais diferentes tipos. Exemplo:
Provisão para flutuação do dólar, diferenças no
frete entre estados, etc...
(-) deduções de imposto, devoluções de produtos,
descontos
RECEITA LÍQUIDA
É o valor as vendas totais (-) as deduções.
Exemplo:
Receita Bruta de Vendas = 100.000,00
*
o
(-) Devoluções de Vendas = 10.000,00
o (-) Descontos Comerciais = 1.000,00
o (-) Impostos incidentes sobre vendas = 40.000,00
Receita Líquida = 49.000,00
Continuando...
(-) custo dos produtos vendidos
Estes custos estão relacionados à produção do bem ou
serviço. Os custos podem ser de várias naturezas,
fixos ou variáveis, mas sempre ligados ao processo
de produção.
LUCRO BRUTO
É resultado das deduções dos insumos. No caso de um
distribuidor ou varejo, as deduções estão
relacionadas ao produto acabado. No que concerne a
um fabricante, os insumos correspondem à matéria
prima.
Exemplo: continua....
Receita Bruta de Vendas = 100.000,00
* (-) Devoluções de Vendas = 10.000,00
* (-) Descontos Comerciais = 1.000,00
* (-) Impostos incidentes sobre vendas = 40.000,00
Receita Líquida = 49.000,00
* (-) Custos = 30.000,00
Lucro Bruto = 19.000,00
Um parêntese para entender dois conceitos
extremamente importantes.
MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO
* Margem é a diferença entre o valor da venda e o
total dos custos mais despesas.
* Contribuição representa quanto efetivamente sobra
de “dinheiro” da venda para pagar as despesas fixas.
*
Margem de contribuição unitária refere-se a quanto
cada produto ou serviço deve contribuir para pagar
as despesas fixas totais da empresa.
PONTO DE EQUILÍBRIO (ou BEP “Break Even Point”)
É o ponto em que o total das receitas é igual ao
total das despesas. Ou seja, onde o Lucro é igual a
zero.
financas.png
Veja que os custos fixos são estáveis e compreendem
a “capacidade de produção ou produtividade” da
empresa para gerar determinado volume de produtos ou
serviços. Quando a produção ou produtividade atinge
seu pico, é necessário aumentar sua capacidade,
portanto o custo fixo. Nesta fase o “ponto de
equilíbrio” muda de patamar exigindo um volume de
vendas maior e assim sucessivamente.
DRE – retornando...
DESPESAS
São os gastos administrativos e financeiros que não
estão relacionados ao processo de fabricação, mas
são fundamentais para operação como, aluguel,
telefone, luz, salário, etc. As despesas também
podem ser fixas ou variáveis.
O controle das despesas é fundamental para a
maximização do lucro. Normalmente estas despesas são
as que surpreendem, ou seja, é como na economia
doméstica, você tem tudo no orçamento, mas não sabe
onde o dinheiro foi parar, quando se dá conta de que
está no negativo no fim do mês.
(*) aqui entram as despesas de financiamento
bancário. Não se esqueça de lançá-las nesta etapa.
Os juros do financiamento bancário, lançados como
despesas, podem ficar um pouco menor, diferentemente
de aporte de capital por sócios.
LUCRO ANTES DO IMPOSTO DE RENDA
Não esqueça que, antes de “colocar o dinheiro no
bolso” tem que pagar o imposto de renda. Consulte a
tabela do IRPF para saber qual a alíquota correta.
Enfim... o LUCRO LÍQUIDO.
Exemplo: continua....
Receita Bruta de Vendas = 100.000,00
*
o
(-) Devoluções de Vendas = 10.000,00
o (-) Descontos Comerciais = 1.000,00
o
(-) Impostos incidentes sobre vendas = 40.000,00
Receita Líquida = 49.000,00
*
o
(-) Custos = 30.000,00
Lucro Bruto = 19.000,00
* (-) Despesas = 10.000,00
Lucro antes do IR = 9.000,00
*
o
(-) impostos
Lucro líquido = ( deve ser positivo! )
Não menos importante, aí vem a última ferramenta - o
FLUXO DE CAIXA
Esta ferramenta é fundamental para negócios que
vendem muito a prazo. E também é essencial para
novos negócios que “fantasiam” que vão receber de
seus credores tudo em dia, assim que vencerem as
faturas.
A empresa precisa tomar cuidados especiais nas
despesas que parecem pequenas e insignificantes, mas
que são verdadeiros “incineradores” de dinheiro, por
exemplo:
* Descontos especiais sem contrapartida em volume de
vendas.
* Créditos concedidos a maus pagadores conhecidos.
* Extensão de prazo de pagamento para o cliente sem
renegociar o prazo de pagamento com os fornecedores.
O exercício de fluxo de caixa é a diferença entre as
fontes de receita versus custos e despesas. De
preferência o resultado deve ser positivo! Utilize
qualquer formato que melhor se adapte à realidade da
empresa considerando:
A. FONTES DE ENTRADA
VENDAS À VISTA
% das vendas totais feitas à vista.
VENDAS A PRAZO
% das vendas totais feitas a prazo. Para fazer este
cálculo, encontre o prazo médio de vendas a crédito.
Se o prazo médio é 30 dias, o valor colocado neste
item está relacionado às vendas do mês anterior. Se
for de 60 dias, de dois meses atrás e assim por
diante. Aqui é exigido somente disciplina, o cálculo
continua simples. Apesar da simplicidade, é muito
fácil perder o controle e não saber quanto tem para
receber.
EMPRÉSTIMOS DE CURTO PRAZO
Total Banco A
Total Banco B
EMPRÉSTIMOS DE LONGO PRAZO
NOVOS APORTES
B. FONTES DE SAÍDA
(-) despesas gerais
(-) fornecedores
(-) salários
(-) comissões
(-) amortização de empréstimos
(-) outro
C. SALDO
Saldo da semana
Saldo acumulado
“Muitas vezes nós medimos tudo e não entendemos
nada. As três coisas mais importantes a medir em um
negócio são: a satisfação dos clientes, a satisfação
dos empregados e o fluxo de caixa.” - Jack Welch
Nori Lucio Jr. é fundador da brandMe, consultoria
especializada em planejamento estratégico. - 20 anos
de experiência na indústria de tecnologia, com
passagens pela gerência de marketing e comunicação
na Intel® e Microsoft®. Formado em marketing, com
especializações no Brasil e exterior, respondeu pelo
desenvolvimento de vários projetos relacionados a
construção de marca, marketing & comunicação e
desenvolvimento de canais de venda no Brasil,
América Latina e Estados Unidos.