Gestão do Conhecimento: Um diferencial competitivo aliado ao Marketing
Por Ducinete Gomes dos Reis, Rafael Cezar Souza Reis e Márcio Castelo Branco
Rabelo
17/01/2009
Desde os primórdios da civilização, o homem vem aperfeiçoando sua capacidade de
processar informações, por conta de sua necessidade de representar, tratar e
guardar dados, sobre tudo que o cerca a milhares de anos. Sendo que
paralelamente a esse processo, possibilitou-se também a construção do
conhecimento, que se tornou mais elaborado, sistematizado e metódico, ao ponto
de adquirir o status de científico. Atualmente, a questão do conhecimento tem
obtido uma centralidade relevante para a sociedade ocidental, denominada por
muitos ideólogos da pós-modernidade de sociedade do conhecimento. Esta situação
se observa marcadamente nas organizações empresariais, que se deparam com o
desafio de se manterem competitivas e atraentes para o mercado globalizado
exigente e diversificado na oferta de serviços, destacando-se várias estratégias
para demarcar diferenciais específicos entre organizações empresariais nesse
processo. Dentre as estratégias que objetivam atender a essas demandas do
mercado, destacam-se dois grandes aliados: a gestão do conhecimento e o
marketing, que configuram o objeto de investigação do presente trabalho
científico, o qual busca compreender de que forma ambos podem se constituir um
novo diferencial competitivo para as organizações empresariais contemporâneas,
evidenciando a pertinência e relevância da temática pesquisada. Ademais,
entende-se que a gestão do conhecimento não seja algo que se possa comparar, mas
sim uma ação estratégica competitiva aliada ao marketing, a qual as empresas
buscam, com objetivo de obterem um diferencial competitivo. Portanto,
objetiva-se conhecer de que forma a gestão do conhecimento aliada ao marketing
pode ser um diferencial competitivo para as empresas contemporâneas. Para tanto,
realizou-se uma pesquisa bibliográfica, onde as fontes de informações foram
coletadas em livros, revistas especializadas e periódicos, além do acesso a
sites disponibilizados pela Internet. Além disso, caracteriza-se como pesquisa
descritiva. Os resultados apontam que há muitos milênios, o homem vem
aperfeiçoando sua capacidade de processar e armazenar informações, tendo
exercido um papel marcante nesse aspecto, o advento da escrita, cuja civilização
fenícia consta sendo a pioneira na invenção de um sistema de desenhos que
representava sua linguagem, utilizando para cada palavra um símbolo. Desde
então, a humanidade vem se transformando sob os mais variados aspectos (SMOLE,
1999). Contudo, deve-se considerar que tal processo é possível devido a uma
característica fundante do homem: sua inteligência – a capacidade de pensar
teleologicamente, ou seja, o homem é o único ser capaz de refletir sobre sua
ação. O que implica na capacidade deste homem (humanidade) de compreender o
mundo e suas mudanças de hoje, do passado fazendo prospectivas acerca do futuro
(SMOLE, 1999). E tanto é verdade a afirmação acima que, atualmente o produto
científico tem tido um peso tremendo no cotidiano das pessoas, apesar de que a
ciência (conhecimento sistematizado, metódico e deliberado) é uma instância
relativamente recente na história, já que seu processo de superação do mundo
mitológico se deu paulatinamente, pois a modalidade de conhecimento científico
no ocidente tem pouco mais de 2.500 anos (CORTELLA, 2001; ROCHA NETO, 2003).
Pode-se então, afirmar que o termo conhecimento, pode ser definido da seguinte
forma “[...] o ato ou efeito de conhecer; a idéia, noção; a informação, notícia,
ciência; a prática da vida; experiência; o discernimento, critério, apreciação;
a consciência de si mesmo; acordo; a pessoa com quem travamos relações; o
documento escrito, declaração ou recibo de que consta ter alguém em seu poder
certas mercadorias; a nota de despacho de mercadorias entregues para transporte;
o recibo de parcela de contribuição direta; o sentido mais amplo, atributo geral
que têm os seres vivos de reagir ativamente ao mundo circundante, na medida de
sua organização biológica e no sentido de sua sobrevivência; a posição, pelo
pensamento, de um objeto como objeto, variando o grau de passividade ou de
atividade que admitam nessa posição; a apropriação do objeto pelo pensamento,
como quer que se conceba essa apropriação; como definição, como percepção clara,
apreensão completa, análise. (SHIGUNOV NETO; TEIXEIRA, 2006, p. 223)”. A idéia
de formas diferentes de conhecimento foi introduzida no mundo dos negócios por
dois grandes pensadores da arena de gestão do conhecimento, a saber: Ikujiro
Nonaka e Hirotaka Takeuchi no início da década de 1990, onde destacaram a
distinção entre o conhecimento explícito e o tácito. O primeiro é aquele capaz
de ser expresso facilmente pelos indivíduos, utilizando as diversas formas de
linguagem e de comunicação. Já o tácito é aquele difícil de converter em
informação, sendo necessário que se torne explícito para que seja mais útil para
um sistema organizacional (BUKOWITZ; WILLIAMS 2002). Segundo Shigunov Neto e
Teixeira (2006) o que se pretende com a gestão do conhecimento é tirar proveito
da melhor maneira do conhecimento tácito e o conhecimento explícito de uma
organização. Esse aproveitamento do conhecimento explícito nas organizações é
mais fácil, pelo seu caráter codificável, transitando de forma relativamente
clara nas organizações. A possibilidade de administrar conhecimentos,
competências e mudanças vêm sendo discutida, no entanto, com maior intensidade
na última década, tanto por instituições de pesquisa e desenvolvimento, quanto
em empresas ou em outras formas organizacionais, tendo gerado um novo
vocabulário e muitas polêmicas. A maturidade organizacional, a estrutura
hierárquica e de responsabilidade, a cultura, os valores e a missão do negócio
são aspectos importantes para as empresas direcionarem suas ações de manutenção
do capital intelectual, definindo sua prioridade. De forma geral, pode-se
conceituar gestão conhecimento nesta seguinte definição, ou seja, a gestão do
conhecimento diz respeito ao processo pelo qual a organização gera riqueza, a
partir do seu conhecimento ou capital intelectual. Tal riqueza ocorre quando uma
organização utiliza o conhecimento para criar processos eficientes e efetivos,
tendo impacto nos resultados financeiros. Para Rocha Neto (2003), a gestão do
conhecimento inclui a prospecção sobre o futuro, organização do saber explícito,
administração de programas de qualidade, gestão da tecnologia, além de cuidar da
desaprendizagem/aprendizagem organizacional, que se referem ao desuso de
práticas obsoletas e incorporação de novos conhecimentos. Destaca-se ainda que a
gestão do conhecimento envolve a proteção dos direitos de propriedade
intelectual, uso de patentes e outros aspectos legais. O referido autor se
refere ainda ao termo gestão estratégica do conhecimento enquanto um processo de
administrar, que compreende: a identificação de ativos especiais – portfólio de
competências, que conferem identidade à organização; relação de estratégias de
aprendizagem organizacional; mobilização e complemento dos recursos disponíveis,
para a realização de objetivos coletivos. Desse modo, pode-se verificar que a
implantação coordenada da Gestão do Conhecimento pode criar uma vantagem
competitiva sustentável e de difícil imitação, pois está enraizada nas pessoas
que trabalham na empresa, e não em recursos físicos, facilmente imitáveis pelos
concorrentes e menos flexíveis para reagir às incertezas do ambiente (SILVA,
2004). Para Kotler (1998) o conceito de marketing é uma filosofia empresarial
que para atingir as metas organizacionais consiste em ser mais eficaz do que a
concorrência para integrar as atividades de marketing, satisfazendo necessidades
e desejos do mercado-alvo, que se constitui em um dos quatro pilares de
fundamentação do marketing, sendo os outros três: necessidades dos consumidores,
marketing integrado e rentabilidade. Desse modo que relações se estabelecem
entre o marketing e o conhecimento e sua respectiva gestão? Para Rodriguez y
Rodriguez (2001), a resposta a essa questão passa pela observância de que os
profissionais do marketing precisam de informações sobre seu ambiente, e de
forma especial de informações sobre seus clientes e concorrentes, necessitando
saber também de que forma o mercado atual tem respondido a um composto de
marketing atual e quais seriam as supostas reações às suas mudanças. Surge, no
bojo dessa discussão, a evidência de que os gestores têm admitido com mais
freqüência o apoio da gestão do conhecimento ao marketing, porém poucos
reconhecem que a primeira possa se beneficiar das atividades de marketing, que
emerge sendo não apenas de produto, mas, sobretudo de conhecimento,
caracterizando no entanto, uma tendência incipiente, mas crescente, que se
configura num novo desafio aos profissionais. Trata-se do marketing do
conhecimento, que é incorporado à área de marketing, se envolvendo e se
comprometendo com a gestão do conhecimento, auxiliando as estratégias dessa
última nas empresas, que são motivadas por pressões competitivas. Dessa forma,
as empresas que trabalham nessa perspectiva vêm relacionando trabalhos
relevantes à gestão do conhecimento (gestão da demanda e oferta do
conhecimento), procurando estruturar e organizar as entregas de conhecimento aos
clientes, elaborando estratégias mercadológicas para o conhecimento, visando
tornar visível o diferencial por competências e por capital intelectual aos
serviços executados pela área de marketing. Diante do exposto pode-se, somente a
título de norteamento, definir marketing de conhecimento como “atividade que
considera a venda não só do resultado do saber (produtos e serviços), mas a
‘venda’ do ‘próprio’ conhecimento e do modo como ele é criado, alavancado,
produzido, compartilhado, utilizado, embalado e entregue pelas empresas,
extraindo proveito dos possíveis diferenciais que cercam sua gestão e do modo
como eles são percebidos e valorizados pelo mercado. Este marketing de
competências (se preferir), acima de tudo, seguirá a tendência de valor do
saber. Ao contrário dos produtos e serviços, o marketing do conhecimento em seus
trabalhos considerará e enfatizará o conhecimento e o capital intelectual e se
empenhará em torná-los evidentes e transparentes ao público alvo de interesse
(FIGUEIREDO, 2003, p. 02)”. Outrossim, a definição confirma que a área de
marketing além de se beneficiar da gestão do conhecimento pode também ajudá-la e
que, marketing não é só de produto, mas também de conhecimento, caracterizando
este último, uma tendência incipiente, mas crescente, tornando-se um novo
desafio aos profissionais, o marketing do conhecimento, também incorporado pela
área de marketing, passará a se envolver e comprometer-se com a gestão do
conhecimento. Ademais, o marketing de conhecimento deve tornar visível ao
público-alvo quais os ativos intelectuais mais valorizados pelo mercado e
clientes ou que fariam a diferença entre eles, divulgando e publicando os
diferenciais competitivos baseados na competência e no conhecimento dos talentos
da empresa que poderiam despertar a atenção do mercado, tornando visível a esse
último o valor associado às competências essenciais da empresa. Deve ainda
enfatizar o conhecimento coletivo organizacional admirável e de alto valor
requerido pelo mercado, tornando evidente para o mesmo a contribuição do capital
intelectual das pessoas ao sucesso da empresa, devendo também vincular e
comunicar ao público externo a real contribuição dos ativos intangíveis no
alcance dos resultados financeiros, na obtenção das melhorias de processos, na
satisfação e fidelização de clientes, no desenvolvimento de soluções de
vanguarda e da inovação, na obtenção da criatividade, na retenção e atração dos
recursos humanos, mostrando aos compradores potenciais, investidores e talentos
que se querem atrair, indicadores relacionados a qualidade do capital
intelectual da empresa ligado à idéia de eficiência, competência, crescimento,
alcance de resultados, capacidade de invenção e criatividade, satisfação dos
clientes, transferência e uso do conhecimento, qualidade das soluções,
intensidade de relacionamentos, registro de patentes, intensidade de pesquisas e
aplicação, eficácia, desenvolvimento técnico, adaptação, qualidade de produtos e
serviços, capacidade de aprendizado e inovação, criação de novos produtos,
valorização da companhia no mercado, capacidade lucrativa e de negócios. Pode-se
concluir que o marketing do conhecimento é por si um programa, que se soma ao
programa de gestão do conhecimento e com ele deve crescer alinhado e coerente,
uma vez que a competência na empresa é colocada a prova a todo instante e neste
sentido, tudo precisa ser e estar completamente coeso aos anúncios e campanhas
que venham promover. Ele continua exercendo influência positiva nos resultados
da companhia de maneira indireta, pela produção e percepção de seu valor, o que
é um desafio a ser atingido pelo marketing do conhecimento que, por sua vez,
torna evidente o capital intelectual da empresa e quando confirmado na prática
por todos, pode desempenhar um papel muito importante e produzir efeitos ainda
maiores, influenciando e formando opinião favorável, que normalmente resultam na
percepção de alto valor da companhia e de suas ofertas, possibilitando,
concretizando o objetivo da construção do diferencial competitivo pautado no
incentivo, na promoção e divulgação deste ativo intangível, tornando-o capaz de
atrair público.
REFERÊNCIAS
BUKOWITZ, Wendi R.; WILLIAMS, Ruth L. Manual de gestão do conhecimento. Porto
Alegre: Bookman, 2002.
CORTELLA, Márcio Ségio. Humanidade, cultura e conhecimento. In.: A escola e o
conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos. 4 ed. São Paulo: Cortez;
Instituto Paulo Freire, 2001. (Coleção Perspectiva; 5)
FIGUEIREDO, Saulo Porfírio. O marketing do conhecimento:
alinhamento mercadológico dos ativos intelectuais, 2003. (Disponível em:
<http://www.kmol.online.pt/artigos/200301/fig02_1.html>). Acesso em: 3 out.
2007.
KOTLER, P. Administração de marketing: análise, planejamento, implementação e
controle. São Paulo: Atlas, 1998.
ROCHA NETO, Ivan. Gestão do conhecimento e competências: administrando
incertezas e inovações. Brasília, DF: ABIPTI, UCB/Universa, 2003.
RODRIGUEZ Y RODRIGUEZ, Vicente Martins Rodriguez y. Gestão do conhecimento:
reiventando a empresa para uma sociedade baseada em valores intangíveis. Rio de
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SHIGUNOV NETO, Alexandre; TEIXEIRA, Alexandre Andrade. Sociedade do conhecimento
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Múltiplas, n. 1.