A Imagem de uma Organização
Por Ernando Melo
19/11/2010
“Quanto tempo se leva para construir uma imagem corporativa?”.
Começa assim a entrevista do filósofo Mário Sérgio Cortella, ao
Especial IT Fórum 2010 (realizado de Abril deste ano).
A questão provocativa nos remete a fala de Cortella durante o evento
e a entrevista. Parece extremamente óbvio este assunto, mas há
muitas questões que necessitam de vigorosa reflexão.
Durante a entrevista, Cortella nos lembra que a Toyota, a maior
empresa do mundo no setor automobilístico, perdeu US$33 bilhões de
valor depois de anunciar um recall para 8 milhões de veículos. Logo
uma empresa japonesa, originária de um país que resolveu quebrar um
paradigma simples do setor automobilístico nos anos 70, como
construir veículos confiáveis, duráveis, com padrões de qualidade
acima da medíocre normalidade. Foi apenas isso que fez crescer a
indústria japonesa de veículos: a sinceridade.
Posteriormente, o executivo Akio Toyoda, neto do fundador da Toyota
e futuro presidente da companhia, fez uma análise do atual momento.
A constatação foi a seguinte: “…algumas pessoas ficaram ambiciosas
demais e excessivamente focadas no lucro”.
Os demais executivos da Toyota, incluindo Katsuaki Watanabe ,
vice-presidente do conselho, devem estar rindo até hoje de Akio. O
lucro é a única coisa real que uma companhia realmente persegue ao
longo da vida, disseram os homens do alto escalão da companhia. Akio
discorda. Para ele o mais importante é o nome da companhia e a
imagem do seu avô Kiichiro Toyoda, fundador da empresa.
Akio Toyoda não está só em suas convicções, ao lado dele estão todos
os consumidores do mundo, que não suportam mais companhias que
desprezam todos os demais valores na busca pelo lucro. O senhor Akio
fez confusão apenas em um detalhe de extrema importância: não foram
“algumas pessoas” da empresa que ficaram ambiciosas demais, foi a
própria Toyota e, por consequência, os fundadores que cometeram
esses erros.
Os consumidores não são capazes de reconhecer executivos e outras
figuras importantes de uma empresa gigante, ou dar maior importância
a suas lutas intestinas. Eles conhecem apenas os nomes das empresas.
Essas histórias edificantes das empresas do nosso tempo nos remetem
automaticamente a lógica dos negócios atuais. Quantas empresas são
capazes de entregar de forma gratuita uma parte dos melhores
produtos a clientes, como forma de recompensá-los pela simples
atitude de ter lhes dado sua preferência de forma incondicional?
Quantas empresas são audaciosas o suficiente para considerar que
parte dos lucros não é mais que um produto social que precisa ser
dividido com os clientes de forma irmana e sem restrições?
Talvez seja este um tipo de desprendimento inconcebível em nossa
modernidade. O tipo de desprendimento que só é capaz de fazer
sentido para quem ama de verdade aqueles que são o fruto de
progresso e de riqueza.
Ernando Melo é Professor e Coordenador do curso de Administração de
Empresas do UNISAL – SP
http://ernandomelo.blogspot.com/