A Importância da Persuasão na Advocacia
Por Ari Lima
14/01/2010
Desenvolver sua competência retórica deve ser um dos principais
objetivos do advogado que almeja o sucesso
“Seja um bom ouvinte. Incentive os outros a falar sobre eles
mesmos”. Dale Carnegie, no livro Como fazer amigos e influenciar
pessoas
A capacidade de influenciar pessoas sempre foi um dos fatores de
sucesso na advocacia. Desde os mais remotos tempos, os juristas com
grande capacidade retórica se sobressaíam nos tribunais apelando
para o poder da oratória, ora vencendo causas difíceis, ora
construindo relacionamentos e influenciando a sociedade. Grande
parte dos advogados consagrados têm em comum uma grande capacidade
de persuasão.
Dada a importância estratégica da persuasão para alcançar o sucesso
no setor jurídico, cabe aos advogados conhecer melhor esta ciência e
procurar aperfeiçoá-la, tornando-a uma ferramenta útil tanto no
exercício da profissão quanto na conquista e fidelização de
clientes.
Embora seja um termo pouco usado no dia a dia, e conceito raramente
difundido na literatura, a persuasão tem um poder incalculável, e
pode ser utilizada tanto para realizações nobres quanto para enganar
as pessoas. Profissionais como médicos, advogados, engenheiros,
sacerdotes e políticos podem praticá-la para influenciar
positivamente seus clientes ou seguidores, assim como vigaristas,
maus políticos e comerciantes inescrupulosos utilizam-na para
ludibriar pessoas de boa fé.
A origem da palavra persuasão vem do latim, “persuadere”, que
significa aconselhar, ou numa tradução livre, “aconselhar alguém até
que este concorde em fazer o que queremos”. Muitos confundem
persuadir com convencer, mas é um engano, pois são conceitos bem
diferentes. Enquanto convencer é derivado da palavra “vencer”, e
significa que o convencido foi, antes de tudo, “vencido” pela
argumentação oposta, persuadir, ao contrário, significa aconselhar,
levando a pessoa a realizar alguma ação.
Uma pessoa pode estar convencida da importância de realizar alguma
atividade, e, no entanto, não fazer nada a respeito. O advogado pode
tentar convencer o cliente de que seu escritório tem as melhores
condições para atender as necessidades dele, no entanto, de nada
valerão todos os argumentos apresentados, pois o cliente só
contratará o serviço se for persuadido a fazê-lo.
Ao contrário do convencimento e da imposição pela autoridade ou
força física, a persuasão lida com a vontade das pessoas. Ela se
estabelece através de uma comunicação suave e elegante. A pessoa
persuadida age de acordo com a vontade do persuasor, mesmo que seu
intelecto não esteja convencido da verdade ou da importância do
assunto. Por isto, a persuasão é uma arma poderosa e ao mesmo tempo
perigosa. Quem não conhece inúmeros exemplos de políticos que, mesmo
sendo reconhecidamente corruptos e mal intencionados, ainda assim
vencem eleições sobre candidatos íntegros e honestos?
A persuasão é uma técnica que pode ser aprendida por qualquer pessoa
através de treinamento. Assim, podemos afirmar que a persuasão é uma
ciência, pois seus conceitos acompanham uma lógica, têm uma
estrutura e, portanto, pode ser desenvolvida. Na verdade
praticamente todas as pessoas têm alguma capacidade de persuasão, e
a utilizam diariamente para tentar conseguir algo daqueles com quem
convivem. Claro que alguns têm esta habilidade inata bem mais
desenvolvida que outros.
Podemos dizer que a persuasão tem também um lado artístico, pois
quando aprendemos a utilizá-la de maneira natural, graciosa e
inconsciente, sem mesmo pensarmos que estamos persuadindo alguém,
ela se torna uma arte. Todos nós conhecemos inúmeros exemplos de
comerciantes, vendedores, líderes religiosos, políticos e, porque
não dizer, vigaristas, que tem uma “lábia”, muito eficaz. São
pessoas que possuem uma comunicação poderosa, que envolvem os
interlocutores com seus “conselhos”, e acabam conseguindo exatamente
o que querem.
O velho golpe do “bilhete premiado”, aplicado por vigaristas há
décadas, é um exemplo clássico do poder nefasto da persuasão. Mas
também podemos citar inúmeros casos de líderes que, com seu carisma
e poder de persuasão, conseguem motivar as pessoas, mobilizando-as
para realizarem feitos e superar dificuldades em momentos difíceis.
Dois exemplos clássicos são os lideres Martin Luther King e Mahatma
Gandhi que operaram revoluções pacificas em seus países, sem
utilização de qualquer poder ou força, apenas usando a palavra
falada.
Os maiores persuasores são, antes de tudo, grandes conhecedores da
alma humana. Eles conseguem fazer uma “leitura” do pensamento e dos
sentimentos das pessoas, descobrindo seus desejos e necessidades,
muitas vezes ocultos, e baseados neste entendimento utilizam
argumentos que irão influenciá-los.
O presidente Getúlio Vargas, foi um mestre na arte de persuadir.
Existem varias histórias a seu respeito, mostrando sua arte de
influenciar as pessoas.
Getúlio conhecia profundamente a natureza humana. Ele sabia que era
inútil criticar e contradizer os outros. Era hábito seu prestar
atenção às pessoas, interessar-se pelos seus problemas, dar razão a
todos e, no final, as pessoas fazerem o que ele queria.
Quais são as principais técnicas para tornar-se persuasivo?
Aristóteles, que no capítulo II de seu livro Arte Retórica, definia
a retórica como “a arte de descobrir o que há de persuasivo em cada
assunto”, nos mostra três caminhos para a persuasão: primeiro
devemos apelar para a vontade das pessoas, depois para a
sensibilidade e por último para a inteligência. Determinadas pessoas
se guiam mais pela vontade, outras pela sensibilidade e algumas
predominantemente pela razão e inteligência.
Ele defendia que devemos sempre apelar para os três
aspectos da psicologia humana, mas dar ênfase àquele em que a pessoa
for mais influenciável.
Para nos tornarmos persuasivos, é preciso, também, observar dois
aspectos principais da comunicação interpessoal: A forma e o tipo de
linguagem.
A forma como nos comunicamos desempenha papel fundamental no
processo, pois é importante, desde o início, conquistarmos a
simpatia de quem vai ser persuadido. Através da postura corporal,
dos gestos e
do tom de voz, é possível conquistarmos confiança e
credibilidade.
Já o conteúdo da persuasão deve ser comunicado numa linguagem
adequada ao tipo de pesoa que estamos tentando persuadir. Por
exemplo, pessoas humildes preferem que falemos numa linguagem
simples, e pessoas cultas são mais sensíveis a uma linguagem
intelectual. Alem disto, é preciso atingir o lado emocional destas
pessoas, falando de coisas agradáveis e estimulando suas paixões.
Cada pessoa é mais bem influenciada por determinados aspectos
num processo de persuasão. Fazendo uma generalização, com o objetivo
de demonstrar este processo, diríamos, por exemplo, que as mulheres
tendem a ser mais influenciadas por argumentos que demonstram beleza
e sensibilidade, enquanto que, para persuadir comerciantes, devemos
apelar para argumentos práticos como ganho financeiro, por exemplo.
No caso dos magistrados, a melhor forma de persuadi-los é apelar
para argumentos que envolvam justiça, credibilidade, honra, o bem
comum e as leis.
A persuasão nos tribunais
É conhecida a fama de grandes juristas que utilizam a dramatização
no
tribunal do júri para influenciar jurados e até os juízes em suas
alegações. O que eles fazem, essencialmente, é apelar para o lado
emocional das pessoas. É o caso de um dos mais famosos advogados
criminalistas do Brasil, o falecido jurista Dr. Evandro Lins e
Silva, que chegou a ser ministro do Supremo Tribunal Federal. Era
famosa sua capacidade oratória nos tribunais.
A importância da persuasão para juízes e promotores
A persuasão é cada vez mais importante em praticamente todas
as áreas do Direito. Hoje em dia não é mais possível conseguir
cooperação das pessoas através da força, da imposição ou fazendo
valer a hierarquia; esta época está superada. O termo “manda quem
pode,
obedece quem tem juízo”, não encontra mais espaço nos dias atuais.
Juízes e promotores, que criarem o hábito de utilizar o poder da
persuasão para conseguir a cooperação das pessoas, obterão melhores
resultados e terão menos atritos de relacionamento, sem
prejudicar sua autoridade. A capacidade de persuasão de promotores e
juízes pode, por exemplo, facilitar muito a conciliação entre as
partes de um processo, evitando demandas longas e custosas para o
serviço público e para todos os envolvidos.
A importância da persuasão no relacionamento com o cliente
O relacionamento adequado com os clientes pode ser uma das
principais táticas de marketing jurídico para um advogado. Uma
comunicação persuasiva promove relacionamentos excelentes e
duradouros, e possibilita que o profissional consolide sua marca e
obtenha continuamente indicação de novos clientes. Além disto, a
persuasão ajuda o advogado a obter maior cooperação de seus
contratantes durante o processo, evitando eventuais atritos ou
estresse gerados por determinados processos.
Que argumentos evitar durante a persuasão
Uma das maneiras de um orador tornar-se eloqüente e persuasivo é
transmitir sinceridade. Sob nenhum pretexto o advogado deve utilizar
falsos argumentos, mentiras e termos excessivamente técnicos, que
fujam à compreensão de seus interlocutores.
Sugestões para advogados tornarem-se mais persuasivos
Apesar de perceber que esta tendência está começando a mudar, em
nosso trabalho de consultoria em marketing jurídico percebemos que
ainda existe no setor uma cultura voltada mais para os embates do
que
para a negociação e o bom relacionamento interpessoal.
A sugestão é que os operadores do direito comecem a desenvolver,
além dos aspectos técnicos de sua profissão, as competências
comportamentais relacionadas à inteligência emocional
como: empatia, comunicação interpessoal, motivação, liderança e
capacidade de negociação.
Dicas práticas que poderão ser úteis:
• Procure fazer elogios sinceros
• Dê atenção, demonstre interesse e ouça de fato as pessoas
• Evite criticar e condenar quem quer que seja
• Sorria sempre que possível
• Trate todos pelo nome
• Evite discussões
• Evite queixar-se demasiadamente.
Estas são algumas regras de relações humanas que, se utilizadas
habitualmente, farão com que nossa capacidade de persuasão seja
naturalmente melhorada.
Acreditamos que desta forma, o desenvolvimento da capacidade
persuasiva será um fator da maior importância para o sucesso dos
operadores do Direito, sejam eles juízes, promotores ou advogados.
Nos escritórios de advocacia, a persuasão pode tornar-se, também, um
fator decisivo na consolidação do escritório, no futuro dos negócios
e nas relações com sócios, colaboradores e clientes.
Ari Lima é empresário, engenheiro, consultor em marketing pessoal e
gestão de carreiras e especialista em marketing e vendas. Desenvolve
treinamento em marketing pessoal e marketing jurídico para
profissionais liberais, empresas, escritórios e estudantes
universitários. Ministra cursos, seminários e palestras realçando o
lado prático e funcional do marketing e escreve artigos diariamente
para diversos sites e revistas. Além de uma sólida formação teórica,
possui 25 anos de experiência prática em gerenciamento e treinamento
de vendedores e de gerentes de vendas, bem como atendimento a
clientes.