Inclusão digital e consumo
Por Sandra Turchi
07/06/2010
A sociedade vem passando por grandes e profundas transformações,
principalmente alavancadas pela globalização e pela rápida evolução
da tecnologia no mundo moderno.
Hoje, o consumidor deixou de ser apenas um espectador dos fatos para
passar a assumir o papel de protagonista da história. Sabemos que
cada vez mais ele interage e participa do processo de criação de um
produto, do seu lançamento até torná-lo um sucesso ou fracasso.
Isso decorre da grande interação trazida pela internet e,
principalmente, pelo papel das mídias sociais. Porém, temos que nos
lembrar que para grande parte, ou melhor, para a maioria da
população, principalmente dos países emergentes, isso tudo ainda é
muito novo.
No Brasil a venda de computadores nos últimos anos teve um
crescimento espantoso, em 2007 somou um total de mais de 10 milhões
de equipamentos, com faturamento de 24 bilhões de reais,
representando um crescimento de 25% aproximadamente sobre 2006.
Desse total estima-se que praticamente a metade tenha sido destinada
às classes de baixa renda, para um público ainda pouco acostumado à
tecnologia e que busca soluções mais simples, em todos os sentidos,
o que exigiu da indústria e do varejo uma readaptação, tanto em
termos de produtos, como de serviços, para permitir seu acesso. Isso
pode esclarecer o enorme crescimento de determinada marca de
fabricante de computadores, até bem pouco tempo, desconhecida, e que
hoje figura entre uma das mais importantes do cenário de tecnologia
do país, porque soube como atender a esse novo consumidor.
Uma das conseqüências dessa inclusão é o crescimento significativo
das compras via web, que somaram mais de 6 bilhões de reais em 2007,
com um crescimento de 43% sobre 2006.
Há que se destacar igualmente o acesso aos aparelhos celulares, que
tem uma base hoje maior que 140 milhões de equipamentos, sendo
praticamente 80% pré-pagos, e cuja evolução está longe do fim, tendo
em vista a troca freqüente por novos modelos.
Esses movimentos demonstram claramente as mudanças no perfil do
consumo e dos consumidores, mesmo porque essas transformações estão
apenas começando, ou seja, ainda há muito para se ver, tanto em
termos de alterações do comportamento de compra em si, como na
questão, já citada acima, da participação no processo de “produção”.
Além disso, não podemos esquecer a crescente influência na
construção das marcas, devido a essa maior interação dos
consumidores, que cada vez mais percebem seu poder. Alguns começam a
navegar muito simploriamente, apenas para tentar localizar velhos
amigos em alguma rede social famosa, pois sentem que já não podem
ficar de fora, e logo estão usando esse e outros canais para
realizarem pesquisas informais, discutirem, elogiarem ou rejeitarem
alguma marca ou produto, seja porque não gostaram de algo, seja
porque não foram bem atendidos em determinada rede de hipermercados,
por exemplo.
Isso demonstra que essa situação é bastante real e não pertence ao
imaginário de algum articulista, ou mesmo ao mundo acadêmico. Ela
está ocorrendo na minha família, na sua, no vizinho, nas Lan houses
e no cyber café ali da esquina… É uma pena que muitas companhias
ainda não se tenham dado conta desse fato e ainda não tenham
começado a se preocupar sobre como atuar nesse cenário. Fica o
alerta…
Com isso, pode-se afirmar que as marcas que continuarão progredindo
e se consolidando serão aquelas que mudarem suas atitudes para se
conectarem mais efetivamente com esses consumidores, criando
vínculos e experiências que sejam reais, e autênticas, mesmo que
tenham que utilizar o mundo virtual para atingir seu objetivo.
Sandra Turchi é graduada pela FEA-USP, pós-graduada pela FGV-EAESP e
MBA pela Business School São Paulo com especialização pela Toronto
University e em empreendedorismo pelo Babson College em Boston. É
superintendente de Marketing da Associação Comercial de São Paulo
(ACSP) instituição que administra o SCPC (Serviço Central de
Proteção ao Crédito). Site: www.sandraturchi.com.br - Twitter:
http://twitter.com/SandraTurchi