A Incompetência das Lideranças
Por Tom Coelho
25/11/2008
“Um líder é, antes de tudo, um bom ouvinte e um ótimo observador.”
(Rodrigo Rocha Loures)
Chego de viagem, após quase uma semana fora de casa, e encontro meu
telefone inoperante – mudo, como se costuma dizer. Além da linha, o
serviço de conexão à internet por banda larga também está
indisponível.
Ligo para o suporte da Telefônica, maior operadora de telefonia fixa
de São Paulo, e sou atendido por um “inovador sistema de
reconhecimento de voz”, em verdade, uma invencionice irritante e
pouco pragmática.
Após alguns minutos, consigo chegar ao “atendimento humano”, quando
sou informado de que o reparo será efetuado “em até 48 horas”, como
se este prazo fosse desprezível para quem tem na internet um
instrumento de trabalho.
Resignado, aguardo as tais 48 horas. E nada. A partir daí, e ao
longo de mais uma semana, o que se sucede é um conjunto de eventos
lamentáveis. Um verdadeiro elogio à omissão, negligência, inépcia e
incompetência. Outros três protocolos de atendimento são abertos. Um
quarto chamado é feito à ouvidoria, um departamento com a suposta
missão de atuar como uma corregedoria, mitigando as tantas falhas de
atendimento processadas nos estágios anteriores. A Agência Nacional
de Telecomunicações (Anatel) também é acionada. Por duas vezes um
técnico chega a comparecer em minha residência, porém abandona o
local sem concluir o conserto ou prestar qualquer satisfação
convincente. A solução que encontrei foi cancelar o serviço.
Este relato é apenas mais um em meio a esta selva de desatendimento
que assola as organizações. Os produtos estão comoditizados, a
tecnologia está acessível e os sistemas de gestão de assemelham. Mas
as companhias continuam pecando naquele que é o único e sustentável
diferencial competitivo: a qualidade do atendimento.
Conheço a Telefônica. É uma empresa que tinha tudo para ser admirada
pelo trabalho realizado após a privatização da telefonia pública,
democratizando o acesso à comunicação. Em apenas sete anos, o número
de terminais fixos instalados dobrou e o índice de digitalização da
rede atingiu a marca de 100%. Um novo pedido de ligação é cumprido
em até cinco dias úteis, um grande avanço em relação aos tempos dos
“planos de expansão”, quando aguardávamos 24 meses pelo direito de
receber um tronco telefônico.
Entretanto, a empresa é reputada pelo seu fracasso no atendimento,
liderando seguidamente o ranking de reclamações no Procon. Mas, ao
contrário do que se poderia postular, o problema não está nos
indivíduos que fazem o primeiro atendimento, profissionais de
telemarketing, em geral, mal remunerados, carentes de preparo, que
trabalham sob extrema pressão e em condições laborais estressantes.
Falam seguindo um script padronizado, usam do famoso gerundismo para
se comunicar, anotam as ocorrências em um sistema informatizado e,
sobretudo, raramente gostam do trabalho que exercem. A partir daí, o
que temos é uma legião de coordenadores, supervisores e gerentes
que, em sua maioria, escondem-se covardemente atrás destes
atendentes, negando-se a falar com os clientes mesmo quando
solicitados.
De que adiantam palestras, cursos e treinamentos de capacitação e
desenvolvimento gerencial quando as lideranças não se mostram dignas
de respeito? A lição básica consiste em liderar pelo exemplo, mas o
que vemos é a falta de bom senso, profissionalismo e ética.
O pior é constatar que algumas decisões são meramente atuariais.
Investir em infra-estrutura para evitar problemas sistêmicos e
ampliar o quadro de funcionários para agilizar o atendimento são
expedientes mais custosos do que lidar com clientes descontentes, em
especial quando são poucos os que levam suas reclamações às vias de
fato.
É por isso que finalizo convidando você, leitor, a telefonar
periodicamente para sua própria empresa ou departamento sob sua
responsabilidade para checar a qualidade do atendimento. Disfarce a
voz, assuma o papel de consumidor e simule um problema que precisa
ser resolvido. Observe não apenas como age sua recepcionista, mas em
especial como atuam as lideranças para a solução do caso. Talvez
você se surpreenda. E negativamente...
Tom Coelho, com graduação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela
ESPM/SP e especialização em Marketing pela MMS/SP, é empresário,
consultor, escritor e palestrante, Diretor da Infinity Consulting,
Diretor do Simb/Abrinq e Membro Executivo do NJE-Fiesp.