O Marketing na Crise
Por Sandra Turchi
14/06/2010
Lembraremos de 2009 como o ano da crise mundial, esta que talvez
seja uma das mais profundas e imprevisíveis crises da história
moderna. Sem dúvida os brasileiros podem dizer que levam vantagem,
pois já se acostumaram a trabalhar sob crises ao longo de suas
vidas. Isto pode fazer com que o Índice de Confiança do Consumidor
ainda não tenha caído.
Por outro lado, a forma diferente com que as empresas atuam nesses
períodos é determinante para sua permanência no mercado, bem como
para seu sucesso futuro. E qual têm sido a postura das empresas com
relação ao marketing e os investimentos em propaganda? Confesso que
tenho visto de tudo: multinacionais que manterão seus investimentos
– para que suas marcas sejam preservadas e a partir de 2010 possam
colher bons frutos – outras que já cortaram investimentos em mídia,
bem como aquelas onde profissionais estão sendo demitidos.
Nesse caso é natural que algumas demissões sejam parte de um
processo de avaliação das competências das equipes e de ajustes que,
em momentos mais tranqüilos, poderiam esperar. Essas reduções talvez
ainda não estejam ligadas à necessidade de adequação de caixa, e sim
ao fato das empresas despertarem para outro perfil profissional,
mais criativo, mais pró-ativo, e principalmente, mais sintonizado
com as mudanças, visto que nesse cenário, com fatos novos todos os
dias, somos obrigados a buscar resultados mais efetivos com menos
investimentos.
Muitos profissionais ainda não estavam se atentando para essas novas
demandas, assim como algumas agências não tinham interesse nessas
mudanças, pois as medidas e o conhecimento que devem ser aplicados
nesse novo momento exigem muito mais trabalho e tempo. Com a
fragmentação do público e o aumento das opções de mídia, como
poderíamos continuar imaginando que tudo se resolveria apenas com
anúncios em TV e jornal? Há algum tempo talvez isso fosse verdade,
quando a criação e consolidação das marcas passava basicamente por
essas estratégias, mas nos últimos 10, 15 anos tudo tem mudado
muito, e rápido!
Precisamos adotar um novo olhar e uma nova postura diante dos fatos.
O tempo destinado à etapa de planejamento deverá ser maior, assim
como o acompanhamento e mensuração após a implantação e durante a
execução de campanhas, porque não haverá chance para “testes”.
Como tendência pode-se observar mais investimentos direcionados às
ações no ambiente digital, pois é possível obter maior assertividade
na adequação ao target, bem como melhor avaliação do investimento
versus retorno. Nesse ponto cito a importância de saber lidar com as
comunidades. Como prova disso basta analisar o quanto foi
fundamental essa estratégia para a eleição do presidente americano,
pois sua equipe soube utilizar como ninguém as ferramentas para
dialogar diretamente com públicos segmentados – não de acordo com os
velhos padrões da mídia tradicional (sócio-demográfico, por exemplo)
– mas de acordo com sua raça, religião, ideologia, comportamento,
entre outros.
A alternativa que deverá crescer bastante é o e-commerce, como mais
um canal de vendas para os consumidores, visto que temos, a cada
dia, menos tempo disponível e com a internet podemos poupá-lo,
fazendo pesquisas e compras, sem ter que enfrentar chuva, trânsito e
estacionamento. Os fatores citados, aliados ao crescimento do uso de
cartões de crédito no país, farão com que esse canal se fortaleça
nos próximos períodos, inclusive junto às pequenas e médias
empresas.
Essa crise será fundamental para fazer com que a sociedade repense
seus modelos, pois estávamos vivendo um período de alavancagem que
tornava alguns resultados irreais. No caso desse mercado, por
exemplo, isso ocorria na forma de campanhas que apresentavam bons
resultados, não por que eram realmente eficazes e sim porque
vivíamos um período de alta demanda. Portanto, quem não tiver a
habilidade para se readequar aos novos modelos poderá ter
dificuldades ao atuar nesse cenário mais realista, mais
“pé-no-chão”.
Por isso, nos momentos de crise, é que normalmente despontam os
verdadeiros talentos, aquelas pessoas que, como diz o velho ditado,
sabem “tirar leite de pedra”!
Sandra Turchi é graduada pela FEA-USP, pós-graduada pela FGV-EAESP e
MBA pela Business School São Paulo com especialização pela Toronto
University e em empreendedorismo pelo Babson College em Boston.É
superintendente de Marketing da Associação Comercial de São Paulo
(ACSP) instituição que administra o SCPC (Serviço Central de
Proteção ao Crédito). Site: www.sandraturchi.com.br - Twitter:
http://twitter.com/SandraTurchi