Na Mais Completa Escuridão
Por Ivan Postigo
10/11/2010
Estamos acostumados a circular em nossas casas e nos sentimos
confortáveis. Com alguns passos e movimentos encontramos nossos
objetos sobre os móveis e nas gavetas. Um dia acaba a energia e lá
vamos nós tropeçando, nos vemos incapazes de encontrar as velas, os
fósforos, as lanternas e, pior ainda, as pilhas.
Quando volta a energia ou no dia seguinte, já claro, em minutos nos
depararmos com eles, “no lugar de sempre”.
Não nos conformamos, pois temos certeza que estivemos remexendo
aquele local e não pudemos encontrá-los.
Durante muito tempo, eu e alguns amigos usamos um caminho
alternativo para chegar à empresa em que trabalhávamos. Tentamos
trilhá-lo depois de alguns anos. Rimos muito. Impossível
relembrá-lo.
Se isso acontece com coisas às quais estávamos acostumados, imagine
com aquilo que nunca vimos ou praticamos.
Já viajou com o GPS, sem qualquer outra informação como apoio e, num
dado momento, ele perde o sinal e você não tem a mínima idéia onde
está? Não precisa ir muito longe, isso pode acontecer na sua cidade,
procurando um endereço.
Que tal no horário do rush, quando as chances de parar, perguntar e
fazer retornos são extremamente complicadas?
Como você se sente?
Certamente, na mais completa escuridão!
Fatos como esses tenho observado no processo de gestão das empresas,
por essa razão é importante ter disposição para buscar ajuda e
adicionar competências.
Reorganizamos uma empresa, preparando-a para venda, e acompanhamos
os novos gestores na transição.
O controle de caixa era bem detalhado e dava bastante segurança ao
processo administrativo. Um dos gestores insistia em simplificá-lo,
aspecto com o qual não concordávamos.
Assim que encerramos os trabalhos, este imediatamente trocou o
software e mudou os procedimentos. Não demorou para que nos
chamasse, desesperado, pois havia perdido o controle não só do
caixa, mas de todas as contas a receber. A situação ficou delicada,
pois já não sabia o que tinha faturado e o que estava pendente de
recebimento.
Conceitos financeiros não lhes faltavam, mas desconhecia por
completo as implicações de integração de dados em um sistema. A
quantidade de papeizinhos para lá e para cá era assustadora.
Evidentemente que era impossível administrar uma empresa naquelas
condições, estava na mais completa escuridão.
Em outra ocasião, desenvolvemos um trabalho de prospecção intensiva,
com forte abordagem do varejo. A quantidade de clientes na carteira
praticamente dobrou. Algum tempo depois, um novo gestor assumiu a
direção comercial, mas tinha como meta atender empresas de
comprassem grandes volumes. Seu argumento era que teria menores
gastos com a equipe de vendas, venderia a preços mais baixos, mas o
aumento de volume compensaria e o trabalho não seria desgastante,
visitando o país todo com uma equipe com mais de cem profissionais.
Medida tomada, fez um brutal corte, dispensado quase sessenta por
cento da equipe, abandonando considerável número de pequenos
clientes de varejo.
As concessões de preços para aumento de volume não geraram a
alavancagem esperada e o faturamento desabou terrivelmente.
Quando nos consultaram mais tarde, verificamos que os clientes
negligenciados não tinham mais disposição para retomar o trabalho
com a empresa e os representantes dispensados dificilmente firmariam
novos compromissos.
A falta de apetite do gestor pelo pequeno varejo, como insistia em
suas argumentações, não estava fundamentada em sólida experiência,
mas no método do “achismos” que o mantinha na mais completa
escuridão.
Não demorou para que deixasse essa organização e cometesse o mesmo
erro em outra. Apostar alto é simples quando o dinheiro em risco não
é nosso.
Não lhe atribuímos toda a responsabilidade, afinal uma empresa não
tem um só gestor.
Já fui voto vencido em reunião e tive que me desdobrar para evitar
um dano maior, ficando ainda com a incumbência de salvar o que
pudesse do incêndio. Felizmente os valores envolvidos não eram
suficientes para comprometer a organização.
Na época, sempre que o projeto era mencionado, as pessoas que o
consideravam fadado ao fracasso diziam: - Liguem as luzes de
emergência, pois neste caso estamos na mais completa escuridão!
Não acertaremos sempre é verdade. Correr riscos é necessário, boas
idéias também tem suas áreas com sombras que nos impedem de ter uma
visão mais clara dos perigos. O que não podemos é agir, sem
orientação ou relativa segurança, quando estamos na mais completa
escuridão.
Quando não souber, não se arrisque desnecessariamente. Ouça o
conselho de alguém que já tenha andado por aqueles caminhos.
Ivan Postigo é Economista, Bacharel em contabilidade, pós-graduado
em controladoria pela USP. Autor do livro: Por que não? Técnicas
para estruturação de carreira na área de vendas e diretor da Postigo
Consultoria de Gestão Empresarial - Fones (11) 4526 1197 / ( 11 )
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