Operacionalmente desorganizadas, estrategicamente confusas
Por Ivan Postigo
15/01/2011
O que leva empresas a se apresentarem operacionalmente
desorganizadas, taticamente perdidas e estrategicamente confusas com
tanta informação e tecnologia à disposição?
Tenho feito essa pergunta e a resposta costuma levar a um ponto:
falta de qualificação profissional.
Estranho, é impossível que todos na empresa apresentem essa
deficiência, mas...
As técnicas de gestão não mudaram tanto, a ponto de criar barreiras
tão significativas para a evolução empresarial.
Algumas até são negligenciadas por conta da simplificação e
engessamento em softwares.
É verdade que os modelos de PPCP e apuração de custos, entre outros,
podem ser customizados, mas de maneira geral seguem a formatação
previamente estabelecida pelo fornecedor, quando não são
precariamente conduzidos em planilhas eletrônicas.
Não compliquemos, tratemos do débito e crédito na contabilidade.
Quantas pessoas, envolvidas no processo administrativo, dominam esse
conceito?
Um mistério desvendado apenas com horas de exercícios e aplicações.
Que barreira é essa que foi levantada?
Nosso modelo mental nos diz: - Isso é um negócio difícil. Muito
complicado para entender.
Decorar a tabuada também era, não?
Regrinhas contábeis criadas pelo Monge Luca Paccioli, que viveu
entre 1475 e 1517, ainda se mostram um mistério para profissionais
preparados para gestão, enquanto crianças com menos de cinco anos de
idade usam computadores e navegam pela internet.
Com dois anos de idade já conhecem os controles remotos e escolhem e
acionam seus CD preferidos. Outro mistério?
Sim, a forma de aprendizado.
A máquina de escrever exigia horas de treinamento nas escolas, hoje,
a garotada quando têm acesso a um computador não têm a menor timidez
e dificuldade frente a um teclado. E, como num passe de mágica,
aprendem sem muitas orientações em datilografia.
Falar ao telefone exigia desembaraço, hoje, o celular com suas
funções e teclas não assusta nenhuma criança, alias é um brinquedo!
Brinquedo, essa é a palavra mágica!
Crianças aprendem brincando. Uma questão para reflexão, pois com
pouca orientação e interferência descobrem o mundo e dão um toque
pessoal.
Impacientes, se irritam quando não sabemos ensinar ou não
conseguimos acompanhar seus raciocínios e velocidade de aprendizado.
Para a criança, a barreira é o acesso, tendo, um mundo a ser
investigado.
Do processo estratégico, passando pelo tático e chegando ao
operacional, percebemos que nossa técnica de ensino e aprendizado
precisa ser repensada.
Quanto mais informatizada a operação, mais distante ficamos da
realidade. O domínio de telas e teclas não significa domínio da
ciência. A facilidade de cálculo e de operação não pode nos levar à
negligência dos detalhes e significados.
Estamos eliminando perguntas básicas, com isso ficando sem
respostas.
Da época de estudante, morando em república, vem uma lição:
Acostumados a “receber tudo na mão”, enquanto vivíamos com nossos
pais, não sabíamos fritar um ovo.
Resolvemos fazer um arroz, então um dos amigos trouxe a receita:
Duas xícaras de água para cada xícara de arroz.
Um desastre. Duro, nem periquito comia!
Com o tempo, conversando com as pessoas, olhando as panelas,
descobrimos os erros: fogo alto, panela destampada...
Algumas horas de farra na cozinha e alguns risotos se tornaram
famosos.
Com tempo, passaram a ser preparados com o arroz especial, para essa
finalidade.
Sabíamos onde comprá-lo, como escolhê-lo e como cozinhá-lo, mexendo
sempre para não grudar no fundo.
Em pouco tempo, todos sabiam se virar em meio a tantas receitas.
O segredo do aprendizado começou com atenção especial à fase
operacional. É nesse ponto que avaliamos todo o processo e
conseguimos clareza na condução.
Por essa razão, precisamos aprender a aprender, para realizarmos o
passo seguinte fundamental que é aprender a ensinar.
As escolas informam, educam, mas não treinam, tarefa dedicada ao
campo, ao mundo prático. Há uma separação de papéis que precisa ser
corrigida: levar a escola ao campo e trazer o campo à escola.
Isso não elimina, como gestores, nosso comprometimento com a difusão
de informações, técnicas e preparação dos colaboradores.
Abro um parêntesis para uma frase que me acompanha na carreira:
“antes de pedir a alguém que faça alguma coisa, você deve ajudá-la a
ser alguma coisa”.
Para nós, da Postigo Consultoria, nossas maiores conquistas não
estão relacionados às empresas que ajudamos a superar barreiras e
dificuldades, nem às pessoas que ensinamos diretamente e indicamos à
promoção, mas sim àquelas que aprendem conosco, sem saber disso, e
que ensinamos, sem nos darmos conta.
Sem esse comprometimento, teremos equipes operacionalmente
desorganizadas, taticamente perdidas e gestores estrategicamente
confusos, com reflexos nas empresas e nos seus resultados.
Ivan Postigo é Economista, Bacharel em contabilidade, pós-graduado
em controladoria pela USP. Autor do livro: Por que não? Técnicas
para estruturação de carreira na área de vendas e diretor da Postigo
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