Ouça o seu cliente
Por Rogerio Martins
21/10/2008
No final de semana passei por três situações curiosas e semelhantes
que me fizeram escrever este texto. Fui a três lugares distintos
onde a única semelhança foi o atendimento prestado ao cliente: ruim
em todos eles. Mas o detalhe é que este mau atendimento só aconteceu
no final, pois até o serviço ser prestado estava tudo bem. Pensei:
será que treinaram estas pessoas para atender bem somente na chegada
do cliente?
Tenho a impressão que os gestores têm ensinado somente que a
primeira impressão é a que fica. Na verdade, a primeira impressão é
fundamental para o bom desenvolvimento de uma relação comercial, mas
a última impressão é a que faz o cliente retornar e comprar mais, se
for o caso.
Em uma das situações que passei foi emblemático o papel do gerente
do restaurante. Ao término de meu jantar, num local agradável,
comida boa, serviço até então perfeito, pedi a conta e uma nota
fiscal ao garçom. A conta veio, mas a nota não. Após entediante
espera resolvi ir até o caixa e pedir diretamente a tal nota fiscal.
O rapaz do caixa não conseguia fazer a nota e chamou o gerente.
Este, por sua vez, ao invés de atender minha simples solicitação de
emissão uma nota fiscal pelo serviço prestado, entrou em uma espiral
de justificativas. Primeiro respondeu que o problema foi do sistema,
depois do garçom, depois do caixa e eu só queria uma nota fiscal.
“Será que ninguém me ouve?”, falei.
Vera Martins, em “Seja Assertivo” afirma: saber ouvir não é apenas
útil para obter um bom desempenho no trabalho; é, antes de tudo, uma
atitude básica de vida, que ajuda uma pessoa a ter bons
relacionamentos.
A questão é que as pessoas que lidam com público precisam ficar mais
atentas ao que o cliente diz. Prestar mais atenção. Controlar a
ansiedade de dar respostas sem perceber o que realmente o cliente
quer.
No contato direto com o cliente, e nas relações em geral, é
necessário evitar os dois tipos de comportamento que mais atrapalham
a boa comunicação:
Atitude defensiva: característica mais comum nas pessoas que se
sentem pressionadas. Reagem ao que a outra pessoa fala através de
explicações e justificativas. Tornam-se verborrágicas, ou seja,
falam mais do que o necessário. Com isso o desgaste físico e
emocional é enorme. Deixam o cliente irritado e insatisfeito.
Pré-conceitos, estereótipos e avaliação prematura: característica
daqueles que se sentem superiores aos outros. Acreditam que sabem
mais, ou que estão com a razão. Tendem a criar uma situação
constrangedora como na cena do filme Uma Linda Mulher, onde a
protagonista entra em uma loja de grife e é mal atendida por uma
vendedora em função de sua aparência. O resultado mais comum é que o
cliente não retorna, e não avisa por que.
Em geral, as pessoas querem ser ouvidas. Simplesmente ouvidas. Para
evitar estas e outras distorções na comunicação e no relacionamento
com os clientes é necessário investir constantemente em treinamento
e desenvolvimento das pessoas que lidam com o público. É fundamental
o preparo contínuo, pois ações isoladas não geram resultados
eficazes. Para haver uma mudança efetiva de comportamento é preciso
regularidade, reforço e treino. Escutar ativamente o cliente pode e
deve ser desenvolvido.
Para finalizar, lembro uma famosa frase que é atribuída ao filósofo
Zenão de Eléia: lembrai-vos de que a natureza nos deu dois ouvidos e
uma boca para nos ensinar que mais vale ouvir do que falar.
Rogerio Martins é Psicólogo, Consultor de Empresas e Palestrante.
Especialista em Liderança e Motivação. Sócio-Diretor da Persona
Consultoria e Eventos. Autor do livro Reflexões do Mundo
Corporativo. Membro do Rotary Club de SP Santana (Distrito 4.430).