Perigo na Zona de Conforto
Por Evaldo Costa
28/10/2008
Você costuma refletir sobre seus negócios? Em que momentos você
costuma fazer isso? Sempre? Só quando coisas não vão muito bem?
Quando tudo está dando certo? O memorável livro de Judith Bardwick,
o qual emprestou o título para este artigo e me motivou a escrever
sobre o assunto, é uma obra para ficar na mesinha de cabeceira, pois
nos leva a profunda reflexão, justamente nos momentos em que
acreditamos não precisar fazer muito esforço para obter sucesso.
“Controle o seu destino antes que alguém o faça”
Jack Welch
Mas, por falar em reflexão e sucesso, como vai a economia
brasileira? Vivendo momentos confortáveis, não é verdade? Não
importa muito se está ou não sendo alavancada pela favorável
conjuntura econômica global. O fato é que com a inflação baixa e sob
controle, taxas de emprego em alta e crescendo, massa salarial
ganhando musculatura a cada ano, larga oferta de crédito ao
consumidor, dólar em baixa, juros em queda, saldo favorável da
balança comercial, entre outros indicadores positivos nos levam a
crer que o Brasil caminha a passos largos para dias melhores, não é
mesmo?
Ainda que alguns acreditem que o crescimento econômico do país
poderia ser maior, não podemos negar que contabilizamos resultados
otimistas. Após longo período de hibernação em que tanto a indústria
quanto o varejo tiveram dificuldade e amargaram grandes prejuízos, o
mercado dá sinais de revigoramento e voltamos a viver momentos de
euforia em alguns setores.
E, por falar em economia revitalizada, como anda o varejo? Vai muito
bem, obrigado. TVs de LCD, Notebooks, lava-louças, entre outros
artigos chegam a apresentar crescimento nas vendas da ordem de 250%.
Isso sem falar no setor automotivo, no qual a performance tem sido
tão boa que os recordes de vendas voltaram a freqüentar as manchetes
na mídia nacional. Os novos modelos de carros sendo lançados
regularmente pela indústria, a queda dos juros do CDC (crédito
direto ao consumidor), a grande oferta de crédito com alongamento
dos prazos de pagamento e a busca dos consumidores pelo veículo zero
são os principais motivos das linhas de montagens da indústria
automotiva estarem operando a todo vapor e, ainda assim, sem dar
conta do recado.
Quando a situação é confortável, a estagnação é eminente.
Até aí nada de tão extraordinário assim, no entanto cabe uma
pergunta: será que não é hora de garimpar, em nossa agenda, tempo
para rever alguns conceitos aparentemente adormecidos? Quem sabe,
devêssemos começar pelo filme anos dourados que relatou o grande
sucesso do setor automotivo na segunda metade da década de oitenta?
Nele vamos constatar cenas pitorescas, como a cobrança de ágio, fila
de espera para comprar um veículo novo, entre outros fatores que
podem até parecer absurdos, mas que vale a pena recordar.
Revendo o filme com atenção vamos descobrir cenas que merecem
atenção especial por ser incomum para a realidade dos dias atuais. A
exemplo de empresas “inchando” os quadros administrativos e
operacionais com a criação de novos cargos, reajustando salários sem
muito critério, empreendedores expandindo-se rapidamente com
aquisição de novos negócios, construções e reformas sendo executadas
mais pela empolgação do bom momento do que pelos critérios técnicos
científicos, afrouxamento dos rigores para novos investimentos,
gastos administrativos exagerados, estoques nas alturas, regras
básicas de relacionamento com os clientes sendo subestimadas, e
muita gente se achando poderoso e esquecendo-se de que a “humildade
é o primeiro degrau na escala da sabedoria” etc.
Há também outros registros interessantes, como a cena em que uma
secretária apresenta-se com duas assistentes. Daí, quem tentava
falar com o seu chefe primeiro seria atendido pela telefonista que
transferia a ligação para uma das suas assistentes que por sua vez
transferia para ela e, daí, com um pouco de sorte, se conseguia
falar com o todo poderoso. Detalhe: em cada etapa a pessoa tinha que
explicar as razões do contato. Muito interessante, não?
“... Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a
hora, não espera acontecer”.
Geraldo Vandré
Recorrendo a esse e, também, a outros filmes de glória do passado,
vamos perceber empresas reduzindo ou cortando as verbas de
treinamento, queda acentuada da qualidade do atendimento ao cliente,
relaxamento na prestação de serviços, diminuição ou extinção das
reuniões de planejamento e apuração de resultados (analisar os
gastos, rever metas e apontar novos caminhos deixaram de ser
prioridades), afrouxamento das cobranças por bons resultados,
gestores se entrincheirando em seus confortáveis gabinetes, a
fidelização de cliente ficando renegado para segundo plano e cedendo
lugar ao jargão “se não quiser outro compra” etc.
Porém, nem sempre esses filmes tiveram final feliz. A maioria
revelou epílogos trágicos, como: fábricas sendo fechadas ou
reduzindo drasticamente a produção, empresas indo a bancarrota,
organizações demitindo em massa, entidades endividadas, mão-de-obra
sucateada e recomeço cruel.
E quanto a você: acha que as cenas do passado podem nos ensinar algo
novo?
Pense nisso e ótima semana,
Evaldo Costa é Escritor, Consultor, Conferencista e Professor. Autor
dos livros: “Alavancando resultados através da gestão da qualidade”,
“Como Garantir Três Vendas Extras Por Dia” e co-autor do livro
“Gigantes das Vendas”