Trabalho nos tempos pós-modernos
Por Carlos Alberto de Faria
01/07/2008
1. Todo empregado é um prestador de serviços a uma empresa, pois
este fornece um desempenho, diariamente, em troca de alguns
benefícios que ele e a empresa acordaram.
2. As tarefas repetitivas estão sendo feitas cada vez mais por
máquinas, deixando para trás aquele famoso empregado mostrado no
filme "Tempo Modernos", de Charles Chaplin.
3. A técnica administrativa utilizada nos "Tempos Modernos" é a
cadeia de comando & controle, o supervisor dá o comando - ordens - e
controla a sua realização de suas ordens pelos trabalhadores
(controle);
4. A cadeia de comando & controle traz embutida a definição de
padrão mínimo de desempenho para fora do empregado, para o
supervisor, podendo deixar ínfimo o envolvimento e o comprometimento
do empregado na realização desse mínimo que, caso não seja obtido,
pode levar à punição ou à perda do emprego e de seus correspondentes
benefícios.
5. O desempenho é seguir uma receita dada (as máquinas, hoje, fazem
isto melhor!). Os supervisores é que passam o que deve ser feito,
tirando do empregado o envolvimento e, portanto, o comprometimento
da obtenção do bolo obtido com essa receita; se algo dá errado, ele
retruca:
- "Eu fiz o que me mandaram !".
6. O comando & controle pode levar a patamares de desempenho
sofríveis, quando "tira" de cada empregado somente um desempenho
mínimo, ou perto deste, acarretando custos maiores.
7. Os empregados dos "Tempos Modernos" possuíam baixa qualificação,
tinham que seguir ordens do supervisor, manter a produção.
8. O desempenho de cada empregado é dependente do grau de adesão ou
comprometimento à empresa que trabalha.
9. O clima organizacional e como o empregado se sente na empresa
ajudam a definir seu desempenho.
10. O desempenho do empregado, em tarefas não repetitivas, é uma
percepção, diferentemente de uma medida objetiva de produção.
11. Os benefícios percebidos pelo empregado, acordados ou
implícitos, refletem-se no serviço entregue por cada empregado: seu
desempenho (com isto digo que não importa o que a empresa fornece,
importa o que o empregado percebe receber!).
12. O desempenho de cada empregado pode variar dentro de uma faixa,
tanto pode ser o mínimo desempenho para fugir da punição, como o
máximo em condições que a pessoa se sente "motivada" a dar tudo de
si.
13. O desempenho de um empregado que não executa atividades
repetitivas é uma opção pessoal sua, variando entre os extremos
acima.
14. A pessoa - o empregado de qualquer nível, do mais humilde ao
presidente ou membros do Conselho de Administração - é o que faz a
diferença, pois o que uma empresa faz é a soma das partes do produto
do trabalho de cada empregado, que é o seu desempenho.
15. O sucesso do trabalho conjunto dos empregados é interdependente
do sucesso das partes que o compõem, só que diferentemente de
máquinas, o empregado não tem um desempenho padrão, este deve ser
obtido ou conquistado, dia a dia, hora a hora.
16. A sensação de pertencer à empresa ou ,caso contrário, de estar
trabalhando para alguém desconhecido "aproveitar" - sensação de não
pertencer - também ajuda ao empregado definir seu desempenho.
17. Ninguém rouba algo que lhe pertence, quer sob a forma de
desempenho, quer sob outras formas materiais.
18. O sucesso de uma empresa depende também de como esta administra
o desempenho do conjunto dos seus empregados.
19. O sucesso futuro da empresa depende dela conseguir os melhores
desempenhos no futuro, ou seja, obter melhores empregados que a
concorrência. Melhores empregados em qualquer empresa é fator de
chave de sucesso futuro.
20. O melhor empregado não é aquele que detém o maior conhecimento,
é aquele que fornece o melhor desempenho.
21. Os empregados de hoje possuem mais qualificação, muitos mais até
que seus supervisores ou gerentes.
22. O foco do trabalho dos "Tempos Modernos" era seguir as ordens, a
receita fornecida, hoje, diferentemente, é obter o bolo.
23. O desempenho deve ser medido em termos de obtenção de resultados
acordados e desejados: o bolo.
24. A receita do bolo deve vir do conhecimento, habilidades e
atitudes colocados em ação, praticados pelos novos trabalhadores
qualificados: os trabalhadores do conhecimento, mesmo porque as
necessidades dos clientes (o bolo) podem mudar numa velocidade maior
do que a percebida pelo supervisor, mas detectada por quem está na
ponta atendendo o cliente.
25. Estruturas rígidas produzem bolos padrão, estruturas flexíveis
podem produzir bolos de acordo com os desejos mutáveis dos clientes
mutáveis.
26. O desempenho é, portanto, hoje, um serviço a ser obtido dos
empregados a ser entregue aos clientes, e não mais uma simples
produção padrão.
27. O papel do supervisor ou do gerente deixa de ser o comando &
controle e passa a ser fornecer meios para que os trabalhadores
possam desempenhar melhor suas atividades.
28. A empresa deve se cercar de ambientes que promovam o bem-estar
do trabalhador e a relação de pertencer à empresa.
29. A atual dinâmica do mercado impossibilita, física e
temporalmente, a orientação do empregado, ponto a ponto, já que as
necessidades mudam a cada cliente e a cada instante.
30. A existência e a aplicação diária das orientações do tipo
"Missão, Visão e Valores", com os altos executivos sendo exemplos e
propagadores, são condições "sine qua non" para a existência de
desempenhos conjuntos superiores, que se tornam o mapa dos
empregados para o exercício diário da caminhada real no mercado. As
medidas objetivas dessa aplicação diária devem ser periódicas.
31. A necessidade de desempenho superior exige que os empregados
tenham autoridade, responsabilidade e comprometimento. Isso somente
pode ser obtido com o envolvimento do empregado e com a sua
percepção de pertencer, fazer parte da organização.
32. A empresa, em contrapartida, deve se cercar de trabalhadores de
desempenho superior para poder competir no mercado.
33. Para ser uma empresa de desempenho superior há que se ter
empregados de desempenho superior, pois não dá para ter desempenho
superior com pessoal "meia boca".
34. Para ser uma empresa de desempenho superior há que se ter clima
e ambiente organizacional que leve os empregados a ligarem sua chave
interna da motivação e a sua percepção de pertencer;
35. A empresa para ter um desempenho superior cria parceria com seus
empregados criando condições para o auto-desenvolvimento.
36. A empresa para ter um desempenho superior só mantém em seus
quadros os empregados com desempenho superior.
37. Este contexto, embora conhecido e dominado, tem encontrado
barreiras para sua aplicação; repetindo-se o passado que não
apresenta mais resultados satisfatórios no presente.
38. O discurso das empresas brasileiras já é de pós-modernidade, mas
a ação, embora presente em algumas poucas empresas, está ainda vindo
a passos bem mais lentos ...
Carlos Alberto de Faria é sócio diretor da Merkatus - Fonte:
Merkatus