Uma Casa por um Clipe!
Por Luís Sérgio Lico
02/05/2008
Muitos já ouviram esta história virtual. Mas como a esmagadora
maioria ainda não sabe, ou já deletou da memória de curta duração,
eu conto assim mesmo. O caso verídico, embora fantástico, terminou
numa pradaria perdida do Canadá, ano passado. Vamos ver se serve
para empreendedores!
Tudo começa quando Kyle MacDonald, cansado de procurar emprego e
gastar dinheiro com selos e clipes, pensou em melhorar de vida. Sim,
seu currículo de duas páginas, precisava de algo que as mantivesse
unidas. Como não gostava de grampos, ou sequer tinha um grampeador,
usava clipes.
Mas não era qualquer clipe. Tinha comprado – barato – uma caixa de
clipes vermelhos e achava que isto deveria ser um diferencial. Na
verdade, a situação estava feia e ele não sabia o que fazer. Então,
caiu a ficha – ou o clipe. Até aqui é ficção, o que segue está
inscrito na história.
A pergunta que ele fez: Afinal, porque não utilizar o poder das
comunidades de escambo da Internet para trocar seu clipe por algo
melhor, seguindo as trocas até conseguir uma casa? Fim da fase de
planejamento: vamos implementar o projeto.
Então ele anunciou: “Troco esse clipe vermelho por uma casa. Falar
com Kyle.” Estamos em 2005. Para efeito didático e topológico, vou
resumir o processo e dizer que a coisa tomou forma, terminou bem e
irá melhor ainda ao longo prazo.
- o clipe vermelho foi trocado por uma caneta em forma de peixe;
- a caneta em forma de peixe por uma maçaneta de argila com uma cara
engraçada;
- a maçaneta por fogão de camping;
- o fogão por um gerador vermelho;
- o gerador por uma festa instantânea;
- uma festa instantânea por veículo adaptado para o gelo;
- o veículo por uma viagem paga para Yahk;
- a viagem por um caminhão;
- o caminhão por um contrato para filmar;
Mas não era o fim e nem demorou muito... Na 14ª troca a cidade de
Kipling, no condado de Saskatchewan, ofereceu o último lance. A
prefeitura aceitaria trocar o papel no filme, por uma casa reformada
com escritura, honras cívicas, bônus e 1.100 m2 de área dividida em
dois andares. Kyle e sua namorada se mudaram para o número 503 da
Main Street: Por um clipe vermelho!
Quais as premissas do negócio? O sujeito não tinha nada além de
sonhos impossíveis, de repente tem uma idéia engraçada e fica
milionário? Lá a vem historinha para motivar... Realmente, muitos
pensam assim. Até ouço os argumentos: É sorte! Não acontece duas
vezes! E eu com a Anac? Mas, não! Para desespero dos céticos, a
coisa ainda continua. Virou livro, blog, a história está sendo
adaptada para o cinema. Além disso, a casa, agora novo ponto
turístico, os obriga a gerenciar toda esta atividade e trocá-las por
milhares de dólares. É isso aí, cara-pálida! Há muito mais de lucro
na inovação do que na cópia.
Eu não resisti e caí em cima com análise e tudo: O estratégico aqui
foi o management das matérias-primas do sonho (o tão maltratado
intangível). Trata-se, também da afirmação do terceiro conceito de
liberdade. Resgata a representação e a vontade. Melhor ainda,
identificamos a feliz delegação de um canal para realizar a idéia na
topografia web, o que significa um correto diagnóstico situacional.
Após este insight, o líder age imediatamente, inspirado em sua
visão, missão e valores; não temendo qualquer ridículo. Cuida
pessoalmente dos detalhes, mas sem se perder no micro-cosmo
operativo.
Iniciado o processo, divulga suas pretensões e as discute
seriamente. Acredita ser possível e tenta convencer os demais. Vai
aumentando o network e firmando posição, ao mesmo tempo em que não
se prende demais à atividade. Isto permite filtrar as ofertas e
oportunidades. Paralelamente, alimenta o fluxo de caixa com
terceiras fontes, buscando equilibrar tempo e investimento.
Reconhece e aceita negociações e parcerias, as mais improváveis
possíveis. Seu foco alinha-se com sua postura. Está comprometido com
o projeto.
Procura a transparência e agilidade nos processos, tendo em vista
não a forma atual, mas como tudo poderá se configurar no horizonte
de eventos do futuro. Mantém a tranqüilidade quando o prazo estoura
e não aceita somente resultados bons. Embora sem previsões para o
objetivo, continua com o projeto e – finalmente - seis meses depois,
tem gente do mundo inteiro escrevendo sobre o caso. O que temos aqui
é o cumprimento de todas as etapas essenciais de um negócio, cuja
estratégia consegue elidir o Match 5 das forças do mercado e, pela
originalidade concluir seu propósito.
O que isto tem a ver com sua vida, equipe, empresa ou realizações?
Sei lá, meu! Tire suas próprias conclusões. Estou tentando
aproveitar a segunda onda. Alguém aí tem um mouse amarelo? Quero
trocar por uma passagem para a lua!
Luís Sérgio Lico é Filósofo e Consultor. Desenvolve Treinamentos e
Palestras em Excelência Profissional. Autor dos Livros: O
Profissional Invisível e O Fator Humano. Visite o site:
www.consultivelabs.com.br