As virtudes burguesas
Por Raúl Candeloro
17/12/2008
Deirdre McCloskey é um caso único no
mundo dos economistas. Não apenas por
ter começado a vida como Donald
McCloskey (transformou-se em Deirdre
depois de uma operação de troca de
sexo), mas principalmente por ser uma
das vozes de mais autoridade e
conhecimento a questionar os métodos
matemáticos pretensamente “científicos”
de economistas. Ela também adora dar
alfinetadas na linguagem rebuscada que
os economistas usam para, segundo a
professora, parecerem mais inteligentes
e cultos do que realmente são.
Professora de Economia e História na
Universidade de Illinois, em Chicago,
McCloskey defende que o capitalismo tem
sido atacado de maneira injusta, por uma
mistura de ignorância e interesses
políticos por parte de pequenos grupos.
Ela é da opinião (da qual, pessoalmente,
compartilho) de que o capitalismo foi,
de longe, o melhor sistema econômico
criado até agora para melhorar a
qualidade de vida das pessoas.
O problema, segundo ela, é que se passou
a ter uma visão utilitária do ser humano
a partir do século XIX – ou seja, que o
ser humano só fica mais feliz se tiver
mais bens materiais. Entretanto, ainda
de acordo com McCloskey, as raízes
verdadeiras do capitalismo são outras –
a ética de Aristóteles e as virtudes
cristãs. Ao trocar essas raízes pelo
utilitarismo, começou a enfatizar os
bens materiais em troca do resto,
causando muitos dos problemas que vemos
hoje.
Para ajudar na solução do problema, a
professora lançou recentemente um livro
chamado As Virtudes Burguesas. São sete,
e deveriam servir como base para a vida
de qualquer profissional, principalmente
de nós, vendedores.
Prudência – Não apenas para comprar
barato e vender com lucro, mas também
para trocar e não invadir, para calcular
as conseqüências e para perseguir a
excelência com competência.
Temperança – Para economizar e acumular,
lógico. Mas também para entender que
devemos acumular não apenas dinheiro e
bens, mas sim conhecimento sobre a vida
e o mundo dos negócios, para ouvir com
humildade nossos clientes, para resistir
à tentação da desonestidade, para sempre
perguntar se não estamos comprometendo
nossos valores.
Justiça – Para insistir na propriedade
privada honestamente conquistada. Mas
também para ter a coragem de pagar bem
quem trabalha bem, para honrar o esforço
do trabalhador, para acabar com
privilégios, para valorizar as pessoas
pelo que fazem, para alegrar-se e
aceitar sem inveja o sucesso dos outros.
Coragem – Para tentar novas formas de
fazer negócios. Mas também para vencer o
medo de mudar, receber com educação e
cortesia as novas idéias, encarar o
trabalho com alegria e orgulho.
Amor – Para realmente importar-se com
funcionários, sócios, colegas, clientes,
fornecedores e outros cidadãos. Para
querer bem a humanidade, encontrando
maneiras de celebrar com produtos e
serviços vendidos no mercado o valor do
ser humano.
Fé – Para honrar sua comunidade e seu
negócio. Mas também fé para construir
monumentos que celebrem nosso passado,
que sustentem e reforcem nossas
tradições tão bonitas de comércio, de
ensino e de religião.
Esperança – Para imaginar uma maneira
melhor de fazer as coisas. Mas também a
esperança de ver o futuro não como algo
estagnado ou sempre se repetindo, mas
como algo que pode ser modificado
através do trabalho, do propósito e da
dedicação. Dessa maneira, o trabalho
deve ser encarado como um chamado
glorioso para cumprirmos nosso papel no
mundo.
Tudo que eu dissesse a partir de agora
só estragaria a sabedoria dessas sete
virtudes tão bem descritas pela prof.
Deirdre McCloskey. Mas se repensarmos o
capitalismo (e no processo a forma como
nossas empresas trabalham) usando essas
virtudes como referência, com certeza
teremos muito mais sucesso – financeiro,
social e humano. Justamente o que o
Brasil mais precisa neste momento.
Raúl Candeloro (raul@vendamais.com.br) é
palestrante e editor das revistas
VendaMais®, Motivação® e Liderança®,
além de autor dos livros Venda Mais,
Correndo Pro Abraço e Criatividade em
Vendas. Formado em Administração de
Empresas e mestre em empreendedorismo
pelo Babson College, é responsável pelo
portal www.vendamais.com.br.