7 Regras para se tornar um especialista
de Marketing
Por José Carmo Vieira de Oliveira
18/07/2009
O que é Marketing?
Os estudiosos desta disciplina tendem a
definir o marketing como a preocupação
de satisfazer as suas exigências
intelectuais, utilizando termos
incompreensíveis para a maioria dos
leitores. A maior parte das definições
começa esclarecendo que o marketing não
é propaganda, ou publicidade, para
depois descrever, longamente, o que
deveria ser.
Numa primeira abordagem, podemos definir
marketing como o conjunto dos meios de
que dispõe uma empresa, para vender os
seus produtos e serviços. De acordo com
a concepção tradicional, o marketing era
uma atividade acessória para as
empresas, em relação à produção. O seu
âmbito limitava-se à área de vendas,
distribuição física e publicidade. O seu
campo de aplicação era, apenas, dos bens
de grande consumo. Na concepção moderna
do marketing, o seu papel é primordial
na gestão de empresas. O seu âmbito de
atuação engloba desde a concepção do
produto, até o serviço pós-venda. Sua
área de intervenção é diversificada,
incluindo, por exemplo, o setor
financeiro, as agências de propaganda e
as organizações não lucrativas.
A nova visão do marketing
Durante muito tempo, o marketing
confundiu-se com a atividade dos
vendedores, a distribuição física dos
produtos e a sua promoção. A estas
funções juntava-se, por vezes, a
publicidade, cujo papel era apoiar o
trabalho dos vendedores. Mas as empresas
aperceberam-se de que não bastava
procurar escoar uma mercadoria já
vendida a certo preço fixo, era
necessário perceber se havia clientela.
Melhor ainda, era preciso partir da
análise das necessidades do mercado,
para decidir o que se ia produzir e a
que preço. Além disso, a manutenção de
uma clientela fiel exigia que os
compradores estivessem plenamente
satisfeitos. Logo, faltava
assegurar-lhes serviços de pós-venda.
Como conseqüência da extensão das
funções dos profissionais de marketing,
distingue-se hoje o marketing
estratégico e o marketing operacional.
Marketing Estratégico é relativo às
funções que precedem a produção e a
venda do produto. Inclui o estudo de
mercado, a escolha do mercado-alvo, a
concepção do produto, a fixação do
preço, a escolha dos canais de
distribuição e a elaboração de uma
estratégia de comunicação e produção.
Marketing Operacional designa as
operações de marketing posteriores à
produção, tais como a criação e
desenvolvimento de campanhas de
publicidade e promoção, a ação dos
vendedores e marketing direto, a
distribuição dos produtos e
merchandising e, por fim, os serviços de
pós-venda.
A diversificação do conceito
A concepção moderna do marketing surgiu,
em primeiro lugar, na indústria de bens
de grande consumo, como detergentes,
produtos alimentares, higiene e limpeza.
Em seguida, estendeu-se aos bens
semiduráveis, ou automóveis,
eletrodomésticos, mobiliário, aos
serviços de grande público, viagens e
turismo, livros, discos, espetáculos e
às empresas de distribuição, como
supermercados e hipermercados. Qualquer
um desses setores tem por vocação vender
produtos ou serviços a clientes
potenciais, o que constitui o próprio
objetivo do marketing. Logo, esta foi
uma extensão natural.
Nas últimas décadas, o marketing
alargou-se às organizações sem vocação
comercial, ou lucrativa. Após a Segunda
Guerra Mundial, os partidos políticos
descobriram o marketing eleitoral.
Depois chegou à vez as organizações
sociais, filantrópicas, religiosas e de
caridade de apelarem aos instrumentos de
marketing, para tentar modificar os
hábitos do público, como alcoolismo,
tabagismo, drogas, para obter donativos,
como o caso da Unicef, Cruz Vermelha,
AMI, ou ainda para atrair as atenções
dos fiéis, quanto às seitas religiosas.
Por último, também os organismos
públicos, e as coletividades locais,
passaram a recorrer ao marketing de
campanhas governamentais ou municipais.
Essa extensão recente do marketing, para
setores não lucrativos, obriga à
alteração da definição inicial. O
marketing é o conjunto dos métodos e dos
meios que uma organização dispõe para
promover, nos públicos pelos quais se
interessa os comportamentos favoráveis à
realização dos seus próprios objetivos.
As Regras de ouro da profissão
A atividade do profissional de marketing
consiste em entender, e modificar as
atitudes e comportamentos dos
consumidores, de forma que sejam
favoráveis aos objetivos da organização.
Tal só é possível dentro de certos
limites, devido às diferentes
características individuais do
consumidor. Os responsáveis pelo
marketing das organizações devem
esforçar-se para ver os consumidores
como eles são, de fato, e não como
gostariam que fossem. Eis as sete regras
para se tornar um especialista de
marketing:
1. Evitar a miopia de marketing
Em 1960, Theodore Levitt, professor de
Harvard, escreveu o artigo que se tornou
um clássico da literatura de gestão, no
qual sublinhou os perigos do marketing
de vistas curtas. Esta miopia consiste
na atitude de concentração nos produtos
da empresa, sem atender aos mercados e à
concorrência. Levitt ilustrou esta
postura com o exemplo das companhias de
trem norte-americanas, bastante
poderosas no início deste século, mas
que hoje agonizam no segmento de
transportes de passageiros. Elas não
compreenderam que a grande ameaça estava
no desenvolvimento das auto-estradas, e
dos transportes aéreos, e não no apuro
técnico dos comboios. Faltou-lhes olhar
para além do produto, um erro comum a
muitas empresas. Para o profissional de
marketing, um produto é um meio, não um
fim. Há outros critérios fundamentais
para dar resposta às expectativas dos
consumidores, como o preço, a imagem ou
a distribuição. Charles Revlon, o
fundador da marca Revlon, dizia: "Na
fábrica produzimos cosméticos, nas
perfumarias vendemos sonhos".
2. Estar sempre próximo dos clientes
A ciência do marketing apóia-se no
estudo dos consumidores. Nos últimos 20
anos, conseguiram-se progressos
consideráveis neste domínio, através da
"scannerização", ou seja, da leitura dos
códigos de barras nas caixas
registradoras dos grandes espaços de
distribuição, dos estudos de audiência
nos meios de comunicação, na pesquisa
dos hábitos e atitudes dos consumidores
e distribuidores. Todos estes meios
geram informações de grande utilidade.
Mas estes têm os seus limites. Os
estudos de mercado auxiliam as decisões
de marketing, mas não dizem o que deve
ser feito. O marketing é uma disciplina
voltada para a ação, e não para o
domínio dos estudos.
Devemos recusar duas posições extremas:
não estudar o mercado, confiando apenas
na nossa intuição ou experiência, ou
explorar indefinidamente os estudos,
praticando um marketing de escritório. É
preciso ir ao encontro dos consumidores
e distribuidores, ou seja, estar próximo
do mercado, intelectualmente e
fisicamente. Infelizmente, são poucos os
responsáveis de marketing que abandonam,
regularmente, o seu local de trabalho
para acompanhar os vendedores, ou para
observar, no local de compra, a natureza
e o comportamento da sua clientela.
3. Basear as decisões em fatos e não em
opiniões
Os iniciados do marketing tendem a
basear sua opinião nos estudos de
mercado. Os mais experientes,
entretanto, preferem selecionar os fatos
que reforçam suas anteriores convicções.
As decisões devem ser baseadas em fatos,
não em opiniões. Por vezes, a lógica
pode ser ultrapassada pelos fatos de
marketing. Por outro lado, é perigoso
extrapolar a causa de um êxito de um
produto para um novo mercado, sem tomar
a precaução de realizar estudos sobre
esse mercado inexplorado. As
dificuldades da Eurodisney, hoje
Disneyland Paris, devem-se à importação
de um conceito de parque de diversões
americano, para um novo mercado com
características diferentes - os europeus
gastam menos dinheiro, procuram hotéis
de categoria inferior e as estadas são
mais curtas. Estas são duas fontes de
erros típicas nas decisões de marketing.
4. Manter o espírito crítico, de síntese
e de antecipação
Por vezes, as informações prestadas
pelos estudos de mercado são
superabundantes, apresentam lacunas, ou
são contraditórias. É preciso filtrar os
fatos mais importantes. Logo, o
marketing é, muitas vezes, um exercício
de síntese. Por outro lado, os dados
objetivos inventariados pelos estudos
são observações sobre a evolução passada
dos mercados, e nunca do futuro. O êxito
de uma pesquisa resulta, muitas vezes,
da formulação da pergunta e do método
empregado. O mesmo é válido para o
marketing. A exploração dos dados deve
ser precedida de uma análise crítica do
método de busca de informação.
5. Vigiar a concorrência
A maioria dos mercados caminha para a
saturação, e as empresas se batem por
fatias cada vez menores de mercado. Em
conseqüência, o marketing de fidelização
torna-se mais importante do que o
marketing de conquista. Desde o início
do ciclo de vida de um produto, é
fundamental impedir que os clientes
partam para a concorrência em busca do
melhor preço, qualidade do produto e do
serviço, ou seduzidos pela imagem de
marca. Por isso, deve apostar-se na
vigilância constante da concorrência,
posicionando corretamente as marcas
nesses mercados saturados. Todos os
estudos mostram que os consumidores são
cada vez menos fiéis às marcas.
6. Ousar, com riscos calculados
As técnicas de marketing, por mais
sofisticadas que sejam não conseguem
suprimir todas as incertezas. O
marketing é feito de inovações e,
portanto, de riscos. Inovar é tentar
oferecer um "algo mais" para o cliente.
Segmentar um mercado é decidir
especializar-se junto a uma categoria
específica de consumidores.
Posicionar uma marca é definir-lhe um
território próprio, entre os
concorrentes. Comunicar é destacar
certos traços distintivos de uma marca,
de um produto, ou de um serviço.
Para se diferenciar, num universo de
extrema concorrência, é preciso ser
audacioso, avaliando, simultaneamente,
os riscos. Isso porque o investimento
financeiro, em pesquisa e
desenvolvimento, na produção, ou
comercialização e comunicação é, em
regra, considerável, e a taxa de
insucesso elevada, de 70% a 80% para
novos produtos. A atitude de marketing é
feita de uma audácia calculada. Deve
haver, sempre, uma preocupação
contabilística em cada profissional de
marketing.
7. Ser constante
As empresas cometem um erro gigantesco
quando fazem alterações permanentes às
políticas de produto, de preço, de
distribuição e de comunicação, pois se
corre o risco de perturbar os
distribuidores e consumidores. Os
grandes êxitos de marketing baseiam-se
neste princípio. Por outro lado,
constância não significa imobilidade. É
preciso saber adaptar-se às mutações do
mercado, ou mesmo antecipá-las,
preservando, ao mesmo tempo, a
personalidade das marcas. O Club Med,
cuja imagem nos anos 70 era fortemente
conotada com a liberdade sexual, soube
evoluir, tornando-se um clube para a
família e os amantes da prática
desportiva.
José Carmo Vieira de Oliveira é
Consultor do Sebrae-SP
Fonte: Site SEBRAE-SP