Ah, que saudade de Maria
Por Ivan Postigo
03/11/2009
Maria. Sim, esse é o seu nome.
Pequena, discreta, reservada, culta,
inteligente, prestativa, bem informada,
dedicada, estudiosa, excelente aluna,
pessoa de fácil trato, iniciando uma
carreira.
À medida que as tarefas lhe são
delegadas as desempenha com desembaraço
e sem alvoroço. Tudo lhe parece simples,
sem maiores complicações, a ponto de não
ser muito observada.
Como está sempre disponível, cada vez
recebe mais incumbências.
Essa descrição nos deixa curiosos e não
há como não perguntar: - O que faz
Maria?
Hum, parecia simples responder, mas
Maria faz um pouco de tudo.
Vamos mudar a pergunta: - Qual o seu
cargo?
Na sua ficha, no departamento pessoal,
consta “Auxiliar administrativo”.
- E o que faz um auxiliar
administrativo?
- Ah, na nossa empresa o que alguns
pedem e outros mandam!
Nossa, ainda não conseguimos descobrir o
que faz Maria!
Bom, Maria lança faturas no sistema,
prepara as planilhas de caixa, manda
duplicatas para bancos, atualiza contas
a receber e pagar com integrações
bancárias, cobra clientes inadimplentes,
preenche os cheques, chega mais cedo
para trocar as fitas de back-up, mantém
alguns arquivos em dia e um “monte de
outras coisas” .
Maria é uma excelente funcionária,
deverá ter um grande futuro nessa
empresa.
Não, Maria já não trabalha mais nessa
organização.
Ela até que não reclamava de chegar mais
cedo do que os outros, mas como morava
longe estava gastando muito com
combustível, então resolveu procurar
algo mais perto de casa e “deu sorte” :
Foi contratada por uma grande empresa.
Para nós a situação ficou mais
complicada, algumas coisas só ela sabia
fazer.
As tarefas foram distribuídas e o
pessoal ainda não pegou o jeito, até o
controle de caixa está meio “ bagunçado”
.
Este mês acho que contabilidade não
fecha na data a não ser que todo mundo
ajude. Vai ter horas extras e não serão
poucas.
Será complicado explicar para a direção
que não poderemos cumprir as datas.
Ninguém poderia imaginar que a partida
de Maria fosse complicar tanto assim!
Uma história boba, aquelas do herói ou
heroína que parte para terras distantes,
deixando aquele enorme vazio?
Não, verdadeira, acontece todos os dias,
algumas são desprezadas, outras há ainda
a tentativa de resgate de Maria.
Ocorre que Maria, cada vez mais
experiente, vai superado obstáculos,
deixando sua marca e as empresas que não
a reconhece, afinal oportunidades sempre
aparecem.
Como Maria não foi notada na empresa?
Para o Rh era uma auxiliar, para seus
chefes a pessoa que executava os
trabalhos rotineiros, para a diretoria a
menina da administração, para seus
amigos uma pessoa quieta que estudava e
trabalhava o tempo todo.
E sua genialidade?
A observação era geral : - Do jeito que
estudava só poderia tirar notas altas.
A genialidade, muitas vezes, está em se
fazer o básico bem feito.
Sendo, você, um piloto de avião ou um
especialista em explosivos, por exemplo,
seguir todas as regrinhas é o mínimo que
o bom-senso recomenda.
Maria sabia que ao não cumprir as
tarefas à risca teria uma bomba nas
mãos,e ainda, fazia porque gostava e
queria aprender.
Na sua atual empresa assumiu um cargo
interessante, atende um programa de
treinamento para gerenciar o
departamento, trocou o carro, está mais
sofisticada, desinibida, até mais
falante!
Claro, fez curso de oratória!
Fato é que não sabemos se a invejamos ou
lamentamos sua partida, sobrou trabalho
para todo mundo: Ah, que saudade de
Maria!
Ivan Postigo é Economista, Bacharel em
contabilidade, pós-graduado em
controladoria pela USP. Autor do livro:
Por que não? Técnicas para estruturação
de carreira na área de vendas e diretor
da Postigo Consultoria de Gestão
Empresarial - Fones (11) 4526 1197 / (
11 ) 9645 4652
www.postigoconsultoria.com.br -
ipostigo@terra.com.br