Como (não) espantar clientes
Por Gustavo Carrer I. Azevedo
20/07/2009
Desde o início dos anos 1990, o varejo
tem colocado o atendimento a clientes
como foco principal das atenções. Não
que no passado isso não fosse
importante, mas com a concorrência mais
fraca e a demanda reprimida, a qualidade
no atendimento acabava sendo relegada a
um segundo plano. Nos dias atuais, a
maioria dos varejistas já entende que
satisfazer plenamente o cliente não é
apenas uma estratégia de diferenciação,
mas de sobrevivência. Porém, ainda
existe uma distância entre o que sabemos
que deve ser feito e o que acabamos
encontrando nas lojas.
Administrar uma empresa varejista
tornou-se uma atividade de grande
técnica, talento e dedicação. As tomadas
de decisão são contínuas e envolvem
conhecimento de áreas bastante
diferentes e complexas como a gestão de
compras e estoques, marketing e vendas,
além de recursos humanos, ou
financeiros, só para citar as mais
importantes.
Num ambiente com tantas variáveis a
serem analisadas, os pequenos detalhes
do atendimento na loja acabam passando
despercebidos. São eles que poderão
fazer a diferença no futuro, uma vez que
o investimento para trazer o consumidor
até a loja pela primeira vez é, muitas
vezes, maior do que converter um
visitante em cliente freqüente. Existem
diversas razões para que um comprador em
potencial não venha a tornar-se cliente
fiel. Nesse artigo vou tratar apenas das
atitudes da força de vendas que os
espantam, às vezes para sempre.
As falhas no atendimento já começam pelo
descuido dos vendedores ao abordar o
cliente, muitas vezes fazendo as
"desgastadas" perguntas do tipo "Posso
te ajudar?", antes mesmo que o
consumidor tenha tido tempo de receber
as informações visuais contidas nas
vitrines ou no interior da loja. O
processo de compra possui uma importante
fase de absorção de informações por
todos os sentidos humanos - visão,
audição, tato, olfato e paladar (as duas
últimas principalmente para alimentação)
- que não deve ser perturbada.
Quando um cliente está em frente a uma
vitrine, ou entra num estabelecimento,
ele recebe uma forte carga de
informações visuais (modelos, cores,
design, preço, combinações) e auditivas
(música ambiente, ruídos) que serão
processadas e analisadas. Esta etapa da
compra demora apenas alguns segundos,
porém é muito importante que não ocorram
interferências, como por exemplo, uma
pergunta inoportuna feita pelo vendedor.
Existe o momento mais adequado para a
abordagem. Porém, não existe um cálculo
preciso de quando ele ocorre, uma vez
que lidamos com pessoas diferentes. O
que podemos afirmar é que sempre
ocorrerá uma janela para a abordagem
ideal ao cliente.
Para saber a hora certa do "ataque", o
vendedor deve observar os olhos do
cliente e procurar sinais indicando que
eles fixaram um alvo ou que perderam o
interesse nos produtos. Nesse exato
momento a janela se abre e a abordagem
deve ser feita, senão ela se fechará e o
cliente reiniciará a busca de
informações.
Após uma abordagem bem sucedida, ou
quando o cliente busca espontaneamente o
atendimento, um outro grupo de falhas
pode ocorrer. Aquelas relacionadas com a
apresentação pessoal e a postura da
equipe de vendas, é um exemplo. Entre as
mais abominadas destacam-se: fumar ou
cheirar a cigarro, suor em excesso,
mascar chicletes ou comer algo. Também o
desleixo com a própria aparência: barba,
cabelos, maquiagem, roupa, etc., e a
comunicação corporal: caminhar e
cumprimentar com preguiça, manter os
ombros caídos, permanecer sentado ou
encostado em algo. Expressão enfadonha
também é indesejável. Precisamos sempre
estar atentos, pois o corpo diz muito a
nosso respeito!
O modo de falar do vendedor é muito
importante. Repetidos erros de
português, gírias, tratamentos pessoais
forçados ou termos técnicos em excesso
acabam "ofendendo" a capacidade
intelectual do cliente. Outra questão, é
o quanto ou sobre o que falar. A época
do vendedor que fala muito já acabou,
muito embora ainda possamos encontrar
alguns "ladrões de tempo" pelas lojas.
O cliente, na maioria das vezes, tem
pressa, ou tem algo mais importante para
fazer do que ouvir estórias e mais
estórias. Assim a recomendação é:
pergunte e ouça mais, fale o menos
possível, forneça apenas a informação
necessária para uma boa compra e jamais
entre em assuntos pessoais ou polêmicos,
mesmo que o cliente peça. A loja é um
lugar de negócios, não um ponto de
encontro.
O bom vendedor procura agir de forma
natural, transmitindo segurança e
tranqüilidade ao comprador. O diálogo
com o cliente deve ser agradável durante
toda a compra, sendo imprescindível que
a equipe de atendimento, desde o
vendedor até o caixa, dê atenção, olhe
nos olhos, e evite ser lacônica,
mecânica ou repetitiva.
Como é impossível identificar quem se
tornará ou não um cliente habitual da
loja, trate todos da mesma forma. Ainda
é comum certa discriminação por parte da
equipe seja pela aparência do consumidor
ou mesmo pelo objetivo da visita. Por
exemplo, ainda é comum recebermos uma
atenção menor quando vamos trocar uma
mercadoria. Mal sabem os vendedores que
as trocas são grandes oportunidades de
novas vendas ou de conquistar a
fidelidade dos compradores. Vale lembrar
aqui, que trocas devem ser feitas nas
condições previstas por lei, isto é,
qualquer dia do mês ou da semana. Assim
as abomináveis placas "Não Fazemos
Trocas nos Finais de Semana" além de
espantarem os clientes (até potenciais
clientes), ainda estão contrariando o
Código de Defesa do Consumidor.
Os vendedores devem ainda tomar muito
cuidado com as promessas que fazem aos
clientes. Uma pequena falta ou
esquecimento pode transformar um cliente
fiel, num inimigo. Para isso,
recomenda-se o uso de uma agenda e do
cadastro de clientes, onde são agendados
os futuros contatos, bem como um
histórico do relacionamento.
Para finalizar, ainda existem duas
atitudes que realmente irritam os
clientes. A primeira delas é o vendedor
não fornecer com segurança as
informações necessárias para o
fechamento do negócio, como, por
exemplo, não possuir uma tabela de
preços atualizada ou uma calculadora
para calcular com precisão uma
prestação. A outra, é ser totalmente
inflexível quando houver insistência que
ele consulte o gerente ou o proprietário
da loja sobre uma proposta ou
informação.
O empresário preocupado e focado na
redução das atitudes negativas, que
geram perdas diárias de clientes, estará
mais preparado para enfrentar os grandes
desafios proporcionados pelo varejo nos
próximos anos.
Gustavo Carrer I. Azevedo é Consultor do
Sebrae-SP
Fonte: Site SEBRAE-SP