O consumo verde no Brasil. Algumas considerações e reflexões
Por Fred Tavares
18/04/2008
O fenômeno do consumo de produtos e marcas1 verdes no Brasil é resultado
da multiplicidade da composição de vários fatores articulados através
das lógicas da sociedade de controle e do capitalismo mundial integrado,
do paradigma da sustentabilidade e, principalmente, pela participação
dos atores sociais (empresas, consumidores, mídia e ONGs), por
intermédio do conceito de rizoma.
Como biopoder, esse fenômeno é desenvolvido na modernidade líquida
(pós-modernidade) como um dispositivo de controle capaz de articular
vida, modos de ser; além de produzir subjetividades, ordenações
políticas e sociais, cultura de consumo e, também, responsabilidade
ambiental.
O consumo de produtos e marcas verdes se apresenta graças a um
agenciamento mútuo e coletivo, em que cada um dos atores influencia e é
influenciado por esse movimento sinóptico.
Nesse sentido, existem aspectos importantes a serem destacados na sua
produção: uma sociedade mais responsável e preocupada com assuntos
relacionados à temática ambiental; uma demanda por “produtos
ecologicamente corretos”; uma mídia mundial, dinâmica e transparente,
que passa a incorporar valores e princípios éticos; parcerias entre
ONGs, governos, empresas e sociedade civil com intuito de buscarem ações
que ratifiquem a estratégia da sustentabilidade; e também uma nova
estratégia para as empresas se diferenciarem no mercado e na percepção
dos seus consumidores.
Ou seja, fatores políticos, sociais, econômicos, culturais, ambientais
se interconectam, por meio de um rizoma, com sua multiplicidade de
vetores e movimentos; individualmente e coletivamente, tendo a mídia um
papel estratégico de difusão e produção de sentido, sendo um dos atores
em condições de atravessar os demais na criação da cultura de consumo
verde no Brasil.
Se os atores sociais ajudam a constituir o fenômeno do consumo de
produtos e marcas verdes, a sua construção também passa pela complexa
rede de fatores a ele ligados, ou seja, os aspectos sociais, culturais,
econômicos, políticos e ambientais.
Nessa perspectiva, os principais são: a mundialização, o desenvolvimento
sustentável e o capitalismo mundial integrado, inseridos no âmbito da
sociedade de controle.
Deve-se, ainda, considerar o tempo dos fatos e acontecimentos, isto é,
contextualizar a noção de modernidade líquida como o marco temporal que
corrobora a idéia de uma sociedade volátil, consumista, que busca ter
para pertencer. E, nesse sentido, os produtos e as marcas verdes podem
ser entendidos como dispositivos de controle dessa nova sociedade de
consumo.
Nessa nova ordem mundial, em que as relações entre sociedade e meio
ambiente ganham novos contornos e dimensões, através do olhar do
desenvolvimento sustentável, desponta o consumo de produtos e marcas
verdes como um novo dispositivo de controle social identificado na
modernidade líquida (pós-modernidade) como uma das possíveis estratégias
de produção da sociedade de controle ou de consumo.
Através do paradigma do capitalismo mundial integrado, o consumo verde
se alastra no Brasil, potencializado pela influencia de diversos atores
sociais (empresas, mídia, ONGs, consumidores), sob a forma de rizoma,
como um biopoder capaz de articular vida, regular o social e produzir
modos de ser (subjetividades), influenciando tanto a esfera coletiva
quanto individual.
Nesse sentido, o consumo desses produtos vem crescendo, com a
participação de empresas, mídia, ONGs e dos próprios consumidores.
Destarte, diversas empresas, no Brasil, vêm investindo em programas
ambientais e desenvolvendo produtos “ecologicamente corretos”, tais como
Mcdonald´s, Natura, Michelin, IBM, Xerox, entre outras, além, é claro,
de já estarem certificadas com o ISO 14001. Definitivamente a questão
ambiental entrou na pauta das decisões corporativas, uma prova disso,
segundo o Inmetro, é que o número de empresas certificadas cresceu em
mais de 400% de 2001 a 2004.
Além disso, a participação da mídia com a veiculação de publicações
especializadas, merchandising em programas de televisão, entre outras
ações, vêm ajudando a produzir mais consciência ambiental e
influenciando o imaginário de todo o mercado, principalmente, pelos seu
alcance e sua cobertura nacional.
Um outro ponto importante a ser destacado é a participação das ONGs no
processo de difusão da responsabilidade ambiental e social, em programas
como reciclagem de lixo, educação ambiental nas escolas e muitos outros
projetos.
Nesse rizoma, os “consumidores verdes” também têm um papel relevante
nessa produção, não como uma tendência, mas como uma realidade de
consumo; esse mercado-alvo se encontra hoje em um estado de demanda
latente, atuando de forma consistente na solicitação de produtos mais
responsáveis em relação às práticas ambientais, se dispondo a pagar mais
caro (premium price), porém com consciência e preocupação ambientais.
O consumo verde é resultado dessa produção coletiva e individual. Todos
influenciando todos; todos sendo influenciados por todos. A compreensão
desse fenômeno passa por um olhar interparadigmático, utilizando-se,
fundamentalmente, dos recursos teóricos da filosofia, psicossociologia,
antropologia, administração, comunicação, economia, e das ciências
ambientais, a fim de melhor radiografar e estabelecer a cartografia do
consumo de produtos e marcas verdes no mercado brasileiro.
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1- O conceito de produto verde apresentado neste artigo está baseado nas
seguintes características / funções:
a) É um bem (durável ou não-durável) fabricado, segundo política
deliberada de gestão ambiental de uma dada empresa, através do paradigma
da sustentabilidade;
b) É produzido de acordo com as práticas ambientais vigentes e/ou em
conformidade às normas de certificação ambiental (ISO 14000 / ISO
14001);
c) É um produto que valoriza o meio ambiente, transmitindo valores
morais de ordem ecológica e/ou social associados à marca, com objetivo
de posicionar a idéia de compromisso ambiental.