Ele Sabe o Caminho - Um Visionário no Mundo dos Negócios
Por Inácia Soares
14/08/2009
Ele está na reta final da instalação de novos armazéns. Já fez o mais difícil: definiu o local. Nessas horas, desafia a tudo e todos. Escolhe a região sem fazer qualquer pesquisa. Visita muitas cidades, olha ao redor e, muitas vezes, não há qualquer progresso por perto. Mas, ele enxerga na poeira, um futuro que os números ainda não mostram. Logo adiante, o sucesso aguarda mais um empreendimento de Carlos Otavio Stein Pena. Sempre foi assim. Por que agora seria diferente?
Não é de hoje que os especialistas tentam explicar o perfil dos empreendedores. Pessoas audaciosas que acreditam em resultados quase impossíveis e que têm idéias geniais com uma naturalidade incontrolável. Eles simplesmente sabem! Que ninguém ouse querer entender como. É uma mistura de sentimento com razão. De experiência com intuição. Mas, não se engane achando que Carlos Otávio é um otimista. Quem trabalha com ele já se acostumou com a incrível capacidade que tem de ver problemas onde só há boas promessas. “Mas o melhor é que ele sempre acerta”, garante a esposa Lucia Helena.
A vida deste empresário mais parece uma história inventada, que vivida. Nascido em cidade pequena do interior de Minas teve que trabalhar na enxada para ajudar o pai a sustentar a casa. A família acreditava no estudo como porta para mudar de vida e concordou que Carlos Otávio viesse para Belo Horizonte em busca de trabalho para pagar os estudos. Chegou à capital com apenas 15 anos e continuou a ser trabalhador braçal. Sem qualificação, só arrumava serviço pesado. Concluiu o ensino médio e voltou para o interior para trabalhar com o pai em uma fazenda de gado leiteiro. Sem a mesma boa vontade que os irmãos com a escassez, ele começou a planejar a volta para BH.
A segunda fase repete a dificuldade de antes, mas agora, Carlos Otávio estava determinado a acertar. Entrou na faculdade de Administração e decidiu abrir um negócio. Para ter dinheiro vendeu terras do pai, sem autorização. O empreendedor abriu uma loja de produtos alimentícios em parceria com o irmão mais novo - Cláudio, que, a essa altura, também viera estudar em Belo Horizonte. Sócios nos negócios e nos sonhos. Tudo ia muito mal, pouco estoque, poucas vendas, sem capital de giro... Mas nas lojas vizinhas, a movimentação era boa. O que estava acontecendo? Inquieto e muito observador, ele pediu ao irmão que tentasse descobrir de onde vinham os caminhões carregados de feijão que chegavam à Ceasa a cada hora. Eram da Bahia, descobre Cláudio. Com o telefone do produtor nas mãos, ele se faz passar por um grande negociante de grãos e com uma habilidade incrível, convence o produtor a lhe vender várias toneladas. E os 30% exigidos para garantir o negócio? Isso era apenas um detalhe. Enquanto o irmão ia para o banco tentar um empréstimo, Carlos Otávio pegava o primeiro vôo para o norte da Bahia. Resumo da negociação: os irmãos conseguiram o fornecedor e a venda do feijão garantiu os custos de operação da loja por vários meses.
A fase hoje é outra, bem-sucedida e cheia de fornecedores. São mais de 20 empresas sob o comando dos dois irmãos no grupo Spasso Novagel. Em Minas, eles têm armazéns em Nova Ponte, Uberlândia, Uberaba, Sacramento e Ibiá. Carlos Otávio e Cláudio têm empresas de transporte de grãos com dezenas de carretas próprias; indústria de produtos lácteos com selo para exportação; indústria de produção de pré-cozidos; farináceos e derivados do milho; exportadora de grãos; administradora de imóveis e distribuidora de rações. Em 2009, os irmãos abrirão novos armazéns no interior de Minas, São Paulo, Goiás e Mato Grosso, fora outros negócios que ainda são segredo.
A estratégia de negociação com fornecedores foi mais uma idéia do visionário Carlos Otávio. A fim de garantir que a colheita dos produtos que enchem seus armazéns de grãos tenha qualidade crescente, já estão oferecendo consultoria comercial. Uma mão lava a outra. Garantindo grãos saudáveis, o produtor fica satisfeito e os armazéns lotados. Todo mundo ganha. “Eu preciso agir como os grandes, para me tornar um deles”. Falsa modéstia para o dono de um grupo que fatura mais de R$ 300 milhões por ano.
Ao contrário dos anos anteriores, em que centralizava todo o comando da construção de armazéns, hoje, Carlos Otávio delega. Aprendeu a fazer isso para crescer mais rápido. No caminho descobriu que cada funcionário tem um jeito que pode até ser pior que o dele, mas também pode ser melhor. Vale à pena correr o risco. Mas a lição mais importante que o empresário viveu foi entender que o erro ensina mais que a precaução. Passou a estimular a equipe a ousar mais e decidir por conta própria. “Parei de indicar os atalhos. Assim, eles evoluem mais rápido”, garante.
A crise financeira internacional já ronda os negócios, mas ainda discretamente. Como Carlos Otávio é um homem de sorte, até essa onda negativa parece estar trazendo uma boa oportunidade. É que o Grupo Spasso Novagel poderá entrar no setor de avicultura, assumindo a empresa de um devedor. Após 20 anos de trabalho abrindo novos negócios a cada ano, Carlos Otávio quer diminuir o ritmo, pisar no freio. Apesar de ter apenas 45 anos, ele sente vontade de se dedicar mais à família e ao lazer. Quer ter qualidade de vida. “Atualmente, até os funcionários estão querendo mais qualidade de vida, querem tempo para ir beber com os amigos”, afirma o empresário. O mesmo quer o empresário. Se for competente nessa meta, até poderá tomar o café da manhã todo dia ao lado dos filhos, mas é provável que no almoço esteja a centenas de quilômetros de casa. Isso porque ele acaba de comprar um avião que, certamente, não será dedicado apenas às viagens turísticas. Nada a lamentar. Em se tratando de um empreendedor visionário, a paisagem vista da cabine do piloto só vai aumentar a capacidade de Carlos Otávio de enxergar as oportunidades que ninguém mais vê.
Inácia Soares, jornalista e apresentadora do programa Mesa de Negócios, o mais antigo da TV mineira, exibido na TV Horizonte, professora do MBA Pitágoras, palestrante e coautora dos livros “Emoção, conflito e poder nas organizações” (Editora Com Arte/2009) e “Do Porteiro ao presidente” (Editora Com Arte/2009).
inaciasoares@mesadenegocios.com.br
Por Inácia Soares
14/08/2009
Ele está na reta final da instalação de novos armazéns. Já fez o mais difícil: definiu o local. Nessas horas, desafia a tudo e todos. Escolhe a região sem fazer qualquer pesquisa. Visita muitas cidades, olha ao redor e, muitas vezes, não há qualquer progresso por perto. Mas, ele enxerga na poeira, um futuro que os números ainda não mostram. Logo adiante, o sucesso aguarda mais um empreendimento de Carlos Otavio Stein Pena. Sempre foi assim. Por que agora seria diferente?
Não é de hoje que os especialistas tentam explicar o perfil dos empreendedores. Pessoas audaciosas que acreditam em resultados quase impossíveis e que têm idéias geniais com uma naturalidade incontrolável. Eles simplesmente sabem! Que ninguém ouse querer entender como. É uma mistura de sentimento com razão. De experiência com intuição. Mas, não se engane achando que Carlos Otávio é um otimista. Quem trabalha com ele já se acostumou com a incrível capacidade que tem de ver problemas onde só há boas promessas. “Mas o melhor é que ele sempre acerta”, garante a esposa Lucia Helena.
A vida deste empresário mais parece uma história inventada, que vivida. Nascido em cidade pequena do interior de Minas teve que trabalhar na enxada para ajudar o pai a sustentar a casa. A família acreditava no estudo como porta para mudar de vida e concordou que Carlos Otávio viesse para Belo Horizonte em busca de trabalho para pagar os estudos. Chegou à capital com apenas 15 anos e continuou a ser trabalhador braçal. Sem qualificação, só arrumava serviço pesado. Concluiu o ensino médio e voltou para o interior para trabalhar com o pai em uma fazenda de gado leiteiro. Sem a mesma boa vontade que os irmãos com a escassez, ele começou a planejar a volta para BH.
A segunda fase repete a dificuldade de antes, mas agora, Carlos Otávio estava determinado a acertar. Entrou na faculdade de Administração e decidiu abrir um negócio. Para ter dinheiro vendeu terras do pai, sem autorização. O empreendedor abriu uma loja de produtos alimentícios em parceria com o irmão mais novo - Cláudio, que, a essa altura, também viera estudar em Belo Horizonte. Sócios nos negócios e nos sonhos. Tudo ia muito mal, pouco estoque, poucas vendas, sem capital de giro... Mas nas lojas vizinhas, a movimentação era boa. O que estava acontecendo? Inquieto e muito observador, ele pediu ao irmão que tentasse descobrir de onde vinham os caminhões carregados de feijão que chegavam à Ceasa a cada hora. Eram da Bahia, descobre Cláudio. Com o telefone do produtor nas mãos, ele se faz passar por um grande negociante de grãos e com uma habilidade incrível, convence o produtor a lhe vender várias toneladas. E os 30% exigidos para garantir o negócio? Isso era apenas um detalhe. Enquanto o irmão ia para o banco tentar um empréstimo, Carlos Otávio pegava o primeiro vôo para o norte da Bahia. Resumo da negociação: os irmãos conseguiram o fornecedor e a venda do feijão garantiu os custos de operação da loja por vários meses.
A fase hoje é outra, bem-sucedida e cheia de fornecedores. São mais de 20 empresas sob o comando dos dois irmãos no grupo Spasso Novagel. Em Minas, eles têm armazéns em Nova Ponte, Uberlândia, Uberaba, Sacramento e Ibiá. Carlos Otávio e Cláudio têm empresas de transporte de grãos com dezenas de carretas próprias; indústria de produtos lácteos com selo para exportação; indústria de produção de pré-cozidos; farináceos e derivados do milho; exportadora de grãos; administradora de imóveis e distribuidora de rações. Em 2009, os irmãos abrirão novos armazéns no interior de Minas, São Paulo, Goiás e Mato Grosso, fora outros negócios que ainda são segredo.
A estratégia de negociação com fornecedores foi mais uma idéia do visionário Carlos Otávio. A fim de garantir que a colheita dos produtos que enchem seus armazéns de grãos tenha qualidade crescente, já estão oferecendo consultoria comercial. Uma mão lava a outra. Garantindo grãos saudáveis, o produtor fica satisfeito e os armazéns lotados. Todo mundo ganha. “Eu preciso agir como os grandes, para me tornar um deles”. Falsa modéstia para o dono de um grupo que fatura mais de R$ 300 milhões por ano.
Ao contrário dos anos anteriores, em que centralizava todo o comando da construção de armazéns, hoje, Carlos Otávio delega. Aprendeu a fazer isso para crescer mais rápido. No caminho descobriu que cada funcionário tem um jeito que pode até ser pior que o dele, mas também pode ser melhor. Vale à pena correr o risco. Mas a lição mais importante que o empresário viveu foi entender que o erro ensina mais que a precaução. Passou a estimular a equipe a ousar mais e decidir por conta própria. “Parei de indicar os atalhos. Assim, eles evoluem mais rápido”, garante.
A crise financeira internacional já ronda os negócios, mas ainda discretamente. Como Carlos Otávio é um homem de sorte, até essa onda negativa parece estar trazendo uma boa oportunidade. É que o Grupo Spasso Novagel poderá entrar no setor de avicultura, assumindo a empresa de um devedor. Após 20 anos de trabalho abrindo novos negócios a cada ano, Carlos Otávio quer diminuir o ritmo, pisar no freio. Apesar de ter apenas 45 anos, ele sente vontade de se dedicar mais à família e ao lazer. Quer ter qualidade de vida. “Atualmente, até os funcionários estão querendo mais qualidade de vida, querem tempo para ir beber com os amigos”, afirma o empresário. O mesmo quer o empresário. Se for competente nessa meta, até poderá tomar o café da manhã todo dia ao lado dos filhos, mas é provável que no almoço esteja a centenas de quilômetros de casa. Isso porque ele acaba de comprar um avião que, certamente, não será dedicado apenas às viagens turísticas. Nada a lamentar. Em se tratando de um empreendedor visionário, a paisagem vista da cabine do piloto só vai aumentar a capacidade de Carlos Otávio de enxergar as oportunidades que ninguém mais vê.
Inácia Soares, jornalista e apresentadora do programa Mesa de Negócios, o mais antigo da TV mineira, exibido na TV Horizonte, professora do MBA Pitágoras, palestrante e coautora dos livros “Emoção, conflito e poder nas organizações” (Editora Com Arte/2009) e “Do Porteiro ao presidente” (Editora Com Arte/2009).
inaciasoares@mesadenegocios.com.br