A Ética Além das Boas Intenções
Por Arnaldo Rabelo
26/09/2008

Os consumidores têm conquistado, ao longo do tempo, cada vez mais poder para defenderem seus direitos. Várias organizações surgiram com a finalidade de coibir abusos das empresas e conseguir compensações a consumidores que se sentiram lesados. Por fim, várias normas, regulamentações e leis surgiram para aumentar a proteção aos consumidores contra os excessos das empresas.

Um projeto de lei (5921/2001) que está em tramitação, por exemplo, propõe o fim da publicidade dirigida diretamente a crianças ou veiculada durante a programação infantil. Seu autor parte do princípio de que a criança não consegue distinguir a diferença entre a programação e os comerciais, não tendo senso crítico para compreender as intenções do anunciante. Segundo apoiadores da lei, as empresas têm abusado da inocência das crianças para obter lucro, causando males como obesidade, valores distorcidos (como valorizar o “ter” ao invés do “ser”), incitar à violência, induzir a situações perigosas, etc.

Esse tipo de reação defensiva extrema tende a aumentar, caso as empresas não se conscientizem e passem a praticar o marketing no seu verdadeiro sentido. Quero dizer, “marketing” não é sinônimo de publicidade, mas é compreender as necessidades e desejos do público e atender a essas necessidades proporcionando benefícios mútuos a longo prazo. A expressão “isso é só marketing” é um exemplo de como esse termo é entendido erroneamente, como sinônimo de uma máscara bonita para uma realidade não tão boa.

O público está farto de empresas que “maquiam” seus produtos, diminuem a quantidade do produto na embalagem, aumentam o preço muito acima da inflação, fraudam seus balanços contábeis, oferecem alimentos que fazem mal à saúde e prejudicam o meio-ambiente. Essa empresas não terão mais espaço.

A atuação ética não é mais uma questão de boa vontade dos sócios ou uma fachada falsa para práticas condenáveis. É o único caminho para que as empresas tenham vida longa e conquistem seu público a longo prazo. Mas deve estar no centro dos valores da empresa e fazer parte de todas as suas ações.

Por outro lado, a sociedade não deve ver de forma simplista ou extremada o marketing de produtos infantis. Considerar todas as crianças da mesma forma é um erro grosseiro: a percepção das crianças muda conforme seu estágio de desenvolvimento. Além disso, a educação das crianças (inclusive para o consumo) não cabe unicamente às empresas, mas também às escolas e, principalmente, às famílias.

Arnaldo Rabelo é diretor da Rabelo & Associados, consultoria de marketing infantil e licenciamento. www.arnaldorabelo.com.br