A Nova era da competição e as competências-Chave
Por Miguel Cristovão
16/01/2009
A globalização da economia tem vindo a exigir, cada vez mais
mudanças no desenvolvimento de produtos e serviços capazes de
responder às necessidades de mercados globais. A globalização
significa na prática clientes globais e oportunidades globais. Este
processo envolve uma crescente desregulamentação dos sectores da
economia, a digitalização dos sistemas de comunicação e informação,
padrões tecnológicos abertos e alta volatilidade. Em última análise
à globalização de mercados, acrescenta-se a globalização da cadeia
de valor, isto é, uma empresa pode espalhar as atividades da cadeia
de valor pelo mundo, de forma a aproveitar em cada região o fator
mais globalmente competitivo.
Todas estas bruscas mudanças trazem uma nova importância à
estratégia. Agora já não basta optar e evoluir, é necessário
repensar estrategicamente praticamente tudo: desde a definição do
negócio, à percepção de tecnologias e competências necessárias, e ao
redesenho de sistemas organizacionais até à própria redefinição de
espaços de atuação. Terminou portanto a fase evolucionista e começa
a revolução do paradigma conceptual: Este significa que as regras e
os valores anteriormente existentes deixam de se aplicar e são,
através de uma ruptura, substituídos por outros. Numa ruptura
paradigmática o que era "o Certo" passa a errado e "o novo certo"
tem de ser descoberto.
Diante disto, as principais questões analisadas por C.K. Prahalad
foram como criar novos negócios? Como aproveitar os negócios já
existentes à escala mundial? Como alocar recursos? Como estabelecer,
acomodar e alavancar as tecnologias emergentes?
Segundo C.K.Prahalad, o primeiro e o mais importante passo que uma
empresa deve tomar é identificar e maximizar as suas
competências-chave, descobrir as que falta para construir o futuro
que deseja. As competências-chave, é um dos seus principais
conceitos da sua teoria, consistem num conjunto único de habilidades
que incluí uma componente tecnológica e uma componente de
aprendizagem. Essa combinação entre tecnologia e aprendizagem, deve
estar presente em todas as unidades de negócio. É algo que traz
embutido um valor agregado bastante complexo exclusivo e particular
da empresa.
Prahalad não distingue o conceito de estratégia e de criatividade. A
estratégia não é um exercício de reposicionamento da empresa dentro
do sector onde atua, ao contrário, a estratégia é um esforço de
descoberta, isto é, é preciso procurar novos padrões de
oportunidades e novos padrões de interação entre clientes, empresas,
tecnologias e mercados.
Para C.K.Prahalad, durante os anos 80 os gestores eram julgados pela
sua habilidade para reestruturar as suas organizações. Nos anos 90,
os executivos foram julgados pela sua habilidade de identificar,
cultivar e explorar as competências-chave. Para tal os gestores
tiveram de repensar o conceito de organização em si mesma. Uma
organização diversificada pode conseguir melhorar a performance das
unidades de negócio mas com as fronteiras dos mercados a mudarem
muito depressa têm dificuldade em atingir os alvos. Por isso poucas
empresas são capazes de inventar novos mercados, de entrar
rapidamente em mercados emergentes ou ainda, alterar os padrões de
escolha dos clientes. E hoje? Como será a partir de hoje? Voltaremos
ao tipo de gestão dos anos 80? Parece que sim...
A tarefa fundamental da gestão é criar uma organização capaz de
produzir e idealizar produtos com uma funcionalidade irresistível ou
melhor ainda, criar produtos que os consumidores precisam mas que
nunca sequer tinham pensado. A competitividade evolui da relação
preço/qualidade e passou a depender da capacidade para construir as
competências-chave capazes de produzir produtos em antecipação à
concorrência. Neste contexto, a fonte da vantagem competitiva será
encontrada na capacidade da gestão para consolidar as diferentes
tecnologias, técnicas e métodos de produção em competências-chave
que permitem potenciar a rápida adaptação da empresa aos mercados.
Desta forma, e metaforicamente, a organização aparece como uma
grande árvore em que o tronco e os ramos mais robustos são os
produtos essenciais, os ramos mais pequenos são as unidades de
negócio, as folhas, as flores e os frutos são os produtos finais.
Mas, o que assegura o alimento e os nutrientes vitais a essa árvore
são as competências-chave. Deste modo, não podemos compreender a
força dos concorrentes se olharmos simplesmente para os seus
produtos finais da mesma forma como não podemos compreender a força
da árvore se olharmos apenas para as suas folhas. As
competências-chave da organização resultam da aprendizagem coletiva,
especialmente a aprendizagem de como coordenar diferentes técnicas e
práticas de produção e integrar múltiplos fluxos tecnológicos.
Mas se as competências-chave dizem respeito à harmonização de
diferentes tecnologias, dizem também respeito à forma como a
organização produz e distribui valor. Isto significa que as
competências essenciais implicam a comunicação, o envolvimento e um
profundo compromisso que atravessa a organização, envolvendo muitos
níveis de pessoas e de funções. Deste modo, as competências-chave
devem ser construídas em volta de indivíduos cujos esforços estão
orientados no sentido de reconhecer as oportunidades e as
potencialidades de compartilhar e combinar as suas
habilidades/capacidades. As competências-chave não diminuem com a
utilização, ao contrário de outros ativos. As competências crescem
quando aplicadas e partilhadas. São o elo agregador dos diferentes
negócios existentes e são igualmente o motor do aparecimento e
desenvolvimento de novos negócios.
Existem muitas empresas que têm potencial para construir
competências essenciais mas falham porque a gestão de topo se
manifestou incapaz de conceber a empresa como qualquer coisa
diferente de um simples conjunto de negócios. Quando as competências
ficam aprisionadas dentro de uma unidade de negócio as pessoas que
lhe dão corpo não são motivadas pelo aparecimento de novas
oportunidades e desafios. As suas experiências e conhecimentos vão
ficando atrofiadas. É imperativo que os gestores de topo devotem
mais atenção ao processo de afetação das capacidades humanas, da
mesma forma que o fazem com outros ativos.
Miguel Cristovão é Pós-Graduado em Gestão de Marketing e Mestrado em
Estratégia e Desenvolvimento Empresarial. Experiência de quase 20
anos nas áreas de Marketing e Vendas, com funções em empresas como
3M , Tudor, ABB-Adtranz e Sixt. Atualmente na Samsung Portugal,
Mobile Divison, com a Gestão de Grandes Contas. Membro ainda da APPM
- Associação Portuguesa dos Profissionais de Marketing, do Clube da
Negociação e palestrante convidado de Seminários do IIR - Instituto
for International Research.