A Sétima Arte e o seu Sexto Sentido
Por Luiz Renato Roble
03/10/2005

Uma loja encantadora, e conseqüentemente, vendedora, pode ser comparada a um bom filme, desses que Hollywood sabe criar e produzir muito bem. Da mesma forma que uma loja, um filme deve encantar o público para que venda a estória que se propõe a contar, seja ela um drama, uma comédia, uma aventura ou um suspense. Podemos encontrar subsídios reais a esta analogia assistindo o making-off do filme O Sexto Sentido, onde o escritor e diretor e M. Night Shyamalan faz comentários sobre este filme de suspense, que chegou como quem não quer nada e arrasou quarteirões.

O diretor conta que ao criar o filme, ele e sua equipe procuraram ter muito cuidado em como eles iriam apresentar sua estória. Por ser envolta em mistério, não poderia ser de uma forma óbvia e muito menos, de um modo subjetivo, ao ponto do público não conseguir entender o desenrolar dos acontecimentos. Para isto, foram criadas algumas regras para que, mesmo inconscientemente, o público ligasse os pontos e chegasse ao final apto a entender aquilo se queria dizer desde o início, mas que não podia ser dito.

Assim, foram criados alguns códigos visuais que permitissem ao espectador poder indiretamente visualizar e sentir o clímax do filme. Tanto as imagens externas de Philadelphia, onde se passa a estória, como os cenários internos, apresentam tons acinzentados. A presença da cor vermelha é utilizada como um ícone, um código, que induz o espectador prever um momento de tensão, cada vez que ela aparece. Seja na forma de um vestido, uma porta, um trinco ou um cobertor, o vermelho é o sinal de que alguma coisa importante vai acontecer. Da mesma forma, outra convenção estabelecida com o público, é quanto à temperatura ambiente. Sempre que a situação vai esquentar, o personagem principal sente frio, e sua respiração é visualizada, como se ele estivesse em uma câmara frigorífica. Outro cuidado que a produção teve, foi o de, mesmo contra a gosto, retirar do filme, algumas cenas que, apesar de belas, não contribuíam para a compreensão da estória.

Os códigos visuais estão sempre presentes em uma loja. O que devemos saber fazer, é tomar partido deles, para que ajam a nosso favor e não contra. O interior de uma loja pode ter cores neutras para criar uma atmosfera clean, chic, limpa e organizada, mas assim como no filme, deve apresentar pontos focais, com cores ou luzes quentes e diferenciadas, para que se estabeleçam áreas onde o público não deve deixar de olhar. Nestes pontos devem ser colocados produtos novos, lançamentos, promoções e outras coisas que se deseja destacar. Esta área de convergência pode ser obtida com a simples pintura de uma parede ou coluna ou simplesmente, com a utilização de lâmpadas de luminosidade quente dirigidas.
A questão da climatização do ambiente é outro fator importante para que uma loja tenha sucesso. Assim como no filme, em que ela é visualmente sugerida, pois a sala de projeção não pode se alterar de acordo com cada cena projetada na tela, a loja também deve sugerir visualmente como é a temperatura em seu interior. Devemos lembrar que o Ser Humano trabalha seus sentidos de forma inconsciente. Ao ver um ambiente que se imagina ser muito quente ou muito frio, acaba-se por sentir aversão a tal ambiente, pois instintivamente, não haverá conforto em tal lugar. Portanto, devemos ter cuidado para apresentar uma iluminação bem equilibrada e preferencialmente, um ambiente com uma climatização agradável. Onde o cliente não sinta e nem imagine sentir, calor e nem frio, muito pelo contrário.

O cinema ensina também, que nem sempre podemos ou devemos mostrar tudo que gostaríamos ao público, pois desta maneira, estaremos apenas confundindo e atrapalhando a comunicação junto a ele. Portanto, devemos estar atentos para que a loja e a vitrine, não apresentem informações em demasia, ou produtos fugindo pelo ladrão. Os produtos expostos devem estar realmente bem expostos, se não, é melhor mantê-los no estoque. Cartazes devem ser bem visíveis e atuais, caso contrário, é melhor não estarem pendurados na parede.

O público procura emoção e com tanta tecnologia, imagens perfeitas, sons digitais e tridimensionais, fica cada vez mais difícil, perceber o que é real ou apenas efeito especial. Assim como o cinema rouba um pouco da realidade para projetar sua magia imaginária em uma tela, devemos emprestar, um pouco desta magia projetada sob encomenda e aplicá-la nas soluções de nossa vida real. Afinal, o público é, muitas vezes, o mesmo.

Luiz Renato Roble criacao@datamaker.com.br
Designer e Diretor de Criação da Datamaker Designers www.datamaker.com.br

Fonte: Datamaker