Escravos do Medo
Por Jorge Antonio Monteiro de Lima
17/07/2010
Sou um eterno saudosista. Idade? Não sei. Porém, o mundo em que hoje vivo é completamente diferente do que conheci em minha infância. Fim de semana, meu olhar busca a rua. Apenas carros passando, um ou outro cão latindo, muros, cercas elétricas e solidão. Ninguém na rua do bairro de classe média alta. Raras crianças brincam na rua hoje em dia. Convencionaram que é perigoso, que é mais saudável manter os filhos diante de um computador ou de um videogame, presos num apartamento.
No mundo moderno, existe uma escravidão declarada: a do medo. Meninos devorando amoras tornam-se, diante de nosso imaginário, assassinos violando nosso lar, e, assim, fazemos com bicicleteiros, motoqueiros, transeuntes ou qualquer um que caminhe por nossas ruas, diferentemente do convencionado.
Temos medo de relacionamento, e esta fobia tornou-se moda. Você conhece seu vizinho? Tem intimidade com os que o circundam? Ou é mais um “urbanóide-esquizóide” que acredita que seu vizinho é algum tipo de alienígena ou soviético devorador de criancinhas a serviço da KGB? O hábito coletivo de nossa vida urbana é paranóide. Além da mania de perseguição, o medo tornou-se a base afetiva que pauta os relacionamentos interpessoais. Solidão e frieza. Sou do tempo em que vizinhos se conheciam e se sentavam à porta para um bate-papo ao final das tardes.
Cercas elétricas, alarmes, câmeras de vídeo e a violência na mídia, que ganha muita audiência, mostrando-nos, nos “confins do Judas”, mais um assassinato espetacular. Poucas pessoas param para pensar que um seguro residencial seria bem menos oneroso e mais tranqüilo. Poucas pessoas percebem que alarmes ou cercas elétricas não seguram ladrões. Ostentar o medo, colocando-o em um altar, é moderno, chique e diferencia as pessoas em classes sociais. Tenho o que ocultar, o que esconder.
Dos infinitos medos contemporâneos, o mais interessante é o de doença. A hipocondria, tão freqüente, tem este comportamento por base. Um indivíduo torna-se uma estatística pelo abuso de remédios controlados, sem necessidade, por medo de engordar. Torna-se um viciado pelo medo de vir a sofrer no futuro. Torna-se dependente de calmantes pelo medo de passar mal. Torna-se dependente de soníferos pelo medo de não dormir.
Quem lucra com isso tudo? A serviço de quem está esse medo coletivo que está em várias camadas de nossa psique contemporânea? Na verdade, esse medo coletivo é apenas um reflexo de nossa superficialidade, de nossa vida sem limites, de nosso lado instintivo tão exacerbado. Crescemos muito tecnologicamente, porém, em termos humanos, involuímos muito. Falta a segurança interior, a consciência crítica, o acreditar na vida e ousadia. Falta iniciativa até para sair do comodismo.
Jorge Antônio Monteiro de Lima é pesquisador em saúde mental, Psicólogo e musico Consultor de Recursos Humanos Consultoria para projetos de acessibilidade para pessoas com necessidades especiais email: contato@olhosalma.com.br - site:www.olhosalma.com.br
Por Jorge Antonio Monteiro de Lima
17/07/2010
Sou um eterno saudosista. Idade? Não sei. Porém, o mundo em que hoje vivo é completamente diferente do que conheci em minha infância. Fim de semana, meu olhar busca a rua. Apenas carros passando, um ou outro cão latindo, muros, cercas elétricas e solidão. Ninguém na rua do bairro de classe média alta. Raras crianças brincam na rua hoje em dia. Convencionaram que é perigoso, que é mais saudável manter os filhos diante de um computador ou de um videogame, presos num apartamento.
No mundo moderno, existe uma escravidão declarada: a do medo. Meninos devorando amoras tornam-se, diante de nosso imaginário, assassinos violando nosso lar, e, assim, fazemos com bicicleteiros, motoqueiros, transeuntes ou qualquer um que caminhe por nossas ruas, diferentemente do convencionado.
Temos medo de relacionamento, e esta fobia tornou-se moda. Você conhece seu vizinho? Tem intimidade com os que o circundam? Ou é mais um “urbanóide-esquizóide” que acredita que seu vizinho é algum tipo de alienígena ou soviético devorador de criancinhas a serviço da KGB? O hábito coletivo de nossa vida urbana é paranóide. Além da mania de perseguição, o medo tornou-se a base afetiva que pauta os relacionamentos interpessoais. Solidão e frieza. Sou do tempo em que vizinhos se conheciam e se sentavam à porta para um bate-papo ao final das tardes.
Cercas elétricas, alarmes, câmeras de vídeo e a violência na mídia, que ganha muita audiência, mostrando-nos, nos “confins do Judas”, mais um assassinato espetacular. Poucas pessoas param para pensar que um seguro residencial seria bem menos oneroso e mais tranqüilo. Poucas pessoas percebem que alarmes ou cercas elétricas não seguram ladrões. Ostentar o medo, colocando-o em um altar, é moderno, chique e diferencia as pessoas em classes sociais. Tenho o que ocultar, o que esconder.
Dos infinitos medos contemporâneos, o mais interessante é o de doença. A hipocondria, tão freqüente, tem este comportamento por base. Um indivíduo torna-se uma estatística pelo abuso de remédios controlados, sem necessidade, por medo de engordar. Torna-se um viciado pelo medo de vir a sofrer no futuro. Torna-se dependente de calmantes pelo medo de passar mal. Torna-se dependente de soníferos pelo medo de não dormir.
Quem lucra com isso tudo? A serviço de quem está esse medo coletivo que está em várias camadas de nossa psique contemporânea? Na verdade, esse medo coletivo é apenas um reflexo de nossa superficialidade, de nossa vida sem limites, de nosso lado instintivo tão exacerbado. Crescemos muito tecnologicamente, porém, em termos humanos, involuímos muito. Falta a segurança interior, a consciência crítica, o acreditar na vida e ousadia. Falta iniciativa até para sair do comodismo.
Jorge Antônio Monteiro de Lima é pesquisador em saúde mental, Psicólogo e musico Consultor de Recursos Humanos Consultoria para projetos de acessibilidade para pessoas com necessidades especiais email: contato@olhosalma.com.br - site:www.olhosalma.com.br