Gestão com empatia
Por Tom Coelho
12/05/2017
“Dar o exemplo não é a melhor maneira de influenciar os outros. É a
única.”(Albert Schweitzer)
Há mais de 15 anos eu estava à frente de uma indústria metalúrgica,
que contava com quase uma centena de funcionários, quando instituí o
prêmio “Destaque do Mês”. Todos poderiam participar exceção feita
aos profissionais em cargo de gerência, os quais ajudariam a
selecionar o contemplado a cada ocasião.
Certo mês decidi premiar o vencedor com um forno de micro-ondas.
Considerando-se que estávamos no ano 2000, se um presente como este
nos dias atuais já seria interessante, imagine naquela ocasião. E
assim foi feito: o jovem premiado ganhou a honraria e seguiu
supostamente feliz para sua casa.
Alguns meses depois descobri que aquele garoto vivia em uma condição
tão simples que em sua casa usavam um fogareiro de uma boca para
cozinhar as refeições diárias. Portanto, reflita comigo: ele
precisava de um micro-ondas ou de um fogão convencional de quatro
bocas? Evidentemente, um fogão – cujo custo era possivelmente até
inferior.
Esta ocorrência ensinou-se o real conceito de empatia. Eu acreditava
que ser empático significava “tratar o outro como eu gostaria de ser
tratado”. Mas não é assim que as coisas funcionam... Empatia
significa tratar o outro como ele gostaria de ser tratado, como ele
deseja ser tratado, como ele necessita ser tratado. Significa
literalmente calçar-se com os calçados do outro, para sentir suas
próprias restrições, adversidades e desafios.
Pense comigo. Se você está em uma posição de liderança na
organização em que trabalha, olhe para seus subordinados e procure
compreender as dificuldades que os acometem diariamente: questões de
caráter operacional, limitações diversas, falta de autonomia para
resolver problemas. Por outro lado, se você não está em um cargo de
liderança, olhe para seu gestor e procure também reconhecer a
responsabilidade que aquela posição demanda, com tomadas de decisões
que poderão impactar a todos, de colaboradores a clientes.
Mas a prática da empatia evidentemente não se restringe ao ambiente
corporativo. Assim, se você é um educador, como pode conduzir sua
aula de modo a estimular os alunos, fazendo-os sentir-se engajados e
determinados com o aprendizado, consciente de que a informação hoje
está disponível em uma fração de segundos e a um clique em um
computador ou celular? E você, enquanto estudante, percebe o desafio
enfrentando por seu professor para conciliar conteúdo e forma de uma
maneira instigante, capaz de ensinar e sensibilizar um grupo formado
por várias pessoas com diferentes interesses e expectativas?
No ambiente familiar, como você tem lidado com a comunicação, seja
entre pais e filhos, seja entre cônjuges? O valor está restrito aos
seus princípios, às suas crenças e verdades ou você tem praticado o
desapego, abrindo mão de suas convicções para compreender o porquê
de determinados comportamentos e posturas daqueles que convivem com
você diariamente?
Note que em todos os exemplos mencionados a empatia não é
individual, mas mútua. Este é um exercício que precisa ser praticado
continuamente, mas que apenas é possível quando praticamos outro
valor essencial: a humildade, a capacidade de compreender que não
sabemos tudo e que a forma mais correta de se influenciar os outros
é através do exemplo.
Retomando a experiência que relatei no início do texto, após tomar
conhecimento da real condição daquele jovem que trabalhava em minha
empresa, optei por contratar uma assistente social com a missão de
visitar a residência de cada colaborador para conhecer de perto a
realidade de cada um. Afinal, para liderar e influenciar
positivamente as pessoas não importa o que eu penso, nem o que eu
imagino, mas sim quais são os fatos.
* Tom Coelho é educador, palestrante em gestão de pessoas e
negócios, escritor com artigos publicados em 17 países e autor de
nove livros.
E-mail: tomcoelho@tomcoelho.com.br.
Visite: www.tomcoelho.com.br, www.setevidas.com.br e
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