Hard sell ou Soft sell, eis a questão?
Por João Henrique Rafael Junior
17/08/2010
A venda já foi encarada erroneamente como objetivo das ações de
marketing, ainda hoje podemos encontrar profissionais com esta
filosofia, porém com a saturação dos mercados, a comoditização dos
produtos e a globalização dos concorrentes, simplesmente vender não
basta.
As ações de marketing visam balancear o mix de modo que o produto ou
serviço atenda plenamente, e lucrativamente, as necessidades do
cliente e, consequentemente, levem este ao ato da compra,
facilitando a venda. Neste contexto, a venda torna-se parte de um
processo e não a conclusão, pois o pós-venda é fundamental para o
desenvolvimento do relacionamento com o cliente.
Neste texto abordaremos esta relação entre o ato de vender e o ato
de atender, sendo que abordaremos dois modelos opostos, o hard sell
e o soft sell, suas aplicações, diferenças, vantagens, desvantagens
e contextualização com nossa realidade atual.
O hard sell tem como característica principal seu foco agressivo na
venda, consequentemente o processo, o cliente, sua necessidade, sua
intenção, seu desejo secreto, nada disso importa, o único objetivo é
vender uma oferta específica para qualquer tipo de público.
Esta modalidade de vendas é mais utlizada com produtos de baixo
valor agregado e poucos diferenciais competitivos, principalmente em
mercados com menor poder aquisitivo. Basicamente, quando falamos em
hard sell devemos pensar em quantidade, ou seja, quanto do produto
ou serviço foi vendido, para quantos consumidores, qual foi a margem
de lucro, etc.
As técnicas utilizadas neste modelo se baseiam na negociação
incisiva, sempre voltada para o fechamento da venda a qualquer
custo, destacando a apresentação, a resolução de algum entrave e a
conclusão.
Do lado oposto desse processo encontramos o soft sell. Nesta
modalidade de vendas o profissional responsável pela oferta tem um
papel muito mais consultivo do que impositivo. O consultor deve ter
completo conhecimento sobre seu mix de ofertas, assim como, talento
para identificar as necessidades particulares de cada cliente.
A próxima etapa da venda soft sell é elucidar para o cliente que
todos os benefícios do produto vão de encontro com suas
expectativas, aparar alguma aresta de objeção que posso surgir, e
então, naturalmente, "conduzir" o cliente até o ato da compra.
Este modelo é utilizado com mais assiduidade com produtos de grande
valor agregado, pois nestes casos a compra é um processo de alta
complexidade, que exigirá grande custo financeiro e emocional, sendo
assim, caberá ao consultor dar subsídios para que o cliente não
incorra em dissonância cognitiva.
As novas demandas apontam que, cada vez mais, os clientes estão
cientes de seus direitos e sua importância. Se considerarmos esta
nova realidade podemos acreditar que o modelo de soft sell é o mais
adequado para atender este novo perfil que vem se solidificando.
Porém ao analisarmos as ações de marketing desenvolvidas pelas
grandes organizações, vemos que o modelo de hard sell ainda é
largamente utilizado, tomemos como exemplo as campanhas de uma
distribuidora de móveis e eletrodomésticos que focam a urgência da
compra "É só amanha! Cozinha Batila, 2 portas, 3 armários na cor
bege e branco, apenas 10 vezes de R$49,90, é isso mesmo, não perca,
é só amanhã!" É fácil perceber que o foco da ação é a venda,
principalmente quando analisamos a postura do vendedor desta
empresa, pois não importa o que o consumidor realmente precise, más
sim a oportunidade que ele irá perder se não realizar a compra,
necessariamente, amanhã.
Empresas de produtos tecnológicos, como câmeras de vídeo seguem
utilizando este mesmo modelo, "ligue agora e consiga sua Blaster
Master Pixel por apenas 20 parcelas de R$18, 90, e ligando agora,
AGORA, não precisa pagar as 5 primeiras prestações, mas apenas os 10
primeiros a ligar terão este desconto!" Novamente identificamos o
forte apelo ao preço e a ação.
O crédito fácil, característica de nosso mercado econômico atual,
favorece este modelo impulsivo de vendas, pois ofereceu condições
facilitadas de compras para as camadas com menor poder econômico.
O modelo de soft sell também pode ser observado em determinados
casos, se analisarmos um anúncio de jóias, iremos perceber que o
preço destas estará minimizado e talvez a peça nem contenha um
endereço ou telefone de contato, más sim, apenas a marca associada
ao status.
O vendedor de uma empresa deste tipo não irá gritar na orelha de um
cliente que acaba de entrar no estabelecimento "Não perca! Jóia de
ouro com diamantes por apenas R$200.000, e na compra a vista ganhe
uma pérola esmaltada!". Em uma situação real o vendedor irá,
primeiramente, ouvir as necessidades do cliente, fazer uma equação
destas necessidades com seu mix de ofertas e, então, oferecer o
produto perfeito, que será comprado com prazer e não por pressão ou
medo de perder uma oportunidade.
Aparentemente podemos concluir que o modelo de hard sell é
antiético, pois, de certa forma, acaba interferindo na processo de
decisão do consumidor, sendo que deveria auxiliá-lo, porém devemos
considerar que em muitos casos o próprio consumidor não está
disposto a despender seu tempo ou sua paciência com a escolha de
determinados itens, principalmente aqueles com baixo valor agregado,
nestes casos o processo voltado exclusivamente para a venda é o mais
recomendado, até por que dificilmente será possível fidelizar um
cliente neste segmento.
O fator crítico para definir a questão ética na venda deve ser a
avaliação entre o que foi comunicado e prometido e aquilo que
realmente foi adquirido pelo cliente. Esta sugestão se aplica até
mesmo nos casos de soft sell, pois um discurso perfeitamente
sincronizado, uma promessa perfeita, um vendedor educado, um produto
maravilhoso, não é nada até que realmente prove seus atributos, nada
disto adiantará se o consumidor sentir que o prometido não foi
entregue.
Concluímos que a venda não deve ser considerada o final do processo
de marketing, porém é a etapa que traz capital para a organização ao
mesmo tempo em que inicia o relacionamento com o consumidor, sendo
assim deve ser tratada com toda a atenção possível, e neste caso
cabe ao gestor de vendas decidir qual o modelo deverá ser adotado
para cada tipo de produto do seu portifólio. Esta ação irá ditar o
tom das campanhas de comunicação, o treinamento dos vendedores, e as
metas de venda e lucratividade, porém, independente do processo
adotado, existe um elemento sine qua non a ser considerado, a ética.
João Henrique Rafael Junior, publicitário, pós-graduado em marketing
estratégico, cursando MBA em Administração de marketing.