Liderança na Berlinda
Por Fábio Luciano Violin
25/08/2005
Líderes são as pessoas responsáveis pelo andamento de uma empresa,
setor ou grupo. Teoricamente são os profissionais mais preparados
para exercerem a função, no entanto, a realidade mostra que o
despreparo é maior do que se imagina por parte de muitos desses
comandantes, especialmente em situações cotidianas.
Um dito popular diz que “cachorro que não se parece com o dono é
roubado”, significa dizer que uma empresa ou setor tem a “cara” de
quem a comanda.
Assim, tendemos a transpor para nosso local de trabalho nosso ritmo,
visão e forma de conduzir as ações cotidianas.
Os líderes são muitas vezes admirados ou odiados de acordo com como
se relacionam, transmitem instruções, cobram resultados, premiam,
sancionam regras ou lidam com as situações de pressão. Sãos eles os
responsáveis pela condução dos caminhos a serem trilhados.
Seus subordinados, liderados ou colaboradores teoricamente vêem ou
esperam que o líder seja o profissional capaz e preparado para
conduzir os rumos da empresa, dar o tom das discussões ou ainda
imprimir o ritmo necessário ao andamento da organização ou setor.
Muitos ainda esperam que a liderança seja capaz de fornecer caminhos
para a resolução de problemas ou desafios.
Mas a realidade está longe disso, vivemos atualmente uma séria crise
de liderança. E pelo menos oito pontos merecem ser questionados.
Tais pontos foram levantados através de pesquisa realizada junto a
1.217 colaboradores de diversos setores, são eles:
1) Prática diferente do discurso – em muitas empresas ainda impera o
velho ditado “faça o que eu mando, mas não faça o que eu faço”.
Palavras são fáceis e belas de serem proferidas, porém, a distância
entre o discurso e a prática é, em muitos casos gritante a tal ponto
que chega a ridicularizar quem as profere. Há a força das palavras,
mas não a força do exemplo. As pessoas não são estúpidas a ponto de
não notarem essa diferença, e o pior é que quando essa situação
ocorre a liderança é posta na berlinda e perde o apoio informal dos
colaboradores.
2) Exigência de criatividade ou resultados sem tolerância aos erros
– freqüentemente em épocas de fechamento de mês, ou necessidade de
ganhar ou manter mercado, responder a consumidores ou concorrentes
ou qualquer outra situação que exija da equipe empenho extra em
termos de resultados ou criatividade muito líderes preparam
palestras, campanhas de premiação e assim por diante. Pedem que seus
liderados produzam resultados extras. No entanto, como em toda
atividade humana o erro faz parte do processo. Nos momentos em que
os resultados não aparecem conforme o desejado “cabeças rolam”.
Exige-se criatividade ou resultados e quando eles não aparecem
procura-se culpados. Quando essa situação ocorre, o grupo perde a
coragem de arriscar, pois sabe que se falhar será penalizado.
3) Falta de reconhecimento – não importa se você salvou o mundo na
semana passada, se nessa semana não fizer o mesmo: rua. Com o tempo
a produtividade e o clima nos setores em que não existe
reconhecimento tendem a tornar os colaboradores insatisfeitos. Não
se prega que se deva viver das conquistas passadas, mas reconhecer
um bom trabalho, um feito que auxiliou o grupo ou a empresa ajuda a
dar um novo ânimo ao grupo. É detestável conviver com pessoas que
não conseguem valorizar ou admitir um bom resultado.
4) Metas irreais – todo desafio deve ser possível de ser alcançado.
Metas ou exigências irreais tornam o grupo apático, desanimado ou
descomprometido com a causa. Muitos líderes não se dão por
satisfeito em momento algum, nada os contenta, nunca é o bastante,
nunca está como queriam. É muito difícil manter talentos em
ambientes que funcionam dessa forma e o resultado é quase sempre
trágico.
5) Líderes sem preparação – os líderes mandam seus colaboradores a
treinamentos, mas poucos são os que também fazem cursos,
treinamentos ou participam de palestras. As mudanças são bastante
rápidas e severas com os que não a acompanham. Líderes necessitam
tanto de treinamento quanto liderados, talvez até mais, afinal sua
responsabilidade pelos resultados é extra. Mais uma vez “faça o que
eu mando, mas não faça o que eu faço”.
6) Demissão ou contratação sem respeito – demitir alguém é sempre
difícil para ambos os lados (ou pelo menos na maioria das vezes); um
ponto fundamental é que a demissão deve ser justa com quem a recebe,
a pessoa tem direito, a saber, os motivos de seu desligamento.
Existem líderes que tornam esse momento um verdadeiro show de
horrores. Muitos por motivos pessoais (ao invés de profissionais)
desligam pessoas importantes no processo de crescimento ou
manutenção de uma empresa. As vezes por discordâncias pessoais, ou
para privilegiar alguém ou algum ponto de vista divergente ou até
mesmo (pasmem) por puro ciúme ou sentimento de ser ameaçado. Do lado
contrário, há líderes que contratam pessoas segundo sua ótica,
muitas vezes buscam externamente alguém e sequer dão chance a alguém
da própria equipe concorrer ao cargo, isso causa no mínimo
desconforto.
7) Ambiente de trabalho com competitividade negativa – a
competitividade é um dos motores do desenvolvimento, do crescimento
e da melhoria se bem conduzida. Alguns líderes instigam a
competitividade predatória, num ambiente em que é “matar ou morrer”.
Muitos desses líderes fazem comparações entre pessoas ou setores
acreditando estarem incentivando seus liderados. Dependendo da
maneira como for feito o efeito é contrário. Ninguém gosta de se
sentir diminuido ou ridicularizado, é uma regra básica muito bem
entendida pela maior parte dos profissionais, no entanto, novamente
entra o despreparo de alguns líderes e consegue acabar mesmo com uma
equipe coesa e produtiva em pouco tempo.
8) Eu fiz, eu aconteço, eu sou – não há quem suporte pessoas que
tomam para si todos os méritos quando a idéia, trabalho ou empenho
não foi genuinamente seu. Muitos líderes cometem esse erro banal de
puxar para si as glórias e distribuir os fracassos ao grupo. Eu fiz,
você falhou. Eu consegui, você não teve competência. Eu sei, você
ainda tem muito a melhorar. Cuidado com esse tipo de postura, bons
profissionais não suportam por muito tempo ver uma luz artificial e
falsa tentar a todo custo se firmar passando por cima das
realizações de um conjunto.
Ser líder, sobretudo é em muitas circunstâncias ciência e em outras
uma arte. Um cargo, uma plaqueta ou uma designação não torna alguém
um líder genuíno.
As habilidades de um líder devem vir a tona com seus exemplos. O
tempo dá o tom do profissional de destaque e também evidencia os
medíocres.
Em época de grande exigência dos consumidores, da profissionalização
da concorrência e dos produtos e serviços cada vez mais similares, o
lado humano é posto a prova, e francamente muitos líderes se
avaliados não seriam selecionados para cargo algum na empresa ou
setor que comandam.
Não se é líder senão na medida em que se é capaz de gerar paixão e
partilha a todos do grupo. Um líder mais do que conduzir as pessoas
como uma manada deve ao invés gerar sentimentos de participação,
importância e conjunto. É para isso que existem os líderes: conduzir
pessoas a realizarem algo em prol de uma causa em que acreditam ou
passam a acreditar.
Segundo Sun Tzu "Não é preciso ter olhos abertos para ver o sol, nem
é preciso ter ouvidos afiados para ouvir o trovão. Para ser
vitorioso você precisa ver o que não está visível”.
FÁBIO LUCIANO VIOLIN
Mestre em Estratégias e Organizações _ UFPR
Especialista em Planejamento e Gerenciamento Estratégico – PUC-PR
Professor universitário, palestrante e consultor de empresas.