As redes virtuais - Intensidade
e Reciprocidade
por Daniel Portillo Serrano
07/01/2012
A rede é composta por um campo
de relações que mantém as
organizações ligadas. Esse campo
é, também, chamado de
“Intercampo Organizacional”
(Dimaggio e Powell, 1983,
p.148). Segundo os autores, este
campo inclui fornecedores de
recursos, de produtos, de
consumidores e outras
organizações.
A Intensidade se refere à força
da relação indicada pelo grau em
que as obrigações dentro da rede
são honradas, ou pelo número de
contatos em uma unidade de rede
ou, ainda, pelo esforço pessoal
para cumprir as obrigações.
A Reciprocidade é o grau em que
os indivíduos se reportam entre
si com a mesma intensidade, ou
ao menos similar (Tichy, Tushman
e Fombrun 2001, p. 509).
Diversos artigos e teses
acadêmicas têm focado as duas
variáveis que serão estudadas
neste trabalho, não apenas em
redes virtuais, mas em diversas
outras abordagens e
perspectivas. A reciprocidade,
por exemplo, pode aparecer como
um fator ligado à confiança, mas
não obrigatoriamente (RECUERO
2005). Da mesma forma. Já para
BALESTRO (2002),
"O funcionamento dos mecanismos
de coordenação e a estabilidade
do arranjo estão intimamente
relacionados com a intensidade
da confiança nas relações
interorganizacionais."
As redes virtuais
O que distingue uma rede
estratégica tradicional de uma
rede virtual é o grau em que as
transações de negócio são
realizadas por meio da Internet.
(PITASSI, DIANA E MACEDO-SOARES
2003, p.4).
Na perspectiva de discussão de
redes, Castells afirma que
fatores que estão mudando nossa
era estão relacionados a um
conjunto de tecnologias da
informação que ganha força com a
rede mundial de computadores
(CASTELLS – 2000). O autor
afirma que
Uma rede é um conjunto de nós
interconectados. A formação em
redes é uma prática humana muito
antiga, mas as redes ganharam
vida nova em nosso tempo
transformando-se em redes de
informação energizadas pela
Internet.
A Internet tornou-se a principal
ferramenta para uma nova
sociedade, “a sociedade em
rede”, impulsionando a criação
de uma nova economia e quebrando
antigos paradigmas da
comunicação, embasadas na
afirmação de Castells que “A
Internet é um meio de
comunicação que permite, pela
primeira vez, a comunicação de
muitos com muitos, num momento
escolhido, em escala global
(Oliveira e Irving - 2008).
A Internet tem assumido diversos
papeis. Diversão, comunicação,
informação, entretenimento,
intercâmbio e comércio. Neste
último, a Internet tem obtido
uma vantagem competitiva sobre
as redes físicas de comércio.
Para Porter, “uma cadeia de
valor é o conjunto separado,
porém interligado, de atividades
por meio das quais uma empresa
cria e comercializa seus
produtos e serviços” (Porter,
2001). Além disso, há, para o
autor, vantagens no que se
refere a proposição de valor,
como “um conjunto de benefícios,
diferentes daqueles oferecidos
pelos concorrentes” (Porter,
2001, p.71).
Assim, a oferta de produtos para
compra via Internet está tomando
o lugar do varejo tradicional,
presencial. Lojas como a
Amazon.com que iniciou as
atividades comercializando
livros on-line, atualmente
oferecem uma gama imensa de
produtos. De roupas a discos.
Citando Pitassi, Diana e
Macedo-Soares (2003)
"A virtualidade pode ser
entendida então como perspectiva
de gestão que explicitamente
reconhece a dinâmica de
independência/complementaridade
entre proposições de valor. "
Os autores afirmam que “Uma
estratégia virtual pode ser
entendida como hiperestratégia,
ou metagestão as quais
possibilitam a recuperação
descentralizada de informações e
a sua integração simultânea em
sistema flexível e multifacetado
de elaboração de estratégias.
Este pool de informações,
constituído a partir de bases de
dados conectadas em tempo real,
apoiado por mecanismos de
coordenação previamente
estabelecidos que assegurem o
compartilhamento de informação
estratégica, alavanca o
potencial de geração de
conhecimento, quando comparado
ao potencial das redes sem
comunicação digital.
No Brasil, inúmeros varejistas
que possuíam sua rede física de
lojas passaram, também a
oferecer a possibilidade de se
adquirir produtos sem sair de
casa. O varejo é um dos
segmentos industriais que mais
tem sofrido mudanças nos últimos
anos, graças ao advento das
tecnologias de informação e de
telecomunicações que
revolucionaram o mercado (Van
der Linden 2004). Ponto Frio,
Americanas, Pão de Açúcar, entre
outros, foram os pioneiros.
Atualmente podemos, através de
um computador ligado à rede
mundial, adquirir praticamente,
qualquer produto com sua
respectiva entrega em domicílio.
Por outro, alguns segmentos de
consumidores têm muita
resistência a fazer suas compras
pela Internet. Muitas pessoas,
usuárias de computador e de
Internet, preferem ir à loja em
vez de fazer suas compras pela
web. Van der Linden (2004).
Para PIMENTA (1998, p.3),
"O comércio eletrônico ainda é
caracterizado por um ambiente
onde a experimentação é
dominante. Apesar desse quadro
de incertezas, o conceito de
comércio eletrônico parece
absolutamente real e
definitivo."
O Submarino
O Submarino é uma das primeiras
empresas no segmento de varejo
eletrônico do Brasil. Foi criado
em 1996 e 10 anos depois, após a
fusão com a Americanas.com,
ShopTime e Blockbuster, se
tornou líder no segmento virtual
com um faturamento anual de 8
bilhões de Reais (FOLHA ONLINE
2006).
O grupo, passa então, a operar,
além da Internet por diversos
outros meios, como televisão,
lojas físicas, quiosques e
catálogos.
Apenas nas vendas via web, o
Submarino oferece mais de 700
mil itens de 25 diferentes
categorias de mais de 1.300
fornecedores, além de serviços
como viagens e vendas de
ingressos. (FOLHA ONLINE 2006).
As características da rede de
negócio virtual conhecida como
Submarino são bem diferentes de
uma rede de varejo tradicional,
já que não existe o ponto de
venda físico e o consumidor não
tem um local onde possa,
presencialmente, negociar a
compra do produto. Na verdade, o
ponto de venda é a residência do
comprador, e a vitrine é a tela
do computador. PIMENTA (1998
p.5) afirma que:
A Internet como o meio de
comunicação mais abrangente já
construído, favorece a
divulgação para, literalmente,
todo o planeta. Qualquer
negócio, qualquer produto quando
colocado na rede torna-se
possível (e acessível) a todos
os seus milhões de usuários,
instantaneamente. Não existe
melhor e mais ampla vitrine que
a Internet.
O Submarino sob a perspectiva de
Rede
O Submarino tem ligações, além
dos afiliados, com bancos,
Financeiras, sócios, empresas de
software, Call Center,
Fornecedores, clientes e
operador logístico.
Não há apenas um tipo de fluxo
entre os nós. No caso do
Submarino há o tráfego de
informações, dinheiro, produtos
e controles dependendo do nó a
que ele se conecta na rede.
1. Há um fluxo de dinheiro e
informações entre o Submarino e
o operador logístico que tanto
recebe os produtos dos
fornecedores, os armazena e os
despacha para o comprador.
2. Com os compradores o
Submarino mantém um fluxo de
informações, controles e
recursos financeiros
3. Com o programa de afiliados,
existem fluxos de controles,
informações e recursos
financeiros.
4. Empresas desenvolvedoras de
software mantêm um fluxo de
informações e recursos
financeiros.
5. Bancos e Financeiras
proporcionam fluxos de
informações e recursos
financeiros.
6. O Call Center mantém um fluxo
de informações.
7. Com os sócios proprietários o
Submarino mantém um fluxo de
informações, controles e
recursos financeiros.
As principais ligações do
Submarino, como uma rede, estão
indicadas no diagrama abaixo.
Fig. 1 - O desenho de uma rede
de atores no negócio do varejo
eletrônico, com a utilização da
empresa Submarino como
referência.
Fonte: o autor.
Para Gameiro (2008) a
participação de uma empresa em
uma rede, já é por si só
suficiente para melhor
aproveitar os recursos,
partilhar os riscos e fortalecer
o poder de negociação.
Em relação à rede de afiliados o
Submarino está tentando um
relacionamento mais pessoal, com
contatos e atendimento a cada
afiliado, personalizados,
fazendo com que os afiliados se
sintam “parte do todo”. Segundo
o fórum Monetização (2009), a
insuficiência de pessoas e
recursos para atendimento, no
entanto tem causado vários
litígios com afiliados, que têm
abandonado o Submarino para
anunciar seus concorrentes
REFERÊNCIAS:
BALESTRO – Moises, V. Confiança
em rede: a experiência da rede
de estofadores do pólo moveleiro
de Bento Gonçalves – Dissertação
- Universidade Federal Do Rio
Grande Do Sul - Porto Alegre -
2002.
CASTELLS, M. – Materiais para
uma teoria exploratória da
sociedade em rede. – British
Journal of Sociology – Londres –
2000
CORREIA, Silvia M. Novas
Famílias, Modos Antigos. As
redes sociais na produção de
bem-estar, Tese de Doutoramento
em Sociologia, Coimbra, FEUC –
2006 disponível no endereço:
http://hdl.handle.net/10316/480
acessado em junho de 2009.
DIMAGGIO, Paul, POWELL, Walter,
W. The Iron Cage Revisited.
American Sociological Review,
USA – 1983
FOLHA ONLINE – “Fusão de
Submarino e Americanas.com cria
empresa de R$ 8 bi”. 23/11/2006
- 12h37 – Disponível em
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u112608.shtml
acessado em 12 de junho de 2009
FÓRUM MONETIZAÇÃO – Fórum aberto
para integrantes de sistemas de
afiliados, disponível em
http://groups.google.com/group/monetizacao?lnk=srg
acessado em 12 de junho de 2009.
GAMEIRO, P. As organizações em
rede. BOCC- Bibioteca On line de
Ciencias da Comunicação. p.1-25,
2008, disponível no endereço
http://www.bocc.ubi.pt/_esp/autor.php?codautor=1176,
acessado em maio de 2009.
NOHRIA, Nitin – Is a Network
Perspective a Useful Way of
Studying Organizations?
Harvard Business School Press –
Boston – Massachusetts – 1992
OLIVEIRA, E. e IRVING, M. Redes
virtuais: da discussão teórica
às potencialidades
contemporâneas para a
consolidação de redes sociais.
Revista Textos de La
Cibersociedad, número 13 – 2008,
disponível em
http://www.cibersociedad.net ,
acessado em junho de 2009
PIMENTA, M. de F. - Tendências
sobre Comércio Eletrônico.
Monografia. - Universidade
Estadual de Campinas - Faculdade
de Engenharia Elétrica e
Computação – São Paulo - julho
de 1998
PITASSI, C.; DIANA, T e L.V.A de
MACEDO SOARES - Redes
estratégicas virtuais: fatores
críticos de sucesso - Revista de
Administração Contemporânea -
vol.7 Curitiba 2003
PORTER, M. E. Strategy and the
internet. Harvard Business
Review, v.79, n. 3, p. 63-78,
2001.
RECUERO, Raquel da C. - Em busca
de um modelo para o estudo das
comunidades virtuais em redes
sociais no ciberespaço – Artigo
– Intercomm – Porto Alegre -
2005
TICHY, Noel M.; TUSCHMAN,
Michael L.; FOMBRUN, Charles –
Social Networks Analysis For
Organizations – Academy Of
Management – 2001
VAN DER LINDEN, Carolina,
Compras em supermercados
Eletrônicos: Existem Barreiras?
Dissertação de Mestrado como
requisito parcial para obtenção
do título de Mestre pelo
Programa de Pós-Graduação em
Administração da PUC-Rio - 2004
Daniel Portillo Serrano é Palestrante, Consultor e Professor. Bacharel em Comunicação Social com ênfase em Marketing Pela Universidade Anhembi Morumbi, e pós graduado em Administração de Empresas pelo Centro Universitário Ibero-Americano - Unibero, Mestre em Administração de Empresas pela Universidade Paulista - UNIP. É consultor de Marketing e Comportamento do Consumidor e editor dos sites Portal do Marketing e Portal da Psique . Tem atuado como principal executivo de Vendas e Marketing em diversas empresas do ramo Eletroeletrônico, Telecomunicações e Informática. É professor de Marketing, Administração, Estratégia, Comportamento do Consumidor e Planejamento em cursos universitários de graduação e pós-graduação. Contato: daniel@portaldomarketing.com.br .