Vaga de Emprego
Por Jorge Antonio Monteiro de Lima
17/07/2010

Maria abre o jornal nos anúncios de emprego. Com seus 21 anos de idade, orgulha- se por sua beleza física. Anúncio por anúncio e, ao folhear o jornal, questiona-se qual seria a melhor chance para sua vida. Larga o jornal e vai até o guarda-roupa, revisando todo o seu vestuário. A vaga prometida com certeza será dela. No armário revê todo o estoque de maquiagem, olha a dúzia de batons e revista sua gaveta de lingerie. Todo aspecto estético revisto, ela volta ao jornal para verificar as chances do dia: “Vagas de nível superior...” Céus! ela abandonou a faculdade que fez por um único semestre, e o investimento que deveria ir para um curso superior foi revertido para o implante de silicone nos seios e na lipoescultura. Para que estudar? Para ganhar miséria como profissional de nível superior? Ela dá seqüência, olhando as vagas para serviços de nível médio nos anúncios. “Vagas para cozinheira...” Não! Ela não ficaria bem de avental nem de toca, e na cozinha ela não teria como exibir sua bela forma física. “Vagas para auxiliar administrativa...” Lembrou que esta vaga também não serviria porque ela não sabe Excel, tampouco sabe digitar corretamente.
“Vagas para telefonista...” Ela adora telefone, mas assim como cozinheira, jamais seria vista como telefonista, e ela não está disposta a desperdiçar toda a sua beleza física. “Vagas para recepcionista...” Interessante, mas o salário é baixo demais, a empresa fica longe de sua casa e ela não vai se dispor a trabalhar aos sábados. “Cansei”. Pára para um lanche, assiste TV Beleza, revisa as últimas fofocas da vida dos artistas, repassa o resumo do que vai acontecer na novela a noite e verifica o Orkut. À tarde, reinicia a jornada cansativa de folhear as vagas de emprego, uma a uma. Nada lhe serve e, quando interessa, ela não tem qualificação.

Milhões de pessoas vivem como Maria: sem qualificação profissional, iludidos com a vida, com alto investimento em aparência e pouco ou nenhum investimento em qualificação profissional e estudo. Uma realidade que afronta a propaganda de governo de um milhão de vagas criadas. Números que não expressam de forma alguma a qualidade. São apenas estatística. Em inúmeras áreas de trabalho faltam trabalhadores qualificados: na construção civil, carpinteiros e eletricistas; no comércio padeiros recepcionistas qualificados; nas carreiras de nível superior pessoas comprometidas com a própria profissão. O comodismo, a preguiça, querer crescer sem esforço, a superproteção familiar, a burrice e a apatia são alguns dos ingredientes psicológicos que acentuam a dificuldade na busca por melhor qualificação e aptidão para o crescimento. Existe muita gente querendo ganhar bem sem esforço, buscando colher o que não plantou. O que é aceitável nos governos municipal, estadual e federal como cargo comissionado, na iniciativa privada é excremento.

O surpreendente nessa realidade são as desculpas frequentes: “O mercado é ingrato”; “Teria de me sujeitar a assédio sexual para receber a vaga”; “É longe demais”; “Tem muito trabalho”; “Vou ganhar pouco”; “mereço mais do que estão oferecendo, pois sou um gênio incompreendido”... Desculpas, desculpas, muitas desculpas e pouca ou nenhuma ação! O lema é: "Queremos emprego e não trabalho"! E o curioso é que tais indivíduos infestam os cursinhos para concurso público, logicamente sem estudar.

No contato com empresários e executivos ligados a área administrativa e de recursos humanos, ouço com frequência: “Tenho empregos disponíveis, mas para contratar alguém existe um verdadeiro suplício. Tudo advindo do despreparo e comodismo.

Jorge Antônio Monteiro de Lima é pesquisador em saúde mental, Psicólogo e musico Consultor de Recursos Humanos Consultoria para projetos de acessibilidade para pessoas com necessidades especiais email: contato@olhosalma.com.br - site:www.olhosalma.com.br