Videomaníaco
Por Jorge Antonio Monteiro de Lima
17/07/2010

Quatorze anos, bela, jovem deveria estar dando trabalho a seus pais, pensando em namorar, festas, em dançar, viajar e se divertir. Em colocar biquíni e ir ao clube tomar sol, ou ir ao parque sentir o vento fresco do cair das tardes. Porém, a moça não dá trabalho aos pais, por hora!
Ela é a típica "menina quietinha", uma das milhares que não sabem o que é clube, o que são parques, o que é sentir o vento. Seu universo resume-se a seu quarto, um videogame, uma TV a cabo e seu computador. Todo o resto para ela é chato, um genuíno "saco". Trata-se de uma "videomaníaca" obcecada. Sua vida só encontra sentido no orkut ou no MSN. Seu ritual iniciático resume-se a acordar diariamente e teclar com suas amigas.

Aos quatorze anos já repetiu de ano duas vezes e, na escola, apresenta sérias dificuldades de concentração. Pudera: o ritmo das aulas, a falta de efeitos especiais dos professores tornam a aula o tédio por excelência.

Diagnosticada como uma hiper-ativa, viciada desde muito cedo em calmantes, papai e mamãe por hora acham bom, mas não entendem por que a fulana vai mal na escola, é uma filha tão boa, tão quietinha. Ela não dá trabalho!

Uma das profissões mais difíceis da atualidade é a de professor.
Isso pelo salário, condições precárias, descaso social e pela dificuldade crescente na cognição dos jovens e crianças por causa do excesso de tecnologia.

De cada dez jovens, seis apresentam dificuldades de aprender por problemas de concentração e percepção. Um problema quase sempre diagnosticado como hiper-atividade, uma banalização ligada a um senso comum, falho de observação mais profunda.

Hoje, não raro encontrarmos o mesmo problema nas universidades, em indivíduos que não conseguem assistir a uma aula por 40 minutos. Essas mesmas pessoas não têm paciência para ler um livro ou um artigo resumido de duas laudas. Em sua maior parte, abandonam o estudo ou se formam sem ter aprendido absolutamente nada. Porém, são indivíduos que manejam bem a alta tecnologia, o computador, sites de relacionamento, TV a cabo e batem recordes mundiais em videogame com facilidade.

Em nossa moderna forma de existir cindimos a percepção de nossas crianças para sua interação com tempo e espaço. Criamos filhos em apartamentos minúsculos, com atividade física reduzidíssima - vide o aumento da obesidade infantil -, com o mínimo de interação social, e ainda hiper-estimulamos sua percepção em desenhos animados, em videogames, na alta tecnologia doméstica que faz com que as crianças vivenciem em tudo uma temporalidade acelerada. É raro encontrarmos crianças brincando na rua, em parques, gastando energia à moda antiga. O contra-senso, todavia, propõe ser comum encontrarmos crianças tomando calmantes para aumentar o comodismo dos pais que as consideram irrequietas demais. Nossas doenças viraram deidades.

O emprego desmedido da alta tecnologia ainda traz como prejuízo a socialização primária. Pessoas vêm apresentando inúmeros problemas para se relacionar: fazer amigos, namorar, casar. Visitas familiares são um "porre".
Na casa do tio não tem videogame, e se o tio for a sua casa torna-se uma ofensa tirá-la do computador para dar atenção aos parentes. Se deixa momentaneamente o computador, o faz xingando por perder 20 segundos de seu game predileto. Assim muitos tornam-se intolerantes, dispersos, sem vida, apáticos a tudo que não envolva tecnologia, com dificuldades para dialogar e se expressar sem apoio tecnológico.

É possível auxiliar nossos jovens e crianças se resgatarmos nossa forma básica de vida e interação social. Se aprendermos a desligar a televisão e conversar em família, se os pais estimularem seus filhos a brincar e a interagir, gastando sua energia de forma positiva.

O trabalho de percepção e expressão corporal é parte indispensável da evolução da consciência humana. Devemos evoluir em tecnologia, mas sem deixar as coisas boas e básicas da vida de lado.

Jorge Antônio Monteiro de Lima é pesquisador em saúde mental, Psicólogo e musico Consultor de Recursos Humanos Consultoria para projetos de acessibilidade para pessoas com necessidades especiais email: contato@olhosalma.com.br - site:www.olhosalma.com.br