Ansiedade, Depressão, Pânico e
Dependência Química
Por Jorge Antonio Monteiro de Lima
08/03/2007
Em nossa experiência empírica na prática
da psicoterapia de base analítica na
saúde mental observamos em certos casos
a intensa ligação entre as dependências
químicas e o estado depressivo, seja no
usuário de álcool, maconha, cocaína,
pessoas viciadas em medicação, ou
qualquer outra droga.
A maior incidência deste processo está
nos homens jovens cuja idade varia entre
os 14 aos 35 anos. Geralmente estes
tentando fugir dos sintomas isolados de
crises de pânico ou da depressão tendem
naturalmente a migrar para o uso de
drogas lícitas ou ilícitas, o que
transformará todo processo em dois
problemas em um só. A incidência nas
mulheres é pequena em proporção aos
homens dependentes químicos sendo
justamente por isto que as estatísticas
de depressão tendem a ser menores no
público masculino, visto que eles
"mascaram" a patologia que os induz ao
vício.
O uso de drogas tem sua ação variada. O
álcool, a maconha e os calmantes inibem
o sistema nervoso e tendem naturalmente
a agravar os quadros de ansiedade,
depressão e pânico. São buscados
geralmente ou indicados visando relaxar
ou tranqüilizar seu usuário contudo na
prática assim que o efeito passar as
crises tendem a voltar pioradas.
As drogas "estimulantes" como o crack,
cocaína, e outras por sua vez geram um
estado eufórico passageiro que terá ação
direta na produção de adrenalina e
outros hormônios mas que em
contrapartida atacará o sistema nervoso
assim que o efeito da mesma cesse o
debilitando ainda mais. Sem a incidência
de patologias como a ansiedade,
depressão ou pânico o usuário destas
drogas já tem como efeito colateral um
estado de letargia intenso que ocorre
principalmente no dia seguinte ao uso da
droga.
Os calmantes nos casos de depressão e
pânico da família dos benzodiazepínicos
são extremamente desrecomendados por
"deprimirem" o sistema nervoso.
Justamente por isto foram criados os
anti- depressivos e os ansiolíticos.
Isto sem falar que hoje em dia o risco
de dependência de calmantes é
extremamente alto sendo que as
estatísticas da O.M.S. apontam que estes
são a segunda maior causa de dependência
após o álcool em nossa sociedade.
Notamos na prática que boa parte dos
fatores estimulantes para o uso de uma
substancia química se relacionam
diretamente com a insatisfação,
ansiedade, fuga da realidade,
necessidade de poder, desequilíbrio ou
desajuste da personalidade, ausência de
limites psíquicos e imaturidade afetiva.
A ansiedade com características mórbidas
induzindo a esta fuga do mundo pelo uso
de uma substancia que de forma mágica
levaria a um mundo de satisfação
utópico. Em termos cognitivos após o uso
da substancia "inebriante" a volta a
realidade nua e crua conhecida em termos
técnicos como a "ressaca moral" leva o
usuário a buscar novamente o refúgio
seguro na droga o que gradativamente faz
com que aumente a freqüência de seu uso.
Este processo citado anteriormente
aumenta as crises de depressão após o
uso da droga seja ela qual for. Se
somarmos a este processo os fatores
psicológicos da inserção do usuário na
marginalidade, as formas escusas para
conseguir a substancia, a decadência
moral e financeira, e a quebra de
produtividade inerente ao uso de
qualquer uma destas substancias teremos
aumentados os fatores estressantes do
usuário e a potencialização da crise de
depressão após o uso da droga.
Nos casos de pânico o uso de drogas
tende a rebaixar naturalmente o nível de
consciência gerando um fator
potencializador de crises de pânico que
vão fundir se com os processos
paranóicos e persecutórios, extremamente
freqüentes.
O tratamento de crises de dependência
misturadas com transtornos de ansiedade,
depressão e pânico neste sentido terá de
desenvolver se em duas frentes: quebra
da dependência química em um primeiro
plano e após esta quebra o tratamento da
ansiedade, depressão ou pânico. A
desintoxicação da droga deverá vir
primeiro mesmo por que há uma tendência
natural que estas outras doenças sejam
apenas um sintoma da dependência. O
corpo desintoxicado reagirá melhor ao
tratamento medicamentoso.
Dependência ou Adicção
Adicção à Droga ou ao Álcool é um
neologismo inadequado e até
desaconselhado, em termos lingüísticos,
que designa o uso repetido de
substância(s) psicoativa(s), de forma
que o usuário (chamado adicto) fica
periódica ou cronicamente intoxicado,
demonstra uma compulsão para tomar a(s)
substância(s) preferida(s), tem grande
dificuldade em interromper ou modificar
voluntariamente o uso da substância e
mostra determinação para obter a
substância de qualquer maneira.
Adicção não tem nenhuma palavra
correspondente em Português, e não se
encontra consignado nem mesmo nos mais
recentes dicionários da língua
portuguesa. Apesar de não ser um termo
diagnóstico na CID10, continua a ser
amplamente utilizado por profissionais e
principalmente pelo público em geral,
mas seu uso é desaconselhado, mesmo na
língua inglesa.
Segundo o CID.10, Dependência seria um
conjunto de fenômenos psico-fisiológicos
que se desenvolvem após repetido consumo
de uma substância psicoativa.
Tipicamente a Dependência estaria
associada à várias Circunstâncias, como
por exemplo, ao desejo poderoso de tomar
a droga, à dificuldade de controlar o
consumo, à utilização persistente apesar
das suas conseqüências nefastas, a uma
maior prioridade dada ao uso da droga em
detrimento de outras atividades e
obrigações, a um aumento da tolerância
pela droga e por vezes e, finalmente,
associado a um estado de abstinência
quando de sua privação.
A Síndrome de Dependência pode dizer
respeito a uma substância psicoativa
específica (por exemplo, o fumo, o
álcool ou o diazepam), a uma categoria
de substâncias psicoativas (por exemplo,
substâncias opiáceas) ou a um conjunto
mais vasto de substâncias
farmacologicamente diferentes.
Segundo o DSM.IV, a característica
essencial da Dependência de Substância é
a presença de um agrupamento de sintomas
psico-fisiológicos indicando que o
indivíduo continua utilizando uma
substância, apesar de problemas
significativos relacionados a ela.
Existe um padrão de auto-administração
repetida que geralmente resulta em
tolerância, abstinência e comportamento
compulsivo de consumo da droga. Um
diagnóstico de Dependência de Substância
pode ser aplicado a qualquer classe de
substâncias, exceto à cafeína. Os
sintomas de Dependência são similares
entre as várias categorias de
substâncias, mas, para certas classes,
alguns sintomas são menos salientes e,
em alguns casos, nem todos os sintomas
se manifestam.
Jorge Antônio Monteiro de Lima é
pesquisador em saúde mental, Psicólogo e
musico Consultor de Recursos Humanos
Consultoria para projetos de
acessibilidade para pessoas com
necessidades especiais email:
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