Brainspotting, o seu ponto no cérebro
Por Silvia Malamud
08/10/2009
A utilização do Brainspotting é deveras
eficaz para qualquer tipo de questão
sentimental quando não encontramos
saídas adequadas. Eficaz também em
situações de respostas emocionais
repetitivas ou mesmo quando lidamos com
vícios de diferente natureza. Eficaz
também, quando infindáveis vezes há
acometimentos por episódios de stress ou
que propiciam aparecimento do mesmo,
sendo que, na maioria das vezes,
conhecemos a saída, porém, não
conseguimos provocar as mudanças
necessárias para outro modelo de
funcionamento, mais satisfatório. São
episódios de situações repetitivas e
indesejáveis vivenciadas por todos onde,
muitas vezes, temos consciência de que
para mudar bastaria apenas acionar o
botãozinho do só parar em relação a
determinado tipo de atitude. Desta forma
simples assim, sem conseguirmos virar a
mesa de vez é que costumamos nos sentir
como eternos fracassados...
Mas o que será que ocorre internamente e
nos dificulta tanto em provocar mudanças
de padrões aparentemente fáceis de serem
mudados?
Essa questão abrange um universo de
significados que, na maioria das vezes,
não conseguimos destrinchar. Isto porque
temos a tendência de nos observar apenas
pelas bordas das nossas superfícies, sem
ousar buscar os mais amplos significados
envolvidos em cada situação especifica.
Muitas das nossas dificuldades podem ter
raízes na mais tenra infância e podem
até vir de um tempo em que sequer
sabíamos falar. Um acidente, por
exemplo, pode aparentemente ser o
causador de sintomas claustrofóbicos,
mas a matriz deste tipo de
desenvolvimento comumente vem de
situações tamponadas e não resolvidas,
de há muito tempo antes de acontecer o
suposto acidente.
Explicarei melhor como isto ocorre
citando exemplo de situação real
ocorrida com minha paciente (relato por
ela autorizado). Observem como o
Brainspotting e o EMDR facilitam o
reprocessamento de questões
aparentemente sem solução ou,
convencionalmente, de solução lenta e
até mesmo condicionada ao uso de
medicação para atenuar sintomas de
ansiedade.
Vejam:
- Fernanda (nome fictício) após longa
jornada de trabalho sentia-se bastante
cansada. Por voltas das 22 horas retorna
para casa com desejo grande de
descansar. Estava um dia de muito calor
e Fernanda ansiava tomar um belo banho
e, logo em seguida, encaminhar-se para o
jantar com os seus e por fim,
descansar...
Ocorre que entrou sozinha no elevador,
apertando como de costume o botão de seu
andar, o décimo primeiro. Quando passava
lá pelo quinto andar aconteceu alguma
pane no sistema elétrico e,
repentinamente, todas as luzes ao redor
começaram a piscar. Numa fração de
segundo tudo escureceu e Fernanda viu-se
presa entre o sexto e o sétimo andar.
Fernanda conta que não sentiu pânico,
mas berrou e tocou a campainha de
emergência pedindo socorro. Conta também
que alguns minutos infindáveis se
passaram e nada acontecia. Mais alguns
segundos e tenta comunicar-se pelo
telefone celular, ao mesmo tempo em que
ouve vozes lá fora. É o zelador pedindo
para que se acalme, pois começaria
alguns procedimentos para retirá-la
dali. Fernanda pede que liguem para o
resgate a fim de que uma equipe
especializada possa executar o trabalho.
Essa equipe é acionada prevendo-se
demora de vinte minutos até chegar ao
local.
A temperatura começa a aumentar. O
zelador pede para que os moradores do
sétimo andar, com vão livre em relação a
porta do elevador a abrissem para que o
local pudesse ficar mais arejado. Para
surpresa de todos, havia apenas duas
crianças sozinhas no apartamento
esperando que os pais voltassem de algum
passeio noturno e, pior, os pais haviam
trancado o lado interno da porta do
elevador.
Neste meio tempo as crianças falam com
os pais e estes avisam onde teria uma
chave reserva. Ao abrirem a porta, por
um pequeno vão colocam um diminuto
ventilador e dão água através de um
canudinho para a Fernanda.
O tempo vai passando e já é mais de uma
hora de aprisionamento. Fernanda tenta
manter a calma e, morrendo de calor,
senta-se no chão do elevador tendo breve
sensação de desmaio. Sente forte calor
na região da nuca, mas mesmo assim se
mantém lúcida e resiste ao desmaio. Mais
vinte minutos e o resgate aparece
libertando-a. Fernanda revela que sai do
elevador sentindo forte cansaço e lembra
que o mais importante de tudo foram seus
imediatos sentimentos de fúria. Ao
ver-se em liberdade sai em disparada
subindo de elevador até seu andar
jogando-se exausta em cima da cama. Mais
alguns momentos, toma seu banho,
alimenta-se e vai dormir.
Dormiu tranquilamente e no dia seguinte
seguiu sua rotina costumeira. Entra no
elevador do prédio onde trabalha subindo
com mais pessoas. Para sua surpresa e
sem jamais suspeitar de que algo de
incomum pudesse ocorrer após este
incidente estressante, Fernanda, ainda
no elevador, é invadida por pensamentos
intrusos associados a sensações
desagradáveis. No momento em que o
elevador deu a partida começando a
subir, Fernanda foi acometida pelo
pensamento de: E se o elevador parar?
Daí, sentiu uma espécie de friozinho na
barriga... Saiu do elevador
esquecendo-se do ocorrido. Hora do
almoço, nova empreitada... Fernanda
desce de elevador e, novamente é
flagrada pelo mesmo tipo de pensamento e
sensação desagradável. Um medo...
Almoçou e esqueceu do ocorrido. Durante
toda a semana, sempre que entrou em
elevador a sensação e os pensamentos
ruins gradativamente foram se apossando
dela. Fernanda percebia algum calor na
região da nuca enquanto estava dentro do
elevador, calor da mesma espécie que
havia sentido quando ficou presa.
Fernanda nunca deixou de pegar elevador
e jamais optou por escadas, mas
sentia-se exausta em pensar de ter que
enfrentar tais sensações. Nessas
ocasiões os pensamentos começavam a vir
antes mesmo que pegasse os elevadores.
Para uma pessoa ativa como Fernanda,
isso era demais. Jamais havia tido
qualquer sentimento de pânico e agora
tinha consciência da sua fobia. Decidiu
não ficar passiva diante desses fatos e
foi em busca de um tratamento rápido e
eficaz que a libertasse desses sintomas
insuportáveis. Pesquisou alternativas
que pudessem ajudá-la e acabou por
encontrar o EMDR e o Brainspotting.
Fernanda, embora desconhecendo
totalmente a metodologia, questionava
como a mesma poderia desbloquear esse
momento incomodo e, mesmo assim, entrou
no processo.
Optamos desta vez por fazer o
Brainspotting.
Em meio a sons bilaterais acontece o
desbloqueio de imagens congeladas que na
maioria das vezes nem sabemos possuir.
Encontramos o ponto de impacto da imagem
perturbadora em seu cérebro e, a partir
desse ponto, com um sistema de
visualização e escuta dos sons
bilaterais, começamos com o
reprocessamento.
A imagem perturbadora escolhida por
Fernanda é aquela em que senta no chão
do elevador, sente o calor na nuca e a
sensação de desmaio e mal-estar. Faço
com que ela tire uma espécie de foto
mental do momento e me especifique
algumas coisas para que entremos mais
profundamente no momento do impacto e
possamos prosseguir na metodologia.
Tanto no EMDR como no Brainspotting, por
trabalharem com reprocessamento de
vivencias, é comum aparecerem imagens de
fatos ocorridas, fantasias, simbolismos,
sensações corporais e outros tipos de
pensamentos elaborados ou não.
Importante é desenvolver o
descongelamento de tudo que produz
sintomas desagradáveis na atualidade da
pessoa.
Logo de inicio, a Fernanda, que estava
no elevador quase desmaiando, vê-se numa
sala de parto. Observa de modo
surpreendente tudo o que havia na sala.
Não importa se é real ou não. O
importante é o contato com os seus
conteúdos internos e estes são sempre
verdadeiros. Fernanda vê uma mãe de
pernas abertas. Logo vê uma criança
tentando nascer e diz que sente tudo ao
mesmo tempo. Revela que a mãe, a sua
mãe, está como se fosse morta (ela
estava em depressão) e que parecia como
uma mãe morta. Revela ainda que ao
tentar nascer percebe que não terá quem
a acolha e, em tentativa desesperada,
volta para dentro de uma barriga ainda
quente e nutridora. O medico obstetra
percebe a situação do nenê entrando de
volta e fazendo um giro dentro da
barriga da mãe e, num ato instantâneo,
enfia a mão dentro da mãe virando
bruscamente o nenê, provocando seu
nascimento imediato. Nesse momento de
percepção, Fernanda sente novamente o
calor na nuca e diz que vai desmaiar.
Peço que entre em contato com as
sensações e Fernanda, imersa no pânico
da sensação, aos poucos vai se acalmando
até que olha para a sala de parto e diz
para a “mãe morta” que ela, Fernanda,
estava viva! E que tinha direito à vida
e estava feliz por estar viva. Na
sequência vai se lembrando de inúmeros
episódios de sua vida que refletem a
recorrência das mesmas sensações
primordiais provocadas pelo seu
nascimento. Lembra-se das inúmeras vezes
em que subliminarmente não se sentia
totalmente viva e a todo o momento vai
resgatando os fortes sentimentos de vida
e de liberdade que sempre possuiu dentro
de si. Vê cenas com seu pai, sua mãe,
familiares e amigos. Num dos episódios
sente-se abraçada pelo planeta e
emociona-se. No final do
reprocessamento, vê-se novamente dentro
do elevador, deitada no chão, quase
desmaiando quando duas pessoas aparecem,
com carinho, retirando-a do elevador
pelos braços. Diz que se sente acolhida
e amada nesse momento e ri quando
percebe que tal fato não ocorreu no dia,
mas estava acontecendo de modo muito
realístico nos procedimentos do
Brainspotting. Diz que sai do elevador e
que o dia está lindo, totalmente
ensolarado. Sente-se feliz. Pronta para
viver mais plena e, de modo que ainda
não sabe distinguir, bem diferente do
que tem vivido até hoje.
Fim do procedimento. Lembrando ser este
apenas um breve resumo de todo o
ocorrido durante o processo; depois
disso Fernanda foi convidada para descer
de elevador acompanhada e se sentiu de
modo bem diferente.
Após algumas semanas, Fernanda percebeu
existir um período de tempo neurológico
para sua nova situação de vida
assentar-se e percebeu que não estava
mais com fobia de elevador e se esqueceu
completamente desse assunto. Notou
também que todas as áreas da sua vida
estavam mais leves, mais vividas,
sentindo-se mais afetiva e mais amada
pelas pessoas do seu convívio.
Notem como uma situação de conflito
-quando resolvida-, pode transformar de
modo contundente todas as áreas da vida
da pessoa.
Esta é a realidade da eficiência dessas
novidades: o EMDR e o Brainspotting!
Não é EXCELENTE!?
Silvia Malamud é Psicóloga e atua em seu
consultório em São Paulo. Tel. (11)
9938.3142 - deixar recado. Autora do
Livro: Projeto Secreto Universos. Email:
silvimak@gmail.com