Considerações Sobre Sustentabilidade Corporativa e Green Supply Chain
Por Julianna Antunes
09/06/2010
Se pararmos para pensar no que o Relatório de Burndtland definiu como
desenvolvimento sustentável e olharmos para as necessidades corporativas
do século XXI, o conceito evoluiu consideravelmente. Satisfazer as
necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras
de suprirem suas necessidades é pouco. Para o mercado de hoje,
sustentabilidade é ter o negócio assegurado no longo prazo, aliado ao
valor de marca, onde ambos são impulsionados por estratégias que
impactam positivamente o meio ambiente e a comunidade na qual ele está
inserido.
Além de uma definição mais precisa para a sustentabilidade nas empresas,
segundo a Convenção de Mudanças Climáticas de 2007, estima-se que o
setor privado precise investir cerca de US$ 600 bilhões todos os anos
até 2030 para conter as emissões de carbono. Lidar com questões desse
pode ser uma grande oportunidade para empresas dos mais diversos setores
da economia. Uma empresa que pratica a sustentabilidade sabe que é
preciso disseminar o conceito para fornecedores, clientes e stakeholders
em geral. Permitir-se um olhar sustentável para questões atreladas a
recursos naturais, recursos humanos, mercado de capitais, consumidores,
regulamentações governamentais e influência de stakeholders faz com que
uma empresa estenda a sustentabilidade à sua cadeia de valores.
Quando falamos de uma empresa de serviços, a implementação dos conceitos
de sustentabilidade é mais simples. Neste setor da economia, onde o
impacto ambiental é bem menor, o ponto chave é o relacionamento com os
funcionários e fornecedores, bastante treinamento, comunicação
eficiente, criação de normas e procedimentos a respeito do tema, e, se
for o caso, adequação delas ao código de ética. No entanto, em uma
empresa com atividades industriais, a implementação é muito mais
complexa. A cadeia de valores é imensa e os impactos na cadeia de
produção são enormes. E por conta da complexidade, é justamente na área
de supply chain que encontramos o maior gargalo para a sustentabilidade.
Ou as maiores oportunidades, dependendo do ponto de vista. A área de
supply chain é fundamental para a sustentabilidade corporativa, pois
engloba diversos processos como compras, logística, estoque, manufatura,
entre outros.
Ela permite a utilização de tecnologias e processos avançados na gestão
de ativos físicos sustentáveis, como consumo racional de recursos
naturais, refrigeração e iluminação, tratamento de emissão de gases de
efeito estufa, além da gestão de resíduos, matérias primas etc. Para que
cadeia produtiva de uma empresa seja sustentável, é preciso ir além de
métodos e ferramentas específicas incorporados no processo tradicional
de supply chain. É preciso identificar novas soluções para otimização de
transporte, gerenciamento de estoques, gerenciamento de resíduos,
redução de desperdício, reciclagem, aumento de eficiência operacional,
logística reversa. Uma indústria que quer ser ou que diz ser
sustentável, necessariamente, tem de entender como funciona a sua cadeia
de suprimentos.
É preciso identificar o rastro de emissão de carbono nos processos
atrelados à industrialização de um produto, é preciso redesenhar o mapa
de entregas e a disposição dos centros de distribuição para um menor
consumo de combustível, é preciso identificar matérias primas que causem
menos impacto no meio ambiente ou processos de retirada delas menos
agressivos. E por aí vai. Mesmo que uma empresa invista em pesquisas,
recursos humanos, softwares e máquinas que permitam uma atividade
industrial mais sustentável, ela não pode negligenciar seus
fornecedores. É preciso um trabalho de parceria para que estes também
apliquem o conceito aos seus negócios. E deve ficar claro que para os
fornecedores a sustentabilidade não é uma opção, mas um imperativo.
Por isso digo que além de dinheiro, dos meios, da vontade e do material
humano disponível, é preciso coragem por parte dos gestores de supply
chain das grandes empresas. Coragem para eliminar fornecedores (muitas
vezes fornecedores globais) que não se enquadram nesta nova demanda dos
negócios. Coragem para eliminar, ainda que isso signifique deixar de
comprar a preços mais competitivos e, por consequência, arriscar bônus
anuais porque metas de redução de custos não foram alcançadas.
Julianna Antunes é Jornalista, corredora de alto rendimento físico e
baixo rendimento financeiro, pós-graduada em responsabilidade social
empresarial e diretora da Agência de Sustentabilidade, consultoria
estratégica de elaboração e implementação de projetos de
sustentabilidade. E-mail para contato:
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