O Desafio da Logística Humanitária e o nosso papel diante de grandes
desastres
Por Julianna Antunes
12/01/2011
Já tinha em mente escrever sobre o assunto há um bom tempo e dado os
acontecimentos das últimas semanas, nada mais oportuno que seja agora.
Os primeiros meses do ano no Brasil é a época em aumenta o volume de
chuvas e consequentemente aumenta o número de enchentes, tragédias e
dramas particulares. Aproveito para divulgar mais uma vez o Conhecer
para Sustentar, projeto da Fundação Bunge, que, em minha opinião, é o
caminho para que situações como essa sejam evitadas.
Mas independente do trabalho de prevenção, que obrigatoriamente deve ser
feito por todas as esferas governamentais e pela sociedade como um todo,
quando uma tragédia devasta uma região, uma força tarefa entra em ação
para que a ajuda chegue o mais rápido possível aos necessitados. E uma
das questões mais complexas a serem tratadas nesses casos é a logística.
Em novembro passado tive a oportunidade de conhecer dois papas da
chamada logística humanitária, José Holguín-Veras e Luk Van Wassenhove.
Veras, diretor do Centro para Infraestrutura, Transporte e Meio Ambiente
da Universidade de Rensselaer, está diretamente ligado com o trabalho de
logística do Haiti desde a época do terremoto. Já Wassenhove, diretor do
grupo de pesquisa humanitária do INSEAD, possui diversas linhas de
pesquisa voltadas para o tema.
O que ambos falam de cara, é que a logística humanitária é uma logística
diferente da empresarial e da militar. Quando se fala em custo, por
exemplo, o objetivo da logística empresarial é minimizar o custo
financeiro, enquanto que para a logística humanitária o objetivo tem de
ser o de minimizar o custo do sofrimento. Há, ainda, outras
particularidades que dificultam o processo, como o desconhecimento da
demanda, interações desestruturadas, o alto número de pessoas que tomam
decisões etc.
Um dos principais pontos nevrálgicos da logística humanitária é o
gerenciamento das doações, que acaba por impactar a cadeia como um todo.
A média histórica indica que por volta de 60% delas são inutilizáveis. O
problema é que elas acabam ocupando espaço nos estoques, muitas vezes
restritos, além de demandar força de trabalho, tempo e dinheiro que
poderiam ser utilizados em ações que fossem realmente efetivas para o
cenário de tragédia.
E muito do problema ocasionando pelas doações tem a ver com a gente,
sociedade. Há casos de doações de casacos pesados para países tropicais
e mesmo doação de smokings! Por isso deixo, mesmo sabendo que o tema vai
muito além de gerenciamento de doações, uma reflexão e uma pergunta: ao
conhecimento de alguma tragédia, seja local, nacional ou internacional,
o que podemos fazer para minimizar o custo desse sofrimento do que
apenas procurar em nosso armário alguma roupa velha para doar?
Julianna Antunes é Jornalista, corredora de alto rendimento físico e
baixo rendimento financeiro, pós-graduada em responsabilidade social
empresarial e diretora da Agência de Sustentabilidade, consultoria
estratégica de elaboração e implementação de projetos de
sustentabilidade. E-mail para contato:
sustentabilidade@sustentabilidadecorporativa.com -
www.agenciadesustentabilidade.com.br - Blog:
www.sustentabilidadecorporativa.com - Twitter: @sustentabilizar
Artigo Licenciado sobre uma licença Creative Commons - Atribuição - Uso
Não-Comercial - Não a obras derivadas 3.0 Unported License