Discutindo Sustentabilidade na Publicidade
Por Julianna Antunes
05/07/2011
Na última semana o que mais as pessoas me perguntaram foi o que eu
achava sobre as normas que o CONAR criou para a informação sobre
sustentabilidade na publicidade. No ano passado já havia escrito sobre a
pesquisa da Market Analysis que apontava que 90% das empresas não
entregavam o que prometiam nas embalagens quando o assunto era
sustentabilidade.
Não sei o que motivou o CONAR a criar essa série de normas, mas acho que
ela é fundamental. Só que acho que ela pode ir muito além do que vai. Um
dos pontos presentes na série é que, de acordo com o próprio órgão, a
publicidade veiculada no Brasil deverá comprovar suas vantagens
ambientais. Primeira questão: sustentabilidade não é meio ambiente.
Prosseguindo, o objetivo do CONAR é coibir a banalização do apelo
sustentável no marketing e reduzir o greenwashing. Segunda questão (que
eu estou careca de falar): processo x produto sustentável. Uma empresa
não é sustentável porque lançou um produto sustentável. O CONAR está
pronto para lidar com essa questão?
Porque falar que uma empresa é sustentável, ou melhor, fazer publicidade
em cima de um termo como sustentabilidade, que é tão genérico e
complexo, e punir quem comunica e não pratica é bem perigoso. Afinal, o
que o CONAR entende por sustentabilidade? É produto, é processo, é
produto e processo, é responsabilidade social/ambiental, ou filantropia
está valendo?
Tenho também outras dúvidas: como vai se dar a fiscalização disso?
Porque, pelo que sei, o CONAR avalia as propagandas através de denúncias
ou queixas da sociedade, da concorrência ou de alguma entidade que se
sentiu ofendida/incomodada com o que está sendo divulgado. Mas se uma
empresa coloca na embalagem ou anuncia na TV que aquele produto é carbon
free, como terei certeza de que ela realmente plantou as mudinhas?
E só para finalizar minhas primeiras impressões, qual seria o escopo
exato da série de normas? É verificar veracidade, exatidão, pertinência
e relevância apenas do conteúdo da sustentabilidade exposto pela empresa
na embalagem/propaganda ou também punir aqueles artifícios sórdidos do
marketing, que atrela a ação sustentável à compra do produto?
Pergunto isso, pois recentemente tomei conhecimento da campanha da
Danone onde, na compra de um produto da marca, ganha-se sementes e ainda
ajuda a reflorestar a Mata Atlântica. Sendo que, neste caso, não estamos
falando de marketing de causa, de processos, de produto e nem sei se é
filantropia. Porque na minha visão, é apenas uma ação de marketing que
usa a sustentabilidade como escudo para aumentar vendas e, pior, tem
como objetivo atingir as crianças.
Enfim, louvável a iniciativa do CONAR, mas há ainda um longo caminho a
ser seguido e muitas questões a serem esclarecidas. Mas fico
extremamente feliz em saber que o primeiro passo foi dado.
Julianna Antunes é Jornalista, corredora de alto rendimento físico e
baixo rendimento financeiro, pós-graduada em responsabilidade social
empresarial e diretora da Agência de Sustentabilidade, consultoria
estratégica de elaboração e implementação de projetos de
sustentabilidade. E-mail para contato:
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www.agenciadesustentabilidade.com.br - Blog:
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