O Esgotamento de uma Nova Geração
Por Ivan Postigo
23/01/2011
Quem teve oportunidade de ocupar um posto gerencial nas décadas de
setenta e oitenta conviveu com altos índices de inflação e uma ciranda
financeira que não deixou saudades a qualquer gestor.
Índices e mais índices eram consultados e utilizados no dia-a-dia para
cálculo de custos e tabelas de preços. Apesar da dedicação dos
profissionais, importavam muitas vezes aos tomadores de decisões, mais
os fatores de correção que as técnicas contábeis mais apuradas.
Pelo menos duas décadas foram fortemente afetadas e induziram muito
profissionais ao estudo dos malabarismos econômicos.
Findo esse período, muitos desses profissionais estavam encerrando
carreiras, por vontade própria ou por exclusão do mercado, sem poder
absorver e contribuir com a mudança que o mercado estava experimentando
nas técnicas e conceitos de gestão.
Com a queda da inflação a gestão financeira foi substancialmente
facilitada, contudo isso não gerou especialistas no controle do caixa
das empresas e nem na preparação de projeções e estabelecimento de
metas. Ao contrário, vê-se uma desatenção significativa num volume
substancial de organizações.
O advento da microinformática e das planilhas eletrônicas proporcionou
enorme facilidade para elaboração de cálculos matemáticos e financeiros
sem igual, permitindo que o tempo para elaboração de trabalhos mais
complexos fosse reduzido em pelo menos cinco vezes.
Ganhou-se na velocidade de elaboração e perdeu-se ainda mais o foco de
análise dos problemas.
Muitos setores das empresas foram enxugados, restando cabeças ótimas
voltadas ao desenvolvimento matemático da questão, mas com um menor foco
na validação dos valores.
A geração que estava saindo pouco aprendeu das novas técnicas fornecidas
pela informática e a geração que estava chegando pouco pode aprender
sobre validação de valores.
Quem participou da transição e foi capaz de entender, adaptar-se e
utilizar as novas facilidades teve ganhos significativos, porém não sem
transitar por incontáveis softwares (planilhas eletrônicas).
Do início da década de oitenta até os dias de hoje pode-se contar com
não menos do que 10 tipos de planilhas que entraram e saíram de moda.
Quem transitou por esse período vai se lembrar do Visicalc, Calcstar,
Omnicalc, Lótus 1 2 3, quatro-pró, entre outros, até chegar ao Excel dos
dias atuais.
O avanço da informática é o lado interessante da questão, mas e o custo
padrão, que fim levou?
E os estudos de tempos e movimentos, racionalização de tarefas, redução
do tempo de trabalho, do desperdício, deixaram de ser importantes?
A globalização não exigiria uma atenção maior com nossos meios de
produção? A obsolescência hoje em dia não acontece num ritmo maior do
que há vinte anos?
Quando o tempo deixou de ser um fator importante no processo produtivo?
Os encargos sociais hoje não são maiores do que há vinte anos, então por
que a variável tempo não merece a mesma atenção e consideração do
passado?
As técnicas contábeis ainda são as mesmas, nossos balanços ainda têm
ativo e passivo, os resultados ainda são apurados de acordo com as
partidas dobradas, assunto tabu para quem não estudou contabilidade,
então por que a tão sonhada contabilidade gerencial ainda não é uma
realidade como instrumento de gestão?
Empresas utilizam os recursos contábeis mais para atender os preceitos
fiscais do que para gerenciamento dos negócios.
O fim ciclo inflacionário é que levou a esse desinteresse nos conceitos
fundamentais de gestão ou estamos observando o esgotamento de uma
geração?
Ivan Postigo é Economista, Bacharel em contabilidade, pós-graduado em
controladoria pela USP. Autor do livro: Por que não? Técnicas para
estruturação de carreira na área de vendas e diretor da Postigo
Consultoria de Gestão Empresarial - Fones (11) 4526 1197 / ( 11 ) 9645
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