ISO 26000: a tão aguardada norma de responsabilidade social
Por Julianna Antunes
14/07/2010
Apesar de a sustentabilidade ter muitas normas, certificações e padrões
de relatórios, há alguns bons anos está em processo de lançamento da
norma mais aguardada pela comunidade que trabalha com responsabilidade
social corporativa, a ISO 26000. Digo alguns bons anos, pois, que eu me
lembre, já tinha promessa de que em 2008 ela estaria pronta. Diferente
da série ISO para o meio ambiente, ela tem caráter meramente normativo,
não fornecendo certificação para a empresa ou órgão que decidir
adotá-la.
Não sei exatamente quando a ISO 26000 será lançada, a última data
informada foi dezembro de 2010, que já não é garantida, mas desde seu
primeiro esboço ela está cercada de controvérsias. Para começar, muitos
alegam que ela não tem nada de diferente, pois o conteúdo que ela propõe
abordar nada mais é do que uma mistura da AA1000 com o GRI e SA8000.
Outros acreditam que a International Organization for Standardization
estaria extrapolando seu conhecimento e legitimidade ao propor a criação
de um padrão global de responsabilidade social corporativa.
Independente do que e de como ela abordará a questão da responsabilidade
social, o processo de elaboração da ISO 26000 conta com um aspecto
inovador, e talvez por isso a demora em seu lançamento, já que diversos
segmentos da sociedade participam de sua articulação. Num processo
chamado multistakeholder, a elaboração da norma é liderada pelo Brasil e
pela Suécia, onde mais de 400 experts de mais de 70 países formam grupos
de trabalhos.
Os grupos de trabalho são compostos por dois tipos de delegação: as
nacionais e as D-liaison. As delegações normais são formadas por
stakeholders como trabalhadores, consumidores, indústria, governo, ONGs,
consultores e academia. As delegações D-liaison são organizações
internacionais de extrema relevância, como a OIT, GRI, OMS, UN-Global
Compact, OCDE, entre outras. Aqui no Brasil, por exemplo, o Instituto
Ethos faz parte como D-liaison da Rede Interamericana de
Responsabilidade Social.
Dentre as decisões tomadas ao longo dos anos de discussão, as principais
resoluções são de que a ISO 26000 não terá propósito de certificação,
não terá caráter de sistema de gestão, não reduzirá a autoridade
governamental, será aplicável a qualquer tipo e porte de organização,
enfatizará os resultados e melhorias de desempenho, prescreverá maneiras
de se implementar a RS nas organizações e promoverá a sensibilização
para a Responsabilidade Social. Além disso, ela abordará os seguintes
temas: governança organizacional, direitos humanos, práticas de
trabalho, meio ambiente, práticas justas de operação, questões do
consumidor, envolvimento e desenvolvimento da comunidade.
Não sigo de perto o que vem acontecendo nos grupos de trabalho ao longo
desses anos, mas conheço algumas pessoas que fazem parte das delegações.
Curiosamente elas têm sentimentos contraditórios em relação à ISO 26000.
Enquanto os membros da academia são grandes entusiastas, o pessoal de
empresa não demonstra muita animação não. Por que será, não é mesmo?
Julianna Antunes é Jornalista, corredora de alto rendimento físico e
baixo rendimento financeiro, pós-graduada em responsabilidade social
empresarial e diretora da Agência de Sustentabilidade, consultoria
estratégica de elaboração e implementação de projetos de
sustentabilidade. E-mail para contato:
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