A (ir) responsabilidade dos stakeholders
Por Julianna Antunes
14/09/2010
Já falei aqui sobre a importância das empresas saberem quem são seus
stakeholders, onde estão e como cada um deles impacta a sua operação e
mesmo estratégia. Sem contar a necessidade de se manter um bom
relacionamento e de tê-los como parceiros, não como adversários.
Stakeholders, muitas vezes, têm um arsenal “bélico” poderoso, capaz de
simplesmente acabar com um negócio.
Quem não se lembra do que aconteceu na Escola Base em 1994, quando os
donos, dois funcionários e dois pais de alunos foram acusados, sem
qualquer prova, de abuso sexual das crianças? A mídia,
irresponsavelmente, se aproveitou de um delegado que queria seus 15
minutos de fama e destruiu a vida de seis pessoas.
O episódio da Escola Base é extremo, mas dentro do mundo corporativo é
possível ver casos parecidos, com empresas tendo grandes prejuízos ou
simplesmente sumindo do mapa por conta da insensatez de certos
stakeholders. E isso não é tão raro não. Quantas vezes não vimos
fazendas produtivas e que geram riqueza para o país sendo invadidas pelo
MST?
Um episódio bem grave aconteceu em 2006, quando o Instituto Observatório
Social (IOS) denunciou que a Minas Talco, empresa exploradora de minério
de talco em Ouro Preto (MG), utilizava mão de obra infantil.
Imediatamente após a denúncia, clientes como Faber Castell e Tintas
Coral suspenderam seus contratos com a mineradora. O caso, inclusive,
teve repercussão internacional.
A Minas Talco desde o início negou a acusação. Uma Audiência Pública da
Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas apurou
que as denúncias eram infundadas. Apesar do pedido, o IOS, ONG ligada à
CUT, se recusou a retificar a matéria. O resultado? Deem um Google e
procurem saber o que aconteceu com a empresa.
Acho fundamental para a democracia que existam ONGs que fiscalizem
empresas, que a mídia exerça seu papel de informar e que, ao menor sinal
de má conduta, denúncias sejam feitas. No entanto, um princípio básico
da ética e da responsabilidade pede que qualquer denúncia, antes de
feita, seja devidamente apurada. Esse é o mundo ideal, que, como mostrei
aqui, nem sempre acontece.
Por via das dúvidas, mesmo agindo corretamente, é muito mais seguro que
uma companhia saiba de verdade quem são seus stakeholders (por mais
distante que possam parecer) e mantenha um bom relacionamento com eles.
Neste exemplo da Minas Talco, uma empresa de pequeno porte, será que um
dia seus gestores pensaram que o IOS, cuja principal função é avaliar o
comportamento das multinacionais em relação aos direitos dos
trabalhadores, poderia impactar o seu negócio? Fica a lição.
Julianna Antunes é Jornalista, corredora de alto rendimento físico e
baixo rendimento financeiro, pós-graduada em responsabilidade social
empresarial e diretora da Agência de Sustentabilidade, consultoria
estratégica de elaboração e implementação de projetos de
sustentabilidade. E-mail para contato:
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