Lições de Sustentabilidade para o Futebol
Por Julianna Antunes
25/05/2011
Há muito venho pensando em escrever sobre isso, mas lendo a coluna do
Renato Maurício Prado ontem, tive a motivação que faltava:
“Vale a pena vender jovens como Maicon, Allan e Wellington Silva (além
dos laterais gêmeos, do Manchester United) e contratar veteranos como
Deco, Beletti, Emerson, Souza, Araújo etc?”
Todos sabem que gestão esportiva no Brasil é praticamente piada. E
quando o assunto entra no futebol, mais ainda. Não vou escrever sobre
gestão de clubes esportivos, pois isso já falei no white paper “Esporte
e Sustentabilidade – uma perspectiva para o Brasil além da Copa do Mundo
e dos Jogos Olímpicos”. Meu objetivo aqui é tentar falar da visão dos
departamentos de futebol no Brasil.
Esse exemplo do Fluminense é um dentre milhões de absurdos que acontecem
diariamente no nosso futebol, fazendo com que, em longo prazo, a sua
gestão seja insustentável e caríssima. Neste caso específico ele vendeu
joias a serem lapidadas e injetou no clube, a peso de ouro, jogadores
consagrados, mas com vida útil relativamente pequena.
Com essa tática, o Fluminense foi campeão brasileiro depois de, sei lá,
quantos anos. Acalmou uma torcida que há muito cobrava o título máximo
do futebol brasileiro e deixou o patrocinador nas nuves. Não que com o
meu time (Flamengo) e outros a história seja diferente. Aliás,
contrariando a premissa que sempre permeou o clube – craque o Flamengo
faz em casa – me digam quantos jogadores formados na base foram campeões
em 2009?
Sei que quando se fala na instituição futebol, a pressão por resultados
em curto prazo é absurda, sem contar que é um setor movido à base da
emoção. Quem são os presidentes de clube se não, primeiramente,
torcedores apaixonados? É claro que em uma empresa a visão de curto
prazo é bastante parecida, mas é mais fácil entender que sem pensar nas
gerações futuras, o risco de fechar as portas é grande.
Tenho um exemplo no esporte que já entendia na época e, hoje, falando de
sustentabilidade faz ainda mais sentido. Quando eu jogava basquete nas
categorias de base e acompanhava o esporte com mais afinco, o Botafogo
colocava um misto das equipes infanto e juvenil para participar do
campeonato estadual adulto masculino, já que o clube não investia em
esporte olímpico profissional.
No primeiro ano o Botafogo foi o saco de pancadas. Mesmo perdendo de
muito, as derrotas e o volume de jogo davam experiência para os atletas
em suas respectivas categorias. Que eu me lembre, o time nunca foi
campeão estadual. Mas depois de alguns anos, tornou-se competitivo,
mesmo botando em quadra jogadores 10, 15 anos mais novos que os das
demais equipes. E poderia ter aproveitado muito mais e ido muito mais
longe se tivesse boa gestão do clube no geral, mas isso é outro caso.
Trazendo o exemplo para o futebol, é claro que a realidade é
completamente diferente, principalmente por conta do dinheiro que
circula nesse mundo e do assédio de empresários e clubes do exterior. É
claro que patrocinador quer associar sua imagem a um time vencedor,
independente de onde vieram os atletas que fazem parte da equipe. Sem
contar, ainda, as próprias características de gestão do futebol que são
bem diferentes das outras modalidades.
Mas independente das especificidades de cada esporte e, mesmo sendo uma
realidade um tanto quanto diferente do mundo empresarial, não é preciso
pensar muito para chegar à conclusão que vender jogadores de alto
potencial aos 18 anos e contratar atletas acima dos 30 não é nenhum
pouco sustentável, mesmo que em curto prazo apresente bons resultados.
Julianna Antunes é Jornalista, corredora de alto rendimento físico e
baixo rendimento financeiro, pós-graduada em responsabilidade social
empresarial e diretora da Agência de Sustentabilidade, consultoria
estratégica de elaboração e implementação de projetos de
sustentabilidade. E-mail para contato:
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