Os Limites da Sustentabilidade
Por Julianna Antunes
14/10/2009
Mesmo com toda a dificuldade de se implementar a sustentabilidade em uma
empresa, o conceito acaba apaixonando. E apaixona tanto que é comum
exagerar a dose e não saber onde parar. Essa dúvida envolve a área como
um todo, atingindo projetos administrativos e os que envolvem o próprio
negócio. Nos projetos administrativos as questões são mais simples.
Aparentemente.
Há certa simplicidade quando se estabelece como meta a reciclagem de
100% do papel utilizado. Quando falamos em reciclar, em jogar o material
na lixeira correta, o sucesso da ação está relacionado à postura e
educação das pessoas. Uma boa gestão da mudança é capaz de lidar bem com
a resistência que possa surgir.
Mas e quando estabelecemos a meta de eliminar o uso de copos de
plástico, por exemplo? Nesse caso, estamos falando só de postura e
educação? É claro que podemos (e devemos) conscientizar os funcionários
a utilizarem suas próprias garrafinhas. Mas quando um cliente, um
fornecedor, ou visitante vai à empresa, o que fazemos? Pedimos para
trazer seu squeeze? Adotamos o copo de vidro, que acarretará maior gasto
de água?
E quanto aos processos de negócio, até onde se deve ir? Dois exemplos
críticos são a gestão de stakeholders e a avaliação do rastro de
carbono. No caso dos stakeholders, a pergunta-chave é: como satisfazer a
todos sem prejudicar a empresa? A resposta: praticamente impossível. Por
isso é necessário criar um ranking que dê parâmetro para a empresa na
hora de se relacionar com o seu público de interesse.
Para elaborar esse ranking é preciso mapear todos os stakeholders da
organização. Com o mapa, cria-se uma matriz de priorização que
contemple, principalmente, o poder de influência, a legitimidade do
relacionamento e a urgência das demandas de cada um dos stakeholders.
Com o resultado, é possível identificar os que mais impactam o negócio e
a partir daí acompanhá-los mais de perto.
No que diz respeito ao rastro de carbono, o processo é ainda mais
complexo. Uma empresa realmente sustentável não analisa apenas o seu
rastro, mas sim o de sua cadeia de valor estendida, ou seja, inclui-se
também a operação dos fornecedores e o descarte final do produto. Uma
das ferramentas mais úteis para o processo é a LCA (Life Cycle
Assessment), que trata da avaliação do ciclo de vida de um produto.
A LCA permite o desenvolvimento de um auto-retrato ambiental e maneiras
de reduzir os danos causados. No entanto, o uso da ferramenta não é
simples. Sem limites para a análise, a LCA pode sair do controle. Em
contrapartida, conhecer profundamente a sua cadeia de valor pode gerar
vantagem em relação à concorrência. Mas como agir, ou melhor, até onde
se deve ir com essa análise? Bom senso e o bom uso do Princípio de
Pareto (80% do trabalho advém de 20% dos problemas) podem ajudar.
A questão é que no que diz respeito à sustentabilidade, nem sempre é
viável fazer o melhor. Um procedimento vai levando a outro, e a outro, e
a outro... e, em pouco tempo, o que era para ser simples, ganha
proporções incontroláveis. É preciso ter em mente que às vezes fazer o
possível, com resultados concretos, tem muito mais valor do que tentar
fazer o máximo e não conseguir passar do planejamento.
Julianna Antunes é Jornalista, corredora de alto rendimento físico e
baixo rendimento financeiro, pós-graduada em responsabilidade social
empresarial e diretora da Agência de Sustentabilidade, consultoria
estratégica de elaboração e implementação de projetos de
sustentabilidade. E-mail para contato:
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