Mais considerações sobre Greenwashing
Por Julianna Antunes
30/06/2010
Ontem uma leitora deixou um comentário no blog com um link para matéria
que saiu no Estadão no dia 28 de junho com o seguinte título: “Empresas
e governo descumprem promessas de reflorestamento”. Na matéria, os
jornalistas Gabriela Moreira e Felipe Werneck apontam o apelo
publicitário que a compensação das emissões de carbono vem ganhando por
parte das empresas e da prefeitura do Rio.
Por conta dos jogos pan-americanos de 2007, o governo do Rio de Janeiro
se prontificou a plantar 100 mil mudas de árvores nativas da Mata
Atlântica. Em matéria institucional com data de 2008, o projeto é
divulgado como um sucesso. O único problema é que as mudas simplesmente
não foram plantadas! A Secretaria Municipal de Meio Ambiente joga a bola
para a Petrobras, que seria a parceira no projeto. A Petrobras afirma
que aguarda definição da prefeitura e do governo para um novo
cronograma.
Nove meses atrás, quando o Rio foi escolhido sede das olimpíadas, a
secretária de meio ambiente do estado, Marilene Ramos, anunciou o
plantio de 24 milhões de mudas até 2016. Nada aconteceu nesse meio
tempo, com o agravante de que, sequer, existem mudas e sementes no
mercado suficientes para uma empreitada dessas.
A matéria também cita uma ação da rede de postos Ipiranga, que em
propaganda prometia neutralizar todo o gás carbônico que o combustível
do carro dos clientes lançasse na atmosfera. Os próprios consumidores se
queixaram ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária
alegando que a propaganda era enganosa e deseducativa. Inclusive, quando
a empresa lançou essa promoção, foi muito criticada porque ao invés de
fazer o seu dever de casa, que seria a sustentabilidade em seus
processos de negócio, preferiu uma ação externa, já que, claramente, o
marketing dá muito mais retorno.
Outra empresa citada na matéria, a Vale, fez campanha publicitária
agressiva sobre ter zerado o seu rastro de carbono. Já critiquei aqui a
forma tendenciosa de como ela divulga essas informações. De qualquer
maneira, em 2007 a empresa anunciou o plantio de 346 milhões de árvores
até 2010. Alguns meses depois, o prazo foi revisto para 2015 (alguém viu
alguma campanha informando o novo prazo?) e passados três anos, menos de
10% do prometido foi feito.
É importante ressaltar que, além de queridinha do Carbon Disclousure
Project, a Vale acabou de ganhar um prêmio no GRI Awards em relação ao
seu relatório de sustentabilidade de 2009. Agora pergunto: quem é o
responsável pela auditoria desses relatórios que premia empresas que
claramente não cumprem o que dizem fazer? Será que foi o mesmo que
auditou a BP e considerou o seu relatório como o melhor do mundo?
Julianna Antunes é Jornalista, corredora de alto rendimento físico e
baixo rendimento financeiro, pós-graduada em responsabilidade social
empresarial e diretora da Agência de Sustentabilidade, consultoria
estratégica de elaboração e implementação de projetos de
sustentabilidade. E-mail para contato:
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