O que faz um projeto social / ambiental ser sustentável?
Por Julianna Antunes
01/07/2009
Hoje é muito comum entrarmos em sites corporativos e encontrarmos link
para projetos sociais e ambientais que as organizações realizam. É quase
que uma obrigação ter esse tipo de informação acessível ao público. Nos
relatórios (balanços) sociais a sensação que temos é de estarmos diante
de empresas perfeitas que não medem esforços nem recursos financeiros
quando o assunto é compromisso sócio-ambiental. Nada mais que marketing.
Infelizmente. Mas o assunto aqui não é esse.
Independente da motivação que leva uma empresa a adotar a
responsabilidade social e ambiental, existe um grande caminho a ser
percorrido para dizer que ela executa projetos sustentáveis. Mesmo
estando alinhados ao planejamento estratégico, ao ISE e aos processos de
negócio, os projetos, ainda assim, podem não ser sustentáveis. E aí vem
a pergunta-título: o que faz um projeto social/ambiental ser
sustentável?
Não saberia dar uma definição exata, mas darei um exemplo que talvez
ajude a esclarecer. Suponhamos que uma indústria vai se instalar em uma
cidade e começa a fazer as obras para a construção da planta. Isso gera
bastante impacto e a empresa realiza diversos projetos tanto para
mitigação dos impactos ambientais, quanto sociais, já que a fábrica está
sendo construída próxima a uma comunidade.
Pois bem, geralmente a mitigação ambiental não tem muito que se discutir
até porque é lei. Além da questão do meio ambiente é preciso lidar com a
possibilidade da comunidade do entorno sofrer de um inchaço
populacional, com pessoas vindas de diferentes cidades e estados,
atraídas pelas oportunidades geradas com a instalação da fábrica na
localidade. E se a questão não for cuidada com atenção, pode virar um
grande problema para a empresa.
Assim, pelo lado social, é comum que a empresa firme parceria com a
comunidade, seja contratando na localidade mão-de-obra para serviços
menos especializados, seja transformando pequenos empreendimentos locais
em fornecedores. Também é muito comum a realização de projetos voltados
para crianças e adolescentes, seja de cunho esportivo, cultural ou
educacional.
Agora pensemos: executar todos esses projetos custa dinheiro. Muito
dinheiro. E é um dinheiro que terá de ser gasto enquanto a empresa
estiver ali instalada. Mas e se um dia a empresa resolver tirar a
fábrica daquele local? O que vai ser daquela comunidade? Além de colocar
um sistema econômico local em colapso, a saída da fábrica também pode
colocar um sistema social em colapso. Trágico? Não, apenas a realidade.
Lembremos a definição de desenvolvimento sustentável presente no
Relatório de Brundtland: “a satisfação das necessidades presentes, sem
comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias
necessidades”. Ou seja, comprometimento com o longo prazo. É isso que
caracteriza um projeto social/ambiental sustentável.
E no caso da empresa que criou toda uma cadeia produtiva e de valor no
entorno da sua fábrica? Como poderia garantir a continuidade dessa
cadeia produtiva e de valor se a responsabilidade da empresa acaba com a
saída da fábrica do local? Como deveria ser a condução dos projetos ao
longo dos anos de forma que eles fossem sustentáveis e a descontinuidade
da fábrica gerasse o mínimo de impacto para a comunidade?
Será que se ao invés de formar uma rede de fornecedores, não seria mais
interessante (e sustentável) estimular o empreendedorismo, capacitando e
auxiliando a comunidade na gestão de um negócio onde a fábrica fosse
apenas mais um cliente? Será que ao invés de absorver a mão-de-obra não
qualificada necessária, não seria mais sustentável qualificá-la para que
pudesse ser utilizada não apenas na própria fábrica, mas também em
outras empresas? Será que não é melhor adotar uma postura de coadjuvante
no processo econômico do local do que a de protagonista, como sempre
acaba sendo feito?
A construção e a operação de uma fábrica foi apenas um exemplo de como
um projeto pode (e deve) ser sustentável. Na verdade, a grande pergunta
que deve ser feita é qual o intuito de se gastar muito dinheiro nesses
projetos se a empresa não oferece às comunidades do entorno a
possibilidade de no futuro “caminhar com as próprias pernas”. Não seria
mais inteligente, mais digno e até menos oneroso (porque a tendência
seria a comunidade depender cada vez menos dos recursos da fábrica) se
fosse feita uma abordagem mais sustentável?
Creio não ter respondido a pergunta-título deste texto. Pelo contrário,
acho que lancei mais questionamentos ao invés de propor uma definição
concreta. Mas esse era o intuito. As empresas têm suas próprias
necessidades e cabe aos gestores das áreas sociais e ambientais
procurarem um equilíbrio dentro do tripé da sustentabilidade de forma
que a execução dos projetos seja satisfatória para a corporação e para
as comunidades impactadas no longo prazo.
Julianna Antunes é Jornalista, corredora de alto rendimento físico e
baixo rendimento financeiro, pós-graduada em responsabilidade social
empresarial e diretora da Agência de Sustentabilidade, consultoria
estratégica de elaboração e implementação de projetos de
sustentabilidade. E-mail para contato:
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