Um Olhar Mais Profundo sobre a sustentabilidade nas empresas
Por Julianna Antunes
22/09/2010
Sempre fico preocupada quando vejo que cada vez mais é senso comum que
produtos sustentáveis, necessariamente, devem ser mais caros. Brinco
dizendo que o dono do Mundo Verde é o culpado disso. Em alguns casos o
processo de sustentabilidade realmente encarece o produto. Mas na
maioria das vezes o que acontece é que fabricar um produto sustentável é
apenas mais um dentro de um vasto portfólio de empresas que continuam
sendo administradas da mesma maneira.
O grande problema, na verdade é que optar pela sustentabilidade é muito
mais do que fazer projetos sociais em comunidades e entregar ao governo
relatórios ambientais. Optar pela sustentabilidade é, antes de tudo,
fazer uso de um novo modelo administrativo.
Clareando as ideias. Vamos pensar, não sei se já escrevi isso no blog,
em quando os japoneses vieram com uma coisa estranha chamada sistema de
qualidade. Além de causar espanto na época, foi o que alçou o país ao
status de estrela da era da produção. Alguém hoje pensa em uma indústria
que não faça uso dos princípios de qualidade? Por um acaso é vantagem
competitiva uma empresa dizer que seu modelo de operação segue esse
padrão?
Assim como o sistema de qualidade trouxe um novo modelo de
administração, a sustentabilidade também chega propondo uma gestão
diferente. Um modelo que terá de ser aprendido por bem ou na marra. E
pelo que observo, infelizmente as empresas estão deixando para aprender
na marra. Mas enfim, o que a proposta da sustentabilidade tem de tão
diferente do que é praticado nos dias de hoje?
Se alguém se dispuser a ler alguns dos textos que publiquei aqui nesse
ano e três meses, encontrará a proposta desse novo modelo de
administração. Para entenderem onde quero chegar, deixo uma pergunta:
como seria a administração de uma empresa num mundo onde a matéria prima
é cara e escassa? E quando falo matéria prima, falo também daquelas que
as empresas costumam não pagar, como a água, por exemplo.
O X da questão está na miopia organizacional, que nos dias de hoje faz
com que a maioria esmagadora das companhias enxergue sustentabilidade,
no máximo, como produto (quando não custo). Na verdade a
sustentabilidade é processo, que ainda pode ser visto como vantagem
competitiva, mas que, espero, mude de cenário em breve. Ou seja, que se
torne senso comum nas empresas.
Pensemos na tecnologia. Não deixa de ser uma inovação (de processo, não
de produto) e pergunto: o produto que é gerado pelas máquinas
ultramodernas é mais caro que os que ainda advêm de equipamentos
“obsoletos” ou as empresas se baseiam em um ganho que vem pela escala ou
pela redução de custos?
E aí eu pergunto: o que falta para encararem a sustentabilidade da mesma
forma que a qualidade foi vista no seu início e é vista hoje? O que
falta para as empresas colocarem a sustentabilidade como protagonista
dos centros de inovação? Por que se preocupar tanto em desenvolver
tecnologias cada vez mais caras para, por exemplo, extração de petróleo,
quando o futuro, obviamente, está nas energias renováveis? E a pergunta
do milhão: por que, diabos, um produto sustentável tem de ser mais caro?
Incompetência administrativa ou a ganância de sempre?
Julianna Antunes é Jornalista, corredora de alto rendimento físico e
baixo rendimento financeiro, pós-graduada em responsabilidade social
empresarial e diretora da Agência de Sustentabilidade, consultoria
estratégica de elaboração e implementação de projetos de
sustentabilidade. E-mail para contato:
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