Pintando o Marketing de verde
Por Jorge Barros
01/08/2013
Será que é realmente válida esta economia verde, que vem sendo pregada e
defendida política e organizacionalmente em todo o mundo? Não podemos
negar a importância de se substituir recursos escassos para processos
produtivos, bem como garantir que estes processos sejam mais "limpos" e
possibilitar que os produtos, ao chegar no consumidor, gastem pouca
energia. Mas de que adianta o ar condicionado moderno consumir 50% menos
energia, se seu volume de vendas triplicar?
Aí está o ponto: no comportamento consumista da sociedade. Da
sociedade?! Ah... deixemos pra lá a terceira pessoa. É o nosso
comportamento! Somos nós quem queremos comprar mais e mais. Recentemente
li o artigo "Não Basta Pintar de Verde", da Darcy, editado pela UnB
(http://www.revistadarcy.unb.br/?page_id=1573) que deixa claro: se não
modificarmos nossos hábitos de vida e de consumo desenfreado, a economia
verde não vai muito longe. Inevitavelmente os recursos se esgotarão
independentemente do quão ecologicamente corretos forem os processos
produtivos. Investir 1 ou 2% de faturamento em iniciativas de
sustentabilidade não vai adiantar, ainda mais se a maioria delas estiver
focada em certificação, apresentação de relatórios e busca de um
"selinho verde". É preciso investimento consistente e genuíno, na coisa
certa.
E onde é o lugar certo para se investir? Na minha opinião, no mesmo
processo que estimula o consumismo e cria o desejo (às vezes impulsivo)
no comprador: o Marketing. Se é o Marketing que tem o poder de nos
convencer de que precisamos comprar algo que talvez, racionalmente, não
acharíamos necessário, então é também o Marketing que exerce a
capacidade de nos influenciar para o consumo consciente, para o desejo
de contribuir à preservação do nosso sistema. É missão do Marketing
reverter este cenário.
Mas não é utópico pensar que empresários e CEOs se convencerão a
determinar que o Marketing de suas organizações desestimulem o consumo?
Pode ser que sim, mas lembremos que até pouco tempo atrás propagandas de
cigarros eram frequentes e comerciais de cerveja nunca nos pedia
moderação. Se ficar claro o fato de que continuar com o comportamento
consumista implicará, não apenas no temido câncer de pulmão, mas também
no fim da saúde de todo um sistema, talvez comece a fazer sentido pensar
nesta "utopia".
Pra mim, o marketing do futuro é o Marketing Verde. Não um "marketing
verde" de fachada, que sugere produtos que desgastam menos o meio
ambiente, porém estimula a comprar mais e mais. Isso não é
sustentabilidade. Mas o marketing do futuro terá a coragem de estimular
o consumo verdadeiramente apropriado a cada pessoa. Ficará claro que
esta é a única forma, inclusive, de garantir o dinheiro para a
sustentação financeira do negócio, não pelo retorno imediatista, mas
através da sobrevivência do consumidor, que depende da preservação deste
ambiente para continuar comprando. E você, o que acha?
Jorge Barros é especialista em marketing, formado em Gestão de Negócios
pela Unesp e pós-graduado em Administração de Serviços pela USP. Foi
gerente de marketing e eventos da revista Publish, coordenador de
eventos da ABTG e atua no marketing digital e de relacionamento da
Bridge, na prestação serviços e soluções em desenvolvimento humano.